sexta-feira, 12 de abril de 2013

Fringe: EU FUI

Ouvia-se muito falar sobre GONZAGÃO-UMA LENDA, lá pelas bandas de URUCUIA-GRANDE SERTÃO, o que muito me animou a estar FRENTE A FRENTE COM DEUS.
VAMOS A LA PRAIA, pensei!
Iniciei meu INSÓLITO caminhar para meditar sobre UMA HISTÓRIA RADICALMENTE CONDENSADA DA VIDA PÓS-INDUSTRIAL. A minha.
Como num conto de fadas, meu caminho até Curitiba foi pontuado por encontros com personagens diversos: SEU BONFIM, BRANCA DE NEVE, DECAMERON, ÁGATA DE BOTAS, SARGENTO GETÚLIO e EL GENERAL.
Transformei-me num ARQUIVO VIVO da história de OBSESSÃO-AMOR E DOR contida na SAGA AMOROSA DOS AMANTES PÍRAMO E TISBE. Tornei-me testemunha de puro DESAMOR.
Senti na pele o que é EXISTIR NA ESSÊNCIA, num país em que MUAMBA CLOWN SHOW te faz O PRISIONEIRO de suas ÁFRICAS.
Quanto mais peças teatrais eu via, meu desejo pedia: MAIS UMA, MAIS UMA, MAIS UMA, MAIS UMA, MAIS UMA...
Exausta, lá pelas tantas, com muito calor, hospedei-me no HOTEL FUCK. Como vocês sabem, NUM DIA QUENTE A MAIONESE PODE TE MATAR.
Fiquei ali, deitada, LISPECTORANDO, numa ESPERA EM MOVIMENTO, quando num cochilo sonhei com um MONSTRO-PARTE 1: CALAMIDADE!
Despertei assustada e num salto me pus novamente a caminho.
Não paguei a conta.
NINGUÉM TAÍ para um JOÃO PÉ DE CHINELO.
ESPIA SÓ! VIAJANTES na intenção de assistir o CORDEL DA MORTE MORRIDA(E ÀS VEZES MATADA), onde nem sempre A PENA E A LEI fazem justiça como no caso da MOÇA QUE BATEU NA MÃE E VIROU CACHORRA, deixando bem assustadas as mocinhas que ostentavam uns CHAPEUZINHOS COLORIDOS.
Para finalizar, música maestro!
AFRO JAZZ RAP ROOTS balançou as Ruínas de São Francisco.
Como atrás do trio elétrico só não vai quem já morreu, eu, muito viva, segui o TRADICIONAL ARRASTÃO DE MARACATU, no trajeto a SIRÊ OBÁ-UMA FESTA PARA O REI.
Na entrada do terreiro, EL BAÚ GITANO, contendo o DIÁRIO DO ÚLTIMO ANO.
E assim foi. Meu nome é Marli e VOCÊ NÃO ME DISSE SEU NOME.

quarta-feira, 10 de abril de 2013

S0BRE A DISPLICÊNCIA, MAS TAMBÉM SOBRE A DESCONFIANÇA... E VICE VERSA!




Nestes últimos quatro dias eu  estive doente. Sim, estive com fortes dores no corpo, que meu amigo Lau insiste em me orientar uma consulta ao geriatra.  Meu corpo ficou quentinho, rio 40 graus. Minha garganta deve ter sido visitada por caroços de jabuticaba. Meu bucho ultrapassou seus limites! Estava inchado e eu levemente suspeitando de uma infecção urinária. A cabeça gritava, ela que já é grande parecia duplicar-se.

Bem... não vim aqui descrever minha inimiga. Vi mesmo é falar de displicência, mas também de desconfiança... ou vice versa, se lhe parecer melhor.

No terceiro dia de “moribundice” eu decidi ir ao Posto de Saúde, atual UBS, AMA, por que nem se usa muito a expressão Posto de saúde, talvez por não se tratar mesmo de saúde. Plena segunda e eu quis morrer quando cheguei e vi um mar de gente. Em seguida adoeci um nível a mais a mais quando uma voz indignada inflamou uma pólvora e gritou: Previsão de duas horas de espera!¿ Que horror. Eram 14:20 e eu sai da UBS as 17:35. Façam as contas.


