quinta-feira, 10 de outubro de 2013

CARNE VIVA! OLHA TUA CARNE VIVA! Parte final


Fitou seu olhar no trinco carcomido de seu objeto transcendente. 
Naquele instante súbito, de paisagem obscura e clara, obscuramente clara, duvidou da real capacidade de traçar o seu olhar na arquitetura insética que contrastava com as relíquias delicadas de uma arquitetura sagrada e, portando, inviolável.

Um silêncio sobre-humano se instalou no espaço restrito entre aquela escultura ameaçada de sua condição psíco – escultural - humana e o seu objeto transcendente. As lágrimas, como que em expectativa, estancaram por sobre a pele encharcada daquele ser que, metamorfoseando-se, conduzia sua mão ao trinco envelhecido e esquecido...

Os casulos se avolumavam por entre as frestas que separavam as relíquias, inúmeros deles se agitavam dando vida às larvas que se multiplicavam por entre as circunferências dos vasos vermelhos. Baratas em tamanhos variados circulavam ligeiras e mansas, por entre as circulações coaguladas dos organismos relicários. Teias, teias, teias se entrecruzavam no labirinto de uma construção suicida, completa de vazio, ainda que super-habitada por arquitetas meticulosas, empreendedoras e auto destrutivas.
 
Teias, teias, teias, teias, animais artrópodes, tudo e tudo, presença e presença, completude e completude...


- Carne viva!! Olha tua carne viva!!!!

...no entanto, nada, ausência e vazio.

Um último pedaço de escultura se dissipou por sobre o chão úmido, de coloração avermelhada e quase negra. As relíquias de seu objeto transcendente eram consumidas lentamente desde as fases mais sublimes de onde se gerou o sublime e hoje corroído relicário.

Aquele trinco carcomido foi tocado apenas uma única vez...
Aquela porta nunca mais foi aberta.


Gilson Reis


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