sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Bruxa

A noite me disse que bruxa tu és.
Que és livre, prudente, sensível, altaneira,
que tu és mulher altiva e serena,
não usa viseira e diz o que quer.

Nas noites de lua, tu teces teus sonhos de linhas tão tênues,
de mil arcabouços,
mas forte o bastante para o mundo conter.

As fadas te abraçam, os duendes te beijam.
Tu voas e cantas canções divinais, que contam histórias imemoriais.

Tu tens o poder, a força e vontade,
tu és a senhora da grande verdade.

O mundo te enjeita, faz que não te vê...
tem medo de ti, da tua ciência, porque, na verdade,
és franca e sincera,
és contra a mentira, que grassa e impera.

Tu tens aliados de grande valor,
como a natureza, no seu esplendor:
no verde das matas, no céu, minerais,
nos mares, nos rios
e nos animais.
Na chama que aquece, na planta que nasce, na água que jorra,
na luz do luar.
No vento que sopra, no sol que ilumina,
na ave que canta, no rio que corre, na chuva que cai,
no ar, nas florestas, nos campos florais.

E tu, só,
caminhas sabendo de tudo:
do triste destino dos pobres mortais.

J.R. Cônsoli

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

EU NAO "MURRI" NO BRAS - Parte II Do campo de concentração...

Severino José do Nascimento, o retirante, não lembrava mais dos nomes, de qualquer forma, para a sorte de Severino José do Nascimento, aqueles cinco mendigos se constituíram os seus cinco primeiros companheiros na cidade grande, muito grande, inacreditavelmente grande.

Os bons companheiros iniciaram a caminhada com destino ao Brás, onde “morreriam”. Ao chegarem, se localizaram num lugar denominado “Pedra”, que depois veio a saber que este nome era denominado a toda estação sem organização. Aquele se tornou o novo campo de concentração... de mendigos. Ali, na Pedra, eles aguardavam homens que vinham de longe, a mando de Empregadores, talvez donos de plantação de alimentos, que escolhiam, dentre eles, o “mais vistoso” para o trabalho e os levavam... não se sabia para onde. “Se fosse pra forca, ninguem tava sabendo!”. O que Severino José do Nascimento sempre soube, é que ele nunca foi escolhido para trabalhar.

Em frente à Estação do Brás havia um Albergue que ele conhecia como  CETREN, e onde ele podia deixar o campo de concentração e, às 19 horas matar sua fome e depois dormir, para acordar as 5 horas da manhã e novamente voltar para o campo de espera.

Após dois dias de hospedagem noturna naquele Albergue, uma nova Organização Social começa a Coordenar o fluxo de seres humanos da rua, dentro daquele espaço de iguais. Esta Organização chamava-se CROPH, a Coordenação Regional das Obras de Promoção Humana. Severino José do Nascimento lembra, “como se fosse hoje”, daquela primeira mão que lhe acolheu de forma diferente, “como se eu fosse gente”. As primeiras pessoas as quais conheceu chamavam-se Ana Maria e Afonso. Ali começava uma nova história na vida daquele Nordestino Pernambucano.

Dois meses se passaram... nenhuma informação da família... muita vontade de voltar para Pernambuco...no entanto, voltar pra sua terra, “só se fosse com dinheiro”. A vida continuava naquele campo de concentração de mendigos, esperando homens que lhe oferecessem “um bico” pra poder comer algo durante o dia, pra poder sair da pedra de tropeço na qual estava situado. Severino José do Nascimento, após comer pão, tomar leite ou café no Albergue, pisava o chão da rua para uma nova jornada de mais um dia, e nesta caminhada, catava comida nos lixos ou pedia aos transeuntes para saciar sua fome e, ainda que não dessem, nunca cometeu nenhum ato ilícito.

         - Eu via muito roubo na rua, muita gente fumando maconha e crack, mas nunca roubei, graças a Deus! Fumava. Só cigarro. Via muita mulé! Queria uma, mas num tinha dinheiro para pagar. 

No dia 15 de outubro daquele mesmo ano, a então Coordenadora do Albergue, Sra. Ana Maria Esteves, junto ao Sr. Afonso, acolheu aquele desempregado, rejeitado pelos homens “do não sei de onde”, como o mais novo trabalhador voluntário do Albergue. Agora se ausentara das ruas e, ali, poderia permanecer durante o dia, realizando atividades necessárias e se alimentando. Severino José do Nascimento se destacara nos serviços que prestava, seu comportamento era observado pela Sra. Ana Maria, principalmente quando ele ficava horas quase ininterruptas dentro da enfermaria, ajudando as enfermeiras a dar banho nos idosos, a cuidar dos medicamentos dos mesmos e a leva-los a banhar-se no sol. Ao final de cada mês, Sra. Ana Maria e o Sr. Afonso lhe entregava a quantia simbólica de R$ 30.00 e ele, imediatamente, comprava cigarros e gastava todo o resto no cabaré.