Pois bem! Aliás, pois mal! Descobri que minha ficha havia sumido. As “displicentes” escolheram por livre e amaldiçoada vontade a fala de que eu não havia escutado chamar meu nome. Nesse momento eu acrescentei mais uma mazela no meu corpo. Eu também estava surdo!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Optei por não estressar e fui propositivo ao indagar o que poderia ser feito naquele momento. Enfim, fazer o quê se não me atender¿ Fizeram uma ficha relâmpago e entrei imediatamente no corredor que dá acesso à sala da Clínica geral. Antes que entrasse na sala uma voz soou dizendo: Sua ficha acabou de chegar no arquivo. Hum!  fui atendido pela última ficha realizada, como se o intervalo entre a hora que cheguei e a que fui atendido fosse de impressionantes 3 minutos!.

Consulta finalizada em 1 minuto, fui á sala de medicamentos e uma Enfermeira com cara de “e daí¿” e levou à sala de observação para me deixar sozinho. Observado por quem¿ por dois moribundos mais apenados que yo¿ Fiquei ali sentado, observando os pingos de soro que caiam em câmara lenta daquela bolsa lenta e infernal de soros que, através de um fio, tinha seu êxtase numa indigesta agulha que picava minha veia. Gota a gota eu assistia ela deslizar pelo fio numa impaciência anti monástica!!

Dia seguinte...
Ah, acho que este texto tá ficando grande demais para um blog em tempos de leituras mais rápidas na internet. O dia seguinte eu conto na quinta feira seguinte. Mas se você postar comentário me pedindo pra contar o final... eu te mando por email.

Cheiro de saúde
Gilson Reis
11.04.13. 

terça-feira, 9 de abril de 2013

NÃO MINTO


As riquezas de cada sarau são muitas. No último sábado quem pode comparecer na casa da Roseli, Zona Sul de São Paullo, desfrutou de uma belíssima interpretação do poema “O Mentiroso” de Jean Cocteau, interpretada por Rogério, que dispensa comentário nessa arte. A impressão que tive é que ele interpreta o tempo todo. Foi muito especial. Não minto.
 
O mentiroso

Eu queria dizer a verdade. Eu amo a verdade, mas ela não gosta de mim. Eis a verdadeira verdade, a verdade não gosta de mim. Logo que a digo, ela muda de figura e volta-se contra mim. Fico com a cara de mentiroso e todos me olham de esguelha. E no entanto, sou simples e detesto mentiras. Juro.
A mentira atrai encrencas incríveis, a gente mete os pés pelas mãos, tropeça, cai, e todo mundo caçoa de nós.
Se me perguntam algo, quero responder a verdade. A verdade me corrói. Mas aí, não sei o que se passa. Assalta-me uma angústia, um receio, um medo de ser ridículo e minto. Minto. Pronto. Tarde demais para voltar atrás.
E uma vez o pé na mentira, é deixar passar o resto. E não é cômodo, juro-lhes.
É tão difícil dizer a verdade. É luxo de preguiçosos. A gente tem certeza de não se enganar depois, e de não ter aborrecimentos mais tarde. Os aborrecimentos vêm logo no mesmo instante, e depois tudo se arranja. Enquanto que eu !... o diabo entra na dança.
A mentira não é um declive íngreme. São montanhas russas que nos arrebatam, cortando-nos o ar, detendo-nos o coração, apertando a garganta. Se amo, digo que não amo. Se não amo, digo que amo. Adivinhe o que acontece, é de enlouquecer os miolos! E não adianta parar-me diante do espelho e repetir-me: você não mentirá mais. Minto. Minto. Minto. Minto nas pequenas coisas e nas grandes também!
E se alguma vez me acontece dizer a verdade, por acaso... por surpresa... ela se retorce, se encarquilha, se encolhe, faz careta... e transforma-se em mentira! Os menores detalhes se combinam contra mim, provando que menti.
E... não é que seja covarde... em casa acho sempre o que devia responder e imagino as melhores saídas. Apenas na hora, fico paralisado e em silêncio. Chamam-me de mentiroso e engulo. Poderia responder: estão mentindo! Mas não acho forças para isso. Deixo-me insultar, rebentando de raiva. E é essa raiva acumulada em mim, que me dá ódio. Não sou mau. Sou até bom. Mas basta que me tratem de mentiroso para sufocar de ódio, eles têm razão. Sei que têm razão e mereço os insultos. Mas e daí?Não queria mentir e não posso suportar que não compreendam que minto à minha revelia, impulsionado pelo diabo.
Oh!... Vou mudar. Já mudei. Não mentirei mais. Hei de achar um jeito para deixar de mentir, para deixar de viver na tremenda desordem da mentira. Dir-se-ia um quarto desarrumado, arame farpado à noite corredores e corredores de sonho. Tenho que me curar. Hei de sair disso! De resto, dou-lhes uma prova. Aqui em público, acuso-me de meus crimes e exibo meu vício. E não vão pensar que gosto de exibir meu vício e minha fraqueza seja o cúmulo do vício. Não, não. Tenho vergonha! Detesto minhas mentiras e irei até os confins do mundo para não ser obrigado a fazer minha confissão.
E os senhores, dizem a verdade? ... os senhores devem mentir! Todos devem mentir sem parar, e gostar de mentir e achar que não mentem. Devem todos mentir a si.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

