sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Uma homenagem póstuma

Seu nascimento foi um teste
para alegrar o nordeste
e encher de esperança
a todo cabra da peste.

Como era mês de março
houve chuva de verão
parecia primavera
pois florescia o sertão.

O local do nascimento
para todo sortilégio
é onde nascem rainhas:
Porto Real do Colégio.

E para espanto do povo
meus avós prevendo a sina
deu pr'aquela princesinha
o doce nome: Regina.

Todo mundo se encantava
com a sua formosura
sorria sorriso largo,
nas mãos a delicadeza,
e como toda mocinha,
todos sabem como é,
ofertou sorriso lindo
pro namorado José.
E como vem, como vai
veio a se tornar meu pai.

Mamãe já tinha meu mano
de um outro casamento,
depois de mim, outro irmão
veio a família somar,
ambos irmãos faleceram,
coube a ela sepultar.

Quando eu a via murchinha,
nem precisava perguntar,
a minha doce velhinha, sofria por dentro,
calada,
não sei se era forte ou se fazia,
prá não me ver chateada.

Outro dia ela se foi
deixando-me a indagação:
como os olhos podem vazar
e deixar seco o coração?

Mas tendo a missão cumprida,
sei que ela deixou a certeza
que vai voltar vida ao sertão.
Reviverá toda a beleza.

À
minha mãe
Regina Pereira da Silva
(1927-2011)

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

ESSA NÊGA VAI LONGE...



Lá vai a Nêga!
Pronta pra voar!
E voa a partir de seu lugar!
Mas que lugar é esse...

 

O lugar da mulher guerreira!
Sim!
Ela voar a partir do lugar
da mulher nordestina!
Da mulher negra!
Do céu da mulher histórica!
Vinda do sol das necessidades
e das transcendências! 

 

Lá vai a Nêga!
Pronta pra voar!
E voa a partir do ninho da mulher afeto!
Mas também da mulher impetuosa!
Da mulher coragem! Cora!

 

Quando voares da direção da liberdade...
Voará contigo a tua história!
E, saiba Nêga!
Ela  voará sempre na direção da FELICIDADE !!!!

Te amo!
Cheiro de Vida

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

FRANCISCO DE ASSIS

francis01.jpg (25739 bytes)Francisco de Assis tornou-se um exemplo de vida para tantas pessoas que passam os anos e ele continua sendo admirado e seguido por pessoas de diferentes crenças.
Todo um pensamento voltado para ele como o santo das criaturas porque ele não fazia diferença entre os seres vivos. Tudo para ele era importante por ser criatura de Deus.
Olhando um pouco para São Francisco, começo a pensar nos preconceitos, nas diferenças que muitos de nós fazemos uns dos outros.
Ontem houve celebrações o dia todo na Igreja de São Francisco, para dar tempo de contemplar os diversos seguimentos que esta festa celebra.
"(Quase cego, sozinho numa cabana de palha, em estado febril e atormentado pelos ratos, São Francisco deixou para a humanidade este canto de amor ao Pai de toda a Criação.

A penúltima estrofe, que exalta o perdão e a paz, foi composta em Julho de 1226 no palácio episcopal de Assis, para pôr fim a uma desavença entre o Bispo e o Prefeito da cidade. Estes poucos versos bastaram para impedir a guerra civil.
A última estrofe, que acolhe a morte, foi composta no começo de Outubro de 1226).



Altíssimo, onipotente e bom Deus,
Teus são o louvor, a glória, a honra
e toda benção.

Só a Ti, Altíssimo, são devidos,
e homem algum é digno
de Te mencionar.

Louvado sejas, meu Senhor,
com todas as Tuas criaturas.
Especialmente o irmão Sol,
que clareia o dia
e com sua luz nos ilumina.

Ele é belo e radiante,
com grande esplendor
de Ti, Altíssimo é a imagem.

Louvado sejas meu senhor,
pela irmã Lua e as Estrelas,
que no céu formastes claras,
preciosas e belas.

