domingo, 28 de maio de 2017

CHEIRO DE SAUDADE

AO MEU QUERIDO NALDO.
Cheiro de Saudade.

Ta tudo bem por ai?  Aqui, meu amigo, a vida anda a mil. 5 anos já se passaram e tantas vidas já acenaram distantes... vejo nas mãos que acenam uma ponte que nos separa, mas que nos une. Ah, antes que eu esqueça, vai que a emoção toma conta de minha alma e eu esqueça, não é? Então, nosso Belchior também já fez a travessia. Eita que nem imagino como a roda de violão ta boa em algum espaço que nem acreditava, mas que agora deve ocupar algum pedaço transparente no universo, ou fora dele. Algum pedaço do mistério que eu só passei a esperançar depois de ti.

“Ouvi dizer num papo da rapaziada que aquele amigo que embarcou comigo, cheio de esperança e fé, já se mandou...” Foi no dia 30 de maio que Belchior cantou outra vez este verso e a minha emoção toda pediu licença à racionalidade pra velar a vida atravessada.


Estava revendo suas fotos ao som de Hallelujah, de Leonard Cohem. Foi sublime o instante de dar vida às imagens como se elas se sobressaíssem da tela e tomasse corpo, se enchessem de lágrimas, e gritassem, e gargalhassem...e fizessem caretas... e ...contassem estórias e ... inventassem causos e ... saltassem no ar desordenadamente... eu senti o cheiro do vinho quando ficávamos embriagados de poesia nas noites e madrugadas regadas à poesia... eu senti medo dos teus malabarismos arriscados, mas desprovidos de teus receios em coordenar o movimento de teu corpo..    eu senti o cheiro da água de mar que te carregavas num barco...o barco, é pra mim, como o teu colo que te pega e te atravessa. Eu também senti o cheiro do peixe que comias ao redor de uma família ribeirinha, simples, como era simples a condução que davas à existência. 


Imagine, eu corri contigo por entre a paisagem verde e cinza do campus da USP, namorei a negra maluca da janela, arrisquei até dar pinotes! Eu orei em Tupi Guarani-Kaiowá... Sim! Eu senti o cheiro das pólvoras que se espalhavam depois de um festival de fogos à beira mar, ali, eu, você, Rosinha, Antônio, Laudecir, Mauro, Valteir. Ah!! E antes que eu esqueça, meu mestre Naldo, o nosso amigo Laudecir agora também é mestre. Mais um negro Mestre. Você teria adorado dar aquele abraço nele todo arrodeado de gente que tem o maior orgulho dele.

É amigo, olhar tuas fotografias não é um experiência desprovida de sentido, é uma vivência engravidada de sentimentos. Não se pode olhar tuas imagens sem que a alma toda se sacuda e o coração invente uma outra forma de bater.

Por aqui, meu amigo, as tuas bandeiras de lutas estão sangrando. Eu me batizo a cada vez que revejo a tua foto onde entregas toda tua alma e se jogas na contramão da autoridade policial que te sufoca o pescoço. Era a primeira greve da USP contra descaso do Serra em relação à Educação. Sim, naquela imagem eu me vejo renovando o compromisso de olhar o humano na sua integridade. 


Esses dias houve um massacre de indígenas durante protesto pela volta da demarcação de terras, e muitos deles, vulneráveis, precisaram ser socorridos após caírem em meio a bombas lançadas pela PM. Na Cracolância, usuários de drogas estão sendo varridos como lixos, agora se concentram na Praça Princesa Isabel e ali, numa praça com tal nome, concentram-se centenas de negros ainda escravizados. Bela carta de alforria senhora Princesa!! Teu povo agora grita Fora Temer, pois ele e sua quadrilha deu um perverso golpe na Primeira mulher a presidir o Brasil. Lembro de você, que também é mulher, todo orgulhoso quando ela chegou no Poder. Por aqui Naldo, a palavra que tomou conta de nossas salivas é corrupção.


Mas cê sabe né, agente se refresca com outros jeitos de sentir a vida, por que somos tão vitais e nos amamos como quem sente a vida na sua plena eternidade. E ai agente, vez em quando, se encontra pra dizer uns aos outros o quanto a amizade é preciosa. Esses dias estava numa festa cigana e nosso amigo Spel perguntou: Vocês estão gostando meus amigos? Eu disse: Sim! Mas chega um tempo em que há tanta preciosidade em estar com os amigos, que as festas tornam-se meros detalhes, cenário, ilustrações pra o que há de mais sublime. E naquele instante, foi natural sentir que ali estavas... Pois é cara... agente se encontra cada vez que que a beleza resolve dizer que ainda ta ali, discreta e sensível.

Ah! E antes que eu me esqueça, rs rs rs, acho que to ficando meio esquecido... você adoraria tomar um chá com os amigos na Chácara dos cheiros, é um novo cantinho nosso, um lugar pra agente dizer, em meio à natureza, na companhia dos pássaros, o quanto nos amamos e o quanto sentimos saudades uns dos outros.

Saudade de tu, visse?!
A vida vai melhorar!
Depois te conto.


Eternamente...

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

MENSAGEM DE FIM DE ANO E DOS DIAS SEM FIM...

Algumas palavras ficam impregnadas em nossa mente, os pensamentos se norteiam através delas e as atitudes podem ser influenciadas por ela. O que fazer com a palavra CRISE? Prontamente parece nos remeter ao financeiro, afinal 2016 não foi fácil neste campo. 

Há crise que nos amarga, mas há também a que nos potencializa. Talvez, mais que nunca, estamos diante da emergência de uma revolução na forma de amar! Começando pelas relações mais próximas, ali, no seio familiar onde os laços são eternos, mesmo em estado de crise. Não há crise que rasgue e queime a certidão de nascimento familiar! Não há crise que corte os laços fortemente amarrados ao longo da história.

A crise que nos amarga é aquela que nos arranca os SONHOS! Quando os temos. A crise que nos potencializa é aquela que nos arranca do vazio para nos preencher de conflitos e enxergarmos que é preciso sonhar! O que nos potencializa é a FAMÍLIA. Êita palavra antiga! mais velha que a arte de dar nomes às coisas. Quando a crise de sonhos nos afeta é preciso a clareza de se ter uma Família que na sua diversidade também nos põe em crise pra nos potencializar.

“Que a família comece e termine sabendo aonde vai”. Com isso não se exige de nós um alto grau de perfeição humana, um conhecimento absoluto das direções da vida, mas um determinado nível de planejamento de nossos sonhos, ainda que as crises se encarreguem de nos afrontar e construírem rotas diferentes.


A crise que nos potencializa é aquela que nos carrega para um colo cuidadoso, onde nos encontramos, mesmos perdidos. Como numa estrada em que nos descobrimos em direções opostas às que traçamos, mas logo descobrimos que é ali que a novidade acontece! Família é essa direção desencontrada cheia de caminhos por onde trilhar. Não vou me furtar de dizer um grande clichê: “Família é tudo”. É onde os sentimentos mais nobres se alojam, nem sempre expressos da maneira mais livre possível. Mas é onde o sentir é uma vivência das mais verdadeiras.

Família é onde o tempo se finca de maneira mais longínqua, desvelando verdades com medidas equilibradas ou por vezes em estado de desequilíbrio. A vida toda de uma família é palco onde os sentimentos se desnudam e onde os sonhos (quando os temos) se comungam.

Portanto nos cabe cuidar da nobreza de se estar em família! Em seu seio não cabe crises de sentimentos geradores de um estado de graça. Não permitamos brechas para crises de AFETO! Afeto é gesto nobre que não cabe dentro de um divã. Não permitamos brechas para crises de AMOR! Amor é sentimento afetuoso que desabotoa camisas de forças! Não permitamos brechas para crises de ESCUTA! Escuta é gesto amoroso como colo que embala e se deixa molhar pelas lágrimas que do outro se despedem.  

Que as crises de 2016 sejam adubadas com afeto, amor, escuta e sonhos...

E que 2017 seja um tempo de novas sementes dialogando no mais profundo da terra, organizando-se para subirem à superfície e olharem o mundo com olhos iluminados, famintos de esperançar! Sim... de esperançar! Sem medo de aparecer enquanto broto, de crescer e de gerar vidas engravidadas de sonhos... por que precisamos tê-los.

Cheiro de Família, de Afeto, de Amor, de Escuta e de Sonhos gestados.

Gilson Reis
29.12.2016


segunda-feira, 25 de abril de 2016

HOMENAGEM AO AKINS KINTÊ


http://www.doladodeca.com.br/v0/wp-content/uploads/2010/08/akins-kinte.jpg


Gosto de homenagear os amigos! Estão vivos, podem se deliciar do que falo, com “questionável” modéstia dizerem: Ah! Bobagem, não é nada disso, você é que é uma “gracinha”! Gosto de dizer o que sinto. Sem autenticidades inconvenientes!

Minha mais recente homenagem foi ao Laudecir, ocasião em que me deliciei com o grito de suas veias poéticas! Arranquei delas todas as expressões dedicadas ao querido amigo.  

Hoje eu homenageio este Poeta Negro que, ao recitar, embeleza as palavras cujo tom casa-se com seu sentido, na sua mais perfeita harmonia. O aprecio recitando! O vejo tatuando a paisagem com seus versos! É como se, ao lançar versos para alem de sua boca, construísse uma paisagem à sua frente, para o deleite de quem os ver.

Este é o Akins Kintê.

Obra apreciável da “família” Coletivo Cultural Pegando o Gancho. Família é um sentimento que ele nutre pelo Coletivo, o que lhe torna ainda mais nobre. Quando se adota uma família é por que a liberdade e o afeto foram sentimentos construídos historicamente. Diferente da família onde nos descobrimos parte.
Brilha na sua simplicidade!

Canta ao recitar... recita quando canta. Nele há um misto de alma e corpo, razão e emoção que se embalam na sintonia entre o som que se despede de si para encontrar-se com os amantes e o olhar que agasalha o mesmo brilho simples e que se firma como uma ponte entre os seus olhos e os de quem o aprecia.

Quando cordialmente “cola” no sarau Pegando o Gancho, alforria os corpos mais encouraçados com sua poética erótica! Poe os versos para dançar! Dignos de aplausos! Abraça! A...Fe...tu...o...sa...men...te. Rir! Compartilha lágrimas! Liberta outras!...

Ao querido Akins, a merecida homenagem do Coletivo Cultural Pegando o Gancho

Gilson Reis, Laudecir Silva, Marli Pereira, Luiza Odete e todos os amantes da POESIA.

No mês de aniversario do Coletivo Cultural Pegando o Gancho, continuarei homenageando os amantes da Poesia.

Gilson Reis
04.10.12

25.04.2016
Nova publicação

terça-feira, 1 de dezembro de 2015

MARLI

Fala sério se não é massa ter uma amiga de verdade!!!
Ah! eu me deleito nisso!
Deleite é um tipo de gozo em que o gozador, ou deleitador, se lança por entre as curvas do vento e até mesmo o vento entra neste estado de graça.

Graça é uma experiencia de sentimento que extravasa a alma! É como se a alma saisse em correria para o nada, por que onde não há nada é que existe a perspectiva de gerar tudo... 

é... 
por que onde há tudo eu não me caibo mais.


65 anos é pouco para esta mulher caber! 
Ainda leva alma e corpo na direção do nada e eu fico, numa contemplação graciosa e aguçada pra viver do gozo que a mesma sente. As vezes gozo junto e é de um orgasmo que arranca a pele do corpo e a renova. Que veste a alma de nova aura e vai alimentando o nada...


Marli: A mulher do ano!
Título que só pode ser outorgado a quem sente a alma pulsar e se delicia com ela através do corpo que canta, dança, fala, grita, escuta, ama, libidinosamente...

Tenho 45 anos, 20 a menos que tu. E quero continuar mergulhando no nada contigo pelos anos que desejares, ainda que não queiras viver para sempre... como eu quero.



65 cheiros e seus respectivos aromas...


Gilson Reis
01.12.2015

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

LAMA

(Em memória das crianças mortas pelo homem através da lama...)




De tua lamas
Gritam vozes infantis
Mamãe! Mamãe! Tenho medo...
Gemem as dores enlameadas
Choros engolidos
E lágrimas endurecidas
De tuas lamas a navalha
Cortando a alma
Lama que me cobre a face
Arrasta de tuas infelizes infâncias
A  impureza dessas larvas frias
Arranca de teu ventre
As  dores dessa mãe que jaz, viva
Vomita de teu estômago hostil
Os dejetos mortos  que eu quero
Enterrar!!
Eu quero enterrar!
Eu quero enterrar!
Não deixeis jogados neste mar fedelho
As esperanças deleitosas dos agonizados
Nem expostos ao vento inerte
Os corpos ainda salivantes de desejos
Oh! Fé, transformada em fel
Fé simples, Simplesinha
Junta essas lágrimas enrijecidas
Ao sangue quarado de teus inocentes
E nos pôe no  colo...
E nos faz ninar...
E nos acalenta...
Nos acalenta...
Gilson Reis
                                                                         22.11.1