A Dívida com a Fé e a Religião do Povo Negro

Quando falamos da contribuição cultural africana às manifestações religiosas brasileiras, imediatamente nos remetemos ao Candomblé. Mas também em relação à religiosidade negra o Estado Brasileiro também tem uma dívida impagável. Até meados do século passado, os espaços sagrados das religiões afros eram violados e destruídos por causa da ignorância e do preconceito em relação à cultura afro. Heitor Frizotti, sacerdote comboniano, mestre e pesquisador das religiões afros, principalmente em Salvador, BA nos diz que uma das dívidas maiores da sociedade e das igrejas cristãs é com as religiões afro-brasileiras. Continua dizendo que não se trata somente do Candomblé, mas de uma vasta pluralidade de expressões e instituições religiosas: confrarias, reisados, irmandades, congadas, santuários, santos padroeiros e festas populares, rezadeiras e benzedeiras, presença no catolicismo, no protestantismo e em tantas outras religiões. Até porque o conceito ocidental de religião fica estreito para descrever e classificar o que os povos afrodescendentes consideram como religião: muitas vezes ela está unida e se funde com a cultura, a família e a história de um grupo social. Dentro deste contexto, temos a palavra Axé, que ainda hoje é mal interpretada em nossa sociedade, que a vê como uma palavra do “mal”. No entanto, para os Yorubás, a força – denominada axé – é também um princípio-chave de cosmovisão. O axé, (...) ‘assegura a existência dinâmica, que permite o acontecer e o devir. Sem axé, a existência estaria paralisada, desprovida de toda possibilidade de realização. É princípio que torna possível o processo vital’. (...) ‘Não é o supranormal, mas o eficaz, o poderoso, o criativo’. (...) A posse do axé implica algo que se pode chamar de ‘poderoso’ ou ‘potente’, uma vez que se trata de uma força de realização ou de engendramento. Diante do exposto Frizotti diz ainda que a dívida social continua, infelizmente. Porém, o primeiro passo de justiça e reconciliação pode ser o resgate da história de luta, organização fé libertadora de muitas pessoas e instituições religiosas negras no Brasil. Terreiros, Irmandades e tantas comunidades de fé estiveram comprometidas com lutas, quilombos, organizações sociais e de previdências, greves, reivindicação de direitos, movimentos, sindicatos, etc. Elas mesmas eram espaços de dignidade, organização, educação, memória de tradições culturais, resistência política e alianças, além de preservar a fé na presença do Deus da Vida ao lado de tantos excluídos e excluídas.