Louvado sejas meu Senhor,
pelo irmão Vento,
pelo ar ou neblina,
ou sereno e de todo tempo
pelo qual as Tuas criaturas dais sustento.

Louvado sejas meu Senhor,
pela irmã Água,
que é muito útil e humilde
e preciosa e casta.

Louvado sejas meu Senhor,
pelo irmão Fogo,
pelo qual iluminas a noite,
e ele é belo e jucundo
e vigoroso e forte.

Louvado sejas meu Senhor,
pela nossa irmã a mãe Terra,
que nos sustenta e nos governa,
e produz frutos diversos,
e coloridas flores e ervas.

Louvado sejas meu Senhor,
pelos que perdoam por teu amor
e suportam enfermidades e tribulações.

Bem aventurados os que sustentam a paz,
que por Ti, Altíssimo serão coroados.

Louvado sejas meu Senhor,
pela nossa irmã a morte corporal,
da qual homem algum pode escapar.

Ai dos que morrerem em pecado mortal!
Felizes os que ela achar
conforme à Tua Santíssima vontade,
porque a segunda morte não lhes fará mal.

Louvai e bendizei a meu Senhor,
e daí lhes graças
e servi-O com grande humildade.

Amém."



terça-feira, 4 de outubro de 2011

PÍRAMO E TISBE

A mitologia, como bem se sabe, diz respeito a uma forma de explicar o mundo, de dizer quem é o ser humano, falar do grande mistério que é a vida... No passado e no presente, o mito permanece vivo...

É essa realidade que o dramaturgo Vladimir Capella mostra em seu trabalho, em cartaz no Teatro do SESI-SP, na Av. Paulista, 1313, ao lado do Metrô Trianon-Masp. Pra quem desconhece a história e gosta de história de amor arrebatador, vale conferir!

"Píramo era o mais belo jovem. Tisbe a mais formosa donzela em toda a Babilônia, onde Semíramis reinava. Seus pais moravam em casas contíguas; a vizinhança aproximou os dois jovens e o conhecimento transformou-se em amor. Seriam venturosos se se casassem, mas seus pais proibiram. Uma coisa, contudo, não podiam proibir: que o amor crescesse com o mesmo ardor no coração dos dois jovens. Conversavam por sinais ou por meio de olhares, e o fogo se tornava mais intenso, por ser oculto.

Na parede que separava as duas casas, havia uma fenda provocada por algum defeito de construção. Ninguém a havia notado antes, mas os amantes a descobriram. Que há que o amor não descubra? A fenda permitia a passagem da voz; e ternas mensagens passaram nas duas direções, através da fenda. Quando Píramo e Tisbe se punham de pé, cada um de seu lado, suas respirações se confundiam.

- Parede cruel! - exclamavam. - Por que manténs separados dois amantes? Mas não seremos ingratos. Devemos-te, confessamos, o privilégio de dirigir palavras de amor a ouvidos complacentes.

Diziam tais palavras, cada um de seu lado da parede; e, quando a noite chegava e tinham de dizer adeus, apertavam o lábio contra a parede, ela do seu lado, ele do outro, já que não podiam aproximar-se mais.

De manhã, quando a aurora expulsara as estrelas e o sol derretera o granizo nas ervas, os dois encontraram-se no lugar de costume. E então, depois de lamentarem seu cruel destino, combinaram que, na noite seguinte, quando tudo estivesse quieto, eles se furtariam aos olhares vigilantes, deixariam suas moradas, dirigir-se-iam ao campo e, para um encontro, iriam ter a um conhecido monumento que ficava fora dos limites da cidade, chamado o Túmulo de Nino, e combinaram que aquele que chegasse primeiro esperaria o outro, junto de uma certa árvore.Era uma amoreira branca, próxima de uma fonte. Tudo ficou combinado e os dois aguardaram, impacientes, que o sol se escondesse sob a s águas e que a noite delas se levantasse. Então, Tisbe ergueu-