sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Cidade de contrastes. 100 trastes. Sem trastes...

Caros amigos,
tendo participado do memorável sarau no La Campesina Restaurante e Café, no último dia 28 de janeiro, tive o respaldo dos presentes para republicar meu poema sobre São Paulo, acrescido de alguns bairros, que foram visitados por ocasião da leitura dramática feita em várias bibliotecas, pelo grupo de teatro do Oficina, Uzyna Uzona.
Dedico a todos sertanejos paulistas e paulistanos, a agradável experiência.

Meu amor por São Paulo é brincalhão,
como a própria cidade.
Ela é de 25 de janeiro, 25 de março, 7 de abril,
23 de maio, 9 de julho, 7 de setembro,
15 de novembro.

Minha cidade é de Aquário.
E muitas águas: Água Fria, Água Funda, Água Rasa.
Fica Interlagos.
Para desembocar tem o Tietê do Agreste e o A-nhan-ga-baú da Felicidade.

Minha cidade é do Perus! Da Penha, da Lapa, de Pirituba do Jaraguá, do Jaguaré.

Contém o feitiço de todas as vilas: Maria, Mariana, Clarice, Guilherme.

Tem nomes esquisitos: Sapopemba. Pimba!!!
Itaquara, Jabaquera,
perdão:
Itaquera, Jabaquara...

Terra de todos os santos: Amaro, Miguel, Santana, São Paulo.

Itaim, eu fiz tudo prá você gostar de mim...
Assustou-se. Buuuu...tantã. Tá todo mundo louco, oba!!!

Minha cidade que não pára, é Oficina.
O Uzyna fez de São Paulo uma zona...
Zona Norte, Zona Sul, Zona Leste e Zona Oeste.
Cruz bendita de integração, que culmina na Sé.
É só.

quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

"DOTÔRA" E PARTEIRA! Oxiii!!

Você é daquelas pessoas que vivem de dedos cruzados à espera de algo inusitado? Eu nao, acho que o inusitado só tem sentido se eu não esperar. Se minha irmã Ceça comunga da mesma hóstia de seu irmão, acho que a hora dela chegou!!
Pois é! Veja que maimota curiosa!

Menina vumo pra casa! Chama o motorista que tô sentindo dor! Um banho fresco confiando no “puder” das águas é sempre bem vindo nestas horas!. Vai passar. ViiiiiiiiiiiiiiilLLLLde!!!!!!!! Um grito não é simplesmente um grito, é uma chama pegando fogo!! Corre!!! Chega Ceça! Mulé levanta o vestido! Viche Maria tá coroando! Olha a cabeça! Aaaaaaiiiiiii minina!! Olha a cabeça! Heim! Heim! Ooooolha!!

E agora?!!
E agora?!!
E agora?!!

Corpinho nos braços a Ceça era só sentimento. O que eu faço? Menina, o que eu faço?  O que eu faço gente?!!!!!! Liga pra Nadeja! Tonho criatura teu filho nasceu! Bruno! Cida! Liga pra Nadeja!! Oi Nadeja! Menina, pega o cordão! Gente, pega o cordão!!! Dá uma laçada e pucha pela cabeça! Como?? Pegue o cordão e dê um nó! Cadê o cordão gente!!? Um cordão! Oxii!!! Uma imbira! Cordão! Oxente! Ceça! É o cordão umbilical menina! Aaiiiiiii meu Deus! Vai, fala Nadeja! Me dá tesoura. Tome! Algodão! Tome. Ceça, amarra o cordão umbilical com o umbigo. Corta! Como assim Nadeja!? Amarra um palmo! A placenta já saiu! Credo! Sei não! Já! Não! Sei lá mulé! Ceça! O que Nadeja!? Bota essa mulher na ambulância e vai pra maternidade!

Minha querida irmã deu uma de “Dotôra” pode!? Quando me contou essa proesa me disse que isso tudo aconteceu extamente no dia em que ela defendeu sua tese de Doutorado. Gente simples, sua vizinha agora mãe de novo, há de ter acreditado que se ela já é “dotôra” então já está aprumada pra fazer um parto. E assim aconteceu...

Causos de minha gente...

Ceça, parabéns pelo título merecido! Defender uma tese talvez não seja tão diferente de fazer um parto, afinal a tese é como se fosse uma filha...
Gilson Reis
02.02.2012

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

DEPOIS

Renascer é encontrar,
de novo,
o teu sorriso, os teus olhos.
Sonhar, nas madrugadas de lua,
ouvindo a música das estrelas.
Sentir a esperança nova
dentro da vida, antiga.
Perceber, na tua presença,
a ausência da incerteza.
Descobrir-nos grandes
para construirmos ideais.
Mas, muito pequenos
para sermos sozinhos...
e felizes!

Dagô

segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

REFLEXÃO DA MÚSICA TRAVESSIA DE MILTON NASCIMENTO SOB A LUZ DE W. D.WINNICOTT

Foto: Caminho para Al Aquiaca - Argentina


Hoje estou postando um texto de certa forma longo, mas fala de um grande problema de saúde da contemporaneidade: a depressão. Espero que gostem e entendam.




O Tema melancolia é explorado por várias áreas do conhecimento humano, mas é nas artes onde mais concretamente percebemos esse movimento que Milton Nascimento descreve com tanta sensibilidade.
A música inicia-se num momento de despedida, parece que alguém muito amado de certa forma desapareceu. Morte? Separação? Não daria para saber, mas sentimos com clareza que alguém partiu e deixou o outro sozinho, sobrou então um grande vazio: “Quando você foi embora, fez-se noite em meu viver”. Neste momento, parece que se instala um clima de introspecção para o personagem, como se ficasse a beira de uma paisagem olhando o infinito sem ver nada. O autor nos passa a sensação de que tudo terminou. A vida parece que perdeu seu significado, aquilo que dava sabor e alegria ao personagem, não há mais cores em sue cenário..
O personagem reconhece que tem forças para lidar com essa situação, todavia elas não lhe são suficientes para conter suas emoções: “Forte eu sou, mas não tem jeito. Hoje tenho que chorar”. Ele se deixa levar pela melancolia que está sentindo, não cria defesas para isso, causa a impressão de que vai entrando num clima de luto e sofrimento e expressas suas emoções.
Neste momento inicial, não fica claro se ele se questiona sobre as causas de todo esse desconforto, ele simplesmente vai vivendo as emoções conforme elas vão surgindo. Ao passo que esse processo vai se instalando, o personagem se vê sem nada e sente-se perdido “Minha casa não é minha e nem é meu esse lugar”. Passa a nítida impressão de que vai entrando em processo de luto, que tem que se despedir de suas próprias coisas, do lugar onde está quase como uma pessoa perdida onde tudo é desconhecido e se sente sem referências. Agora sim percebemos que o luto é instalado.
Do ponto de vista de Winnicott, esse processo é um bom indicador, na medida em que futuramente vai mostrar a força de seu EGO, o personagem tende a se encontrar. Para Winnicott esse é o valor do EGO, acercar-se de dar um valor a essa melancolia que vem sentindo e que está envolvido. O personagem mostra-se maduro, assume embora inconsciente, os riscos do sofrimento. Esse momento é visto por Winnicott como “aquisição do crescimento individual”, que decorreu no seu processo de desenvolvimento.
No momento auge do seu estado, ele diz: “Estou só e não resisto, muito tenho pra falar”. O personagem permite ser tomado com toda força por seus sentimentos melancólicos e quer contar o que aconteceu, falar sobre suas dores. Esta é a solidão de um melancólico, todavia ainda existe alguém para quem ele possa falar, o sentimento de estar só é muito forte, ele demonstra que ainda há esperança pra que tudo se resolva. O falar ajuda o personagem assumir ainda mais esse processo. Quando falamos o que sentimos, de certa forma assumimos isso pra nós mesmo e para os outros, neste sentido não são apenas palavras ao vento, são expressões carregadas com os sentimentos do interlocutor.
Assim é nosso personagem, ele faz um movimento de quem quer sair da situação, dá um grito pedindo ajuda - “tenho muito pra falar”, basta que tenha alguém que consiga ou – de conta – de ouvi-lo. Winnicott entende isso como uma indicação de que a estrutura do EGO suportou uma fase tão cheia de crise e um grande passo a ser dado para a integração do EGO, começa, dentro de uma possibilidade de resignificação, um movimento de reavaliação de sua crise.
O nosso personagem continua com seu grito, agora de outra forma: “solto a voz nas estradas, já não quero parar”, está determinado a continuar com esse pedido de ajuda com certa dose de enfrentamento. Podemos pensar que para Winnicott, o nosso personagem ainda não está com seu EGO rompido é percebido através humor que ele apresenta nesse momento, por isso ele pode manter uma estrutura como um baluarte. Está envolto de muitos sentimentos, sente que, (seu) “meu caminho é de pedra”, o que significa uma compreensão que sua vida emocionalmente está difícil, uma estrada repleta de buracos e curvas fechadas, onde não se pode ver o que há do outro lado. Portanto, é fazendo a curva que vai se descobrindo e encontrando algo que ainda não se sabe o que é, mas de certa forma já se é esperado porque existe um significado implícito nesse momento depressivo, numa história onde se encontra amor e ódio, ambos trancafiados em algum lugar onde nem mesmo o nosso interlocutor sabe onde está. Seria, pois, o inconsciente?
Enredado nesse processo, como o personagem poderá sonhar com algo considerando sua própria história? Por isso ele diz: “como posso sonhar”. Fecham-se as possibilidades e nada mais tem sentido. Se antes seu EGO apresentava certa força, neste momento ele está enfraquecido. Para Winnicott o sonho também indica a força do EGO. Logo, não podendo sonhar, onde e como ele poderá encontrar essa força? O percurso que irá fazer vai aos poucos mostrando o caminho para encontrá-lo. Essa parece uma oscilação experimentada pelas pessoas que enfrentam esses estados.
Nosso personagem encontra-se numa alameda escura e sem saída, pois se refere aos seus sonhos como: “sonhos feitos de brisa, ventos vem terminar”. Curiosamente o vazio se instala numa experiência aparentemente destrutiva, o personagem forma uma idéia que sugere uma descontinuidade, tudo acabou! “vou fechar o meu pranto, vou querer me matar”. É um momento de grande angústia sentida pelas pessoas que passam por tudo isso.
Para Winnicott, as oscilações de uma depressão, quando ela se apresenta com mais ou menos intensidade, significa que o EGO passou pela crise e não se rompeu. Nosso personagem decide, então: “Vou seguindo pela vida me esquecendo de você”, ele num súbto se alavanca, cresce, levanta, amplia a percepção de seu estado, é um primeiro sinal do processo de elaboração. Decide não mais pensar, nem sentir as coisas passadas, como se fosse possível, mas torna-se real quando os sintomas não mais o ataca. Ele de tanto falar já recordou, já esteve onde seu sofrimento mais foi intenso e por isso inicia um caminho contrário – da libertação.
Essas últimas linhas da música “Eu não quero mais a morte, tenho muito que viver. Vou querer amar de novo e se não der não vou sofrer”, desenvolve-se indicando a saída que ele arrumou para escapar da depressão e quanto a isso, Winnicott refere que a pessoa que passa pelo processo pode, então, sair bem mais fortalecida, pois vivenciou história que a faz sentir-se mais forte, ainda mais do que antes, desde que ela se sinta liberta. O EGO está novamente integrado e o nosso personagem mais amadurecido.
Tudo passou como uma tempestade foi como uma TRAVESSIA que o personagem teve que executar, agora ele pode contar com o seu próprio braço para seguir sua vida e como diz Carlos Drummond de Andrade: “A dor é inevitável. O sofrimento é opcional”.


Reinildo de Souza.

domingo, 29 de janeiro de 2012

PAULICÉIA



Vendo-te, assim, tão de perto

Percebo-te alheia, caótica e solitária,

Apesar dos fortuitos olhares da turba à tua sombra.

Contemplo-te, na tua imperfeição reluzente.

Tuas cicatrizes gigantescas,

Teus arranha-céus impávidos,

Estendidos pela orla cinzenta de tuas nuvens.

És amor e és ódio.

És poesia e és cólera.

És contradição.

Então, tudo se admite na congruência de tua essência metropolitana.

Tuas impurezas.

Discrepâncias.

Demências.

Belezas roubadas.

Construções perenes daqueles que te habitam e devoram.

És a razão de fortunas e de infortúnios.

És o vintém de quem te mendiga.

Consolida-te em memórias e em grotescas modernidades.

Moras nos palácios, nos becos, nos morros...

Escondem-te em escadarias, viadutos, em barracos e em papelões.

Ditas regras nefastas, no entanto, acolhes o oportuno andarilho

Em romântica paisagem.

Sondam-te os trólebus, os trilhos,

As trilhas que serpenteiam teus casarões inabitáveis.

Mergulham-te os zumbis desesperados por torpor,

E, assim, és causa e efeito.

Esperança, morte e quimera.

Veia urbana e insana.

Vendes-te.

Entendes-te.

Mereceste-te.

Estendeste-te.

Em cada esquina onde te oprimem as vaidades,

Ostentas a fortaleza de tua pujança e a nobreza de tuas notas.

Segues sólida e imperfeita,

Entre alamedas direitas e tortas.

E, mesmo no assombro de tamanha incoerência,

Vejo-me teu servo e sirvo tua força.

Hábito cosmopolita.

Chão que me abriga.



25/01/2012 – 01:15
Chiquinho Silva


Conjunto formado pelo Viaduto do Chá,
Teatro São José (Isso mesmo! Ali havia outro...),
Teatro Municipal e Vale do Anhangabaú (1920).


Enchente: Ponte em Pinheiros...

  Viaduto do Chá...

 Regatas Tietê...

 Largo da Sé: progresso rápido para abrigar lojas,
cafés, bancos e restaurantes.

 
Mais São Paulo antigo? Visite: