quinta-feira, 22 de agosto de 2013

FILHOS DO GOVERNO

Diante da violência dos Agentes de Segurança em Unidade da Fundação CASA, sinto e penso ser importante publicar trecho de um livro escrito pelo Educador Roberto da Silva, atualmente livre docente na Faculdade de Educação da USP, Autor do Livro: Os Filhos do Governo. Neste, o autor, com o qual tive a grata satisfação de cursar Introdução à Pedagogia Social, nos indica alguns procedimentos jurídicos e administrativos que, por um lado, são necessários para a devida reparação histórica e, por outro, deveriam constituir-se em medidas preventivas para proteção da criança e do cidadão gente ao Estado.


1 – Pessoas, cujo nome, sobrenome, idade, local e data de nascimento foram estabelecidas em sentença judicial ou por procedimentos arbitrários, precisam ter a possibilidade de corrigir estes dados, se algum constrangimento lhe causa;

2 – Crianças que foram internadas com irmãos e /ou irmãs e posteriormente separadas, perdendo a possibilidade de contato e, com isso, tendo rompido os seus laços familiares, precisam ter assegurado o direito de acesso aos seus registros de modo a reconstituir esses laços, sem prejuízo de ação indenizatória contra o Estado, se caracterizada a responsabilidade dos agentes institucionais nas medidas que resultaram na desestruturação familiar;

3 – Crianças que ainda, em tenra idade, foram submetidas a processos de institucionalização capazes de desestruturação da personalidade e que, posteriormente, tiveram comportamentos criminosos em função da submissão a tais processos, sobretudo pela internação junto com infratores, tem o direito de acionar o Estado quanto à sua responsabilidade;

4 – Pais que tenham sido destituídos do direito de pátrio poder em benefício do Estado, cujos filhos tenham sido internados até a maioridade e submetidos a processos capazes de desestruturação da personalidade e que posteriormente tiveram comportamentos criminosos em função da submissão a esses processos, tem o direito de acionar o Estado quanto à sua responsabilidade;

5 – Pais que tenham sido destituídos do direito de pátrio poder em relação aos seus filhos, cuja tutela tenha sido formalmente assumida pelo Estado através de sentença judicial que eventualmente venham a falecer e sofre grave lesão que resulte em incapacidade permanente ou temporária, tem o direito de acioná-lo quanto à sua responsabilidade;

6 – A sociedade e o Estado tem a obrigação moral de verificar junto ao sistema penitenciário o percentual de filhos do governo, ali recolhidos, avaliar individualmente, cada situação e indultá-los, oferecendo-lhes possibilidades de (re)construírem suas vidas dignamente e em liberdade.

Roberto da Silva, em Filhos do Governo

Por
Gilson Reis

22.08.13

6 comentários:

  1. Comentário de um amigo, enviado por email

    Gilson, é um discurso muito bonito contido no livro de Roberto Silva. O interessante seria que esses "anjinhos" fossem morar com muitos que os defendem e veem como seres indefesos. A atitude dos agentes é o retrato da revolta geral da população diante da extrema impunidade gerada por essa visão equivocada de observar esses bandidinhos como "criancinhas". Lamento dizer, mas a ideia de "criancinhas" indefesas como mostrada nas imagens não são um terço do que esses bandidinhos são capazes de fazer com as vítimas deles.
    Nossos tubarões estão famintos, e esses "anjinhos" seriam ótimas comidas para eles. Seria isso crime ambiental?!!!
    Cuidado com os anjinhos!!!
    todos nós podemos ser vítimas deles.
    Navalha na própria carne dói, nobre amigo!!!!
    e como diz o ditado popular: "pimenta no ___ dos outros é refresco" Deus me livre e me guarde desses "anjinhos"

    abs

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  2. Oi mininu!

    Não consigo imaginar uma sociedade saudável em que um ser humano tenha que responder aos atos violentos dos outros com espancamento. Imagine uma sociedade sem lei que regule nossos limites? Os adolescentes autores de ato infracional estavam na "prisão", para onde todos que cometem ato ilícito devem ir. Até ai tá normal, apesar de muitos acharem que os adolescentes não são punidos. Mas como não são se estão "presos"? E ainda "presos" tem que ser vítimas de agressores (O que vc propõe a estes animais agressores? Prêmio Nobel da PAZ? Teriam algum mérito ou são tão nocivos quanto esses "bandidinhos"?
    Quando alguém vai para a "prisão" - uso este nome para deixar mais claro que os adolescentes são punidos sim!! - supõe-se que é para se regenerar! ou não? se não for, então o Estado joga lá dentro para devolve-los mais nocivos! E se o Estado não faz um processo de regeneração, então... de quem é a responsabilidade? Bem, pelo teu comentário estou quase certo que não é para tratar de forma a regenerar, talvez, matar?
    Mas... pena de morte não vai ser pra todos, cê sabe né? Se alguem da tua familia matar vai morrer, mas se algum vizinho teu mais abastado matar, advogados irão encontrar maneira de salva-lo...
    Delicado heim!

    Eu prefiro não defender a violência com a violência! Coloca na "prisão", ok, mas pra educar, coisa que o Estado não tem feito por ignorar o meu, o teu e o nosso direito e nos dá uma escola sem qualidade, não construir espaços de cultura, esporte e lazer, profissionalização, Nas periferias... é tanta coisa que precisamos de férias juntos para continuarmos a conversa

    Esqueça esta história de "anjinho", nós defensores da infância sabemos que não o são, por isso vão para a "prisão" cumprir "pena" pelo que fazem. Pena que quem está lá pra educar são tipos violentos que tambem deveram estar cumprindo pena nas penitenciarias...

    Em quem podemos confiar meninu!??

    Cheiro
    Gilson

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  3. Não sei quem é o digníssimo anônimo que escreveu este texto, prefiro comentar este do que o do Roberto Silva, que sabe muito bem o que escreve por ter experienciado. Ontem ouvi de uma colega de trabalho, que tem menos tempo de Fundação do que eu, "gosto de ver pessoas que mesmo tendo vivido tantas coisas na fundação, não perderam a sensibilidade, ainda trabalham por amor à causa de menores infratores". Realmente, uns trabalham pelo 5º dia útil, nem percebem que o produto do seu trabalho é um ser humano que o próprio nem procura saber quem é, sua história e tudo o que ele conseguiu ser até esta tão pouca idade, outros adoecem de tanto dar murro em ponta de faca com este sistema falido que tenta educar sem as condições possíveis para seu trabalho. Cada um de nós tem o olhar que consegue ter para tal situação... Vamos conhecer sem julgar, pois julgamento nem mesmo os juízes conseguem fazê-lo com justiça e clareza. A história já mostrou e continua mostrando que violência gera violência...

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  4. Diante disso, depois de um bom tempo sem escrita, saiu isso:

    Extinção
    25/08/13
    Chiquinho


    Mata!
    Mata a dor!
    Recolhe teu penar!
    Fere com faca, com bala, com mira,
    Com teu cuspe e a com a língua que igualmente mata como fera!
    Arma-te como animal intrínseco na carne rubra de ardil cólera!
    Mata! Extirpa! Arranca-lhe o fígado negro como vingança!
    Estanca o sangue de teu ódio e de tua dor com o sangue pisado do ventre alheio!
    Mama-lhe o escárnio fétido de armada revolta!
    Conjuga-lhe versos grotescos e pecaminosos!
    Rejeita-lhe com olhar de júri atento ao merecido castigo!
    Devora-lhe o livre arbítrio e recolhe-o à masmorra da própria consciência!
    Sobretudo, acenda tua espada flamejante de vingança e cega justiça!
    Mata-lhe a alma fria de tanta maldade!
    E te junte aos bons, posto que lá seja o lugar dos justos...

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    Respostas
    1. Arrebatador.
      Li arrepiado desde o primeiro verso
      Cheiro de saudade de suas intensidades poéticas

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