-          Ah meu camarada! Pra quem tava seco que nem o mês de setembro!

A rotina de Severino José do Nascimento começava a ser diferente, quem antes não tinha comida garantida, agora já possuía, seja ela um alimento nutricional ou mesmo um alimento sexual.

Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia


quarta-feira, 7 de setembro de 2011

UM POUCO DE HISTÓRIA

Hoje é feriado, 07 de setembro, vamos lembrar um pouco de nossa história.
Nós educadores, lidamos com jovens, adolescentes, crianças e tratamos destes assuntos em nossos trabalhos.
Só para refrescar nossa memória cansada com o tempo, será que conseguimos lembrar nosso uniforme escolar, nossa postura respeitosa diante desses acontecimentos?

Pense ai, ria um pouco, sinta saudade, hoje é o dia da comemoração da INDEPENDÊNCIA DO BRASIL.

"Brava gente, brasileira, longe vá... temor SERVIL!"

Não se esqueça de respirar fundo.

Hino da Independência


Já podeis, da Pátria filhos,

Ver contente a mãe gentil;
Já raiou a liberdade
No horizonte do Brasil.

Brava gente brasileira!
Longe vá... temor servil:
Ou ficar a pátria livre
Ou morrer pelo Brasil.

Os grilhões que nos forjava
Da perfídia astuto ardil...
Houve mão mais poderosa:
Zombou deles o Brasil.

Não temais ímpias falanges,
Que apresentam face hostil;
Vossos peitos, vossos braços
São muralhas do Brasil.

Parabéns, ó brasileiro,
Já, com garbo juvenil,
Do universo entre as nações
Resplandece a do Brasil.


Hino da Independência do Brasil que homenageia nossa separação de Portugal tem uma história interessante, que vale a pena ser conhecida.

Foi composto pelo fluminense Evaristo Ferreira da Veiga e Barros (1799-1837), livreiro, jornalista, político e poeta, em 1897,  tornou-se o patrono da Academia Brasileira de Letras na cadeira de número 10.

Página 3"O poema agradou o público da Corte, do Rio de Janeiro, e foi musicado pelo então famoso maestro Marcos Antônio da Fonseca Portugal (1760-1830), que havia sido professor de música do jovem príncipe dom Pedro - imperador Pedro 1º - amante das artes musicais. Dom Pedro afeiçoou-se pelos versos de Evaristo da Veiga e resolveu compor ele mesmo uma música para o poema, criando assim aquele que se tornaria o Hino da Independência. Não se sabe ao certo a data em que foi composta, mas a melodia de dom Pedro passou a substituir a de Marcos Portugal, oficialmente, em 1824.

A participação do imperador foi tão valorizada que, durante quase uma década, não só a autoria da música, mas também a da letra lhe foi atribuída. Evaristo da Veiga precisou reivindicar os seus direitos, comprovando ser o autor dos versos em 1833. Seus originais se encontram hoje na seção de manuscritos da Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro.

Com a abdicação de dom Pedro 1º, a Regência, o Segundo Reinado e - principalmente - a proclamação da República, o Hino da Independência foi sendo gradativamente deixado de lado. Somente em 1922, quando do centenário da Independência, ele voltou a ser executado. No entanto, na ocasião, a música de dom Pedro foi posta de lado, sendo substituída pela melodia do maestro Portugal.Foi durante a Era Vargas (1930-1945), que Gustavo Capanema, então ministro da Educação e da Saúde, nomeou uma comissão para estabelecer definitivamente os hinos brasileiros de acordo com seus originais. Essa comissão, integrada entre outros pelo maestro Heitor Villa-Lobos, houve por bem restabelecer como melodia oficial aquela composta por dom Pedro 1º.

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Aos Garis, que metamorfosearam o mundo de Fernando.

