Fitou seu olhar no
trinco carcomido de seu objeto transcendente.
Naquele instante súbito, de
paisagem obscura e clara, obscuramente clara, duvidou da real capacidade de
traçar o seu olhar na arquitetura insética que contrastava com as relíquias
delicadas de uma arquitetura sagrada e, portando, inviolável.
Um silêncio
sobre-humano se instalou no espaço restrito entre aquela escultura ameaçada de
sua condição psíco – escultural - humana e o seu objeto transcendente. As
lágrimas, como que em expectativa, estancaram por sobre a pele encharcada
daquele ser que, metamorfoseando-se, conduzia sua mão ao trinco envelhecido e
esquecido...
Os casulos se
avolumavam por entre as frestas que separavam as relíquias, inúmeros deles se
agitavam dando vida às larvas que se multiplicavam por entre as circunferências
dos vasos vermelhos. Baratas em tamanhos variados circulavam ligeiras e mansas,
por entre as circulações coaguladas dos organismos relicários. Teias, teias,
teias se entrecruzavam no labirinto de uma construção suicida, completa de
vazio, ainda que super-habitada por arquitetas meticulosas, empreendedoras e
auto destrutivas.
Teias, teias, teias,
teias, animais artrópodes, tudo e tudo, presença e presença, completude e
completude...
- Carne viva!! Olha tua carne viva!!!!
...no entanto, nada,
ausência e vazio.
Um
último pedaço de escultura se dissipou por sobre o chão úmido, de coloração
avermelhada e quase negra. As relíquias de seu objeto transcendente eram
consumidas lentamente desde as fases mais sublimes de onde se gerou o sublime e
hoje corroído relicário.
Aquele
trinco carcomido foi tocado apenas uma única vez...
Aquela
porta nunca mais foi aberta.
Gilson Reis
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