Ao lermos alguns livros temos a sensação nítida da quão significativa é essa experiência, há uma identificação muito especial, é como se de alguma, fizéssemos uso das palavras do escritor para também dizer o que pensamos, sentimos, vemos... Este foi o sentimento experienciado quando li Homens invisíveis: relatos de uma humilhação social, de Fernando Braga da Costa. O autor é natural da cidade de Votuporanga/ SP, região do Vale do Ribeira. Graduou-se em Psicologia pela USP, onde também fez seu mestrado e doutorado em Psicologia Social. O livro em questão nasceu da experiência que teve quando ainda estudante. Foi proposto pelo professor que a turma assumisse por alguns dias o trabalho não qualificado, ofício normalmente executado pelas classes sociais menos favorecidas. Pois bem, Fernando resolveu fazer sua experiência junto aos garis que trabalhavam na USP, lançar um olhar investigativo sobre os aspectos objetivos e subjetivos daqueles trabalhadores. Os relatos descritos e a sensibilidade do autor na forma de apresentá-los são por demais envolventes. Assim, apresenta o Episódio da Vassoura, do Uniforme, da Caneca. Em cada uma dessas situações fica acentuada o desamparo dos trabalhadores, as condições inapropriadas das ferramentas de trabalho, o sentimento de inferioridade externalizado por eles, dirigida ao estudante, pedindo sua intervenção junto aos órgãos competentes: “Ó! Fala lá que as vassoura aqui é assim, ó! Cê tá conseguindo varrer com elas? Fala lá pra gente!”. É como se os garis não pudessem falar, reclamar por si mesmos junto aos superiores, como se suas reivindicações fossem ignoradas. No Episódio da Vassoura, o autor expressa de maneira desamparada o sentimento de não ser notado ao atravessar por dentro do Instituto de Psicologia, passando por colegas de classe, professores, etc. Diz: “Nenhuma saudação corriqueira, um olhar, sequer um aceno de cabeça. Foi surpreendente. Eu era um uniforme que perambulava: estava invisível... Saindo do prédio estava inquieto; era perturbadora a anestesia dos outros, a percepção social neutralizada.” O Episódio da Caneca pareceu ainda mais significativo do ponto de vista do estabelecimento da relação entre o autor/estudante e os garis. Era o memento do cafezinho, todos se reuniram para aquele momento sagrado, mas o detalhe estava nas canecas, na verdade “latinhas de refrigerante cortada pela metade, muito amassadas e encardidas”. A dúvida no olhar dos trabalhadores era se o estudante iria ou não beber naquelas canecas. “Quando enfim bebi o café, a ansiedade pareceu evaporar-se. Entre nós instaurou-se uma espécie de relaxamento. Desde então, passamos a conversar, ríamos muito, contávamos histórias, casos engraçados e piadas. O Episódio da Caneca pareceu valer como uma prova de integração ao grupo, um ritual de passagem para outro mundo.” É a partir daí, desse mundo, que Fernando Braga da Costa apresenta um olhar instigante sobre a experiência de Homens Invisíveis e nos convida a essa viagem, a sair de nosso mundo e olhar para o Outro, considerando-o no mesmo nível de Igualdade, de Humanidade, de Ser...

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Deixe-se arrebatar por essa nave!

Gostaria de falar de uma experiência que já se tornou inesquecível para mim.
Para ser sincero eu também vivi isso outras vezes ao visitar uma instalação de arte. Por exemplo, quando, ainda adolescente, fui com professores e coleguinhas de escola visitar uma Bienal, lá no Ibirapuera. Na época, uma artista argentina apresentava uma instalação em que os visitantes deviam tirar os sapatos, calçar pantufas apropriadas, acolchoadas com algodão, e entrar em uma imensa tenda, em cujo teto havia diversos tecidos brancos, de materiais como algodão, seda, transparência inúmeras, todos intercalados com espaços em que se via um fundo dark. O visitante devia entrar segurando um espelho na altura do olho, acima do nariz, e andar cuidadosamente olhando para as imagens que se refletiam em tal espelho, no interior, portanto, de uma Nuvem, como era chamada essa instalação. Assim, por vezes sentíamos que andávamos mesmo em uma nuvem, noutras que caíamos em um abismo de escuridão... Pena que não me lembro do nome da artista, nem ao certo em qual Bienal isso se deu. O que ficou foi o inesquecível de relação com a arte a partir de algo muito simples no aparato disponível, mas que proporcionou uma experiência de transcendência muito significativa, ainda mais para um adolescente.
Agora, na meia idade da vida, passei por algo semelhante: fui visitar a exposição Oneness, de Mariko Mori, uma artista japonesa que consegue reunir tecnologia eletrônica, religião e até mesmo a estética da fotografia de moda, tornando tudo isso pleno de sentido no seu trabalho. Fica evidente a influência dos mangás, por exemplo, nesse trabalho, sobretudo nos vídeos em que ela aparece vestida como os personagens típicos dessas histórias em quadrinhos. No entanto, o que mais me chamou a atenção foi o seu desejo sincero de proporcionar aos visitantes um contato com a energia cósmica universal, o que só se faz possível quando você relaxa e se concentra em vibrar nessa direção.

Nesse sentido, aconteceu algo muito bacana na minha visita à exposição. Quando eu cheguei, peguei a senha para entrar na Wave UFO, gigantesca nave que está estacionada no saguão da casa, mas naquele momento a porta da nave estava enguiçada. E, ainda, as outras duas pessoas que entrariam comigo desistiram de esperar o seu conserto. Eu mantive-me firme no propósito de entrar ali e esperei. Assim, pude ter uma experiência única: pude observar no teto da nave apenas as cores do meu estado emocional registradas pela leitura de eletrodos fixados na minha testa e que permitiam a projeção de tais imagens no teto da nave.
Além disso, quando fui conhecer os seis personagens da obra Oneness, que dá nome à exposição e é outra obra interativa, como eu fora visitar a exposição sozinho, precisei juntar um grupo de mais cinco pessoas, para que os seis pudessem se ajoelhar em frente a cada um dos também seis personagens que compõem a obra, e colocando as mãos no coração de cada um deles, tivessem a surpresa da interação que os bonecos com carinha de ETs, moldados em Technogel, proporcionam em grupo ao grupo.


Eu concluo que vivi uma experiência muito salutar para o espírito, pois pude conhecer uma obra que reúne beleza, oportunidade de reflexão sem par, além da necessária lição de que é possível utilizar a tecnologia também a favor da nossa própria espiritualidade! Enjoy it!

A exposição ficará em cartaz até 16 de outubro no CCBB – Rua Álvares Penteado, 112 – Centro.

domingo, 4 de setembro de 2011

SOLSTÍCIO



Não!
Não fui!
E se fui só eu sei por que fui...
E já sei, que talvez, e se for como penso,
Já que fui, me faz crer que havia esse indício.

Sim eu vou...
E, já que estou, deixo que fique...
Deixo viver.
Porquanto, se resisto, paro... fico...
E se está, sendo o que escolhi,
Não fico alheio e creio ter vivido tal risco.

Vivo e vou...
Conquisto.
Como estou: reflito, tolero ou admito...
Deixo o grito, voto e visto esse querer.
O fato escrito será morte ou será mito...

Fique ou vá...
Deixar estar!
Não há praxe, não há regra.
Fica a entrega e o que se nega
É a vontade de nunca estar.
Intuito...
Traquinagem...
Armistício...
Libertinagem casual, mote e moda.
O que conta e o que, de fato, move esta roda,
É que todo solstício tem dia certo pra ser e acabar...

02/09/2011 – 20:37
Chiquinho Silva


Matando a curiosidade

Solstício (do latim sol + sistere, que não se mexe): Tempo em que o Sol se acha no ponto mais afastado do equador e parece, durante alguns dias, aí conservar-se estacionário (21 de junho e 21 de dezembro).

[Extraído de Wikipédia, a enciclopédia livre e Dicionário Priberam da Língua Portuguesa]

  
Entre os povos indo-europeus, os das civilizações norte-africanas e ainda da América Pacífica, o culto ao deus-sol possuía um caráter universal. Ora, entre os ritos desse culto – danças rituais, que se realizavam no princípio da primavera ou no solstício do verão, saudação matinal ao sol, oferendas e sacrifícios por ocasião das festas solares, em que também se realizava a cerimônia do fogo novo com a fricção de dois paus – figurava a prática, entre os povos primitivos, de acender fogueiras nos solstícios de verão e inverno, em homenagem ao deus-sol, segundo Frobenius, P. Guilherme Schmidt e outros etnólogos. [...] Essas primitivas práticas, com o advento do cristianismo, perderam seu conteúdo ritual solarista, e a igreja sabiamente não se opôs à continuidade da tradição, a que deu um conteúdo cristão: homenagem a São João, o precursor da luz do mundo – Cristo.
É com esse sentido cristão que se acendem ainda em toda a Europa as fogueiras de São João, no solstício de verão, entre nós correspondente ao de inverno. De Portugal vieram-nos elas. Os primeiros missionários jesuítas e franciscanos referem quanto eram apreciados pelos índios tais festejos de São João, por causa das fogueiras, que em grande número iluminavam as aldeias, e as quais eles saltavam divertidamente. São, pois, nossas fogueiras de São João, verdadeiras "sobrevivências", que perderam o primitivo sentido ritual.

Fonte: ifolclore.vilabol.uol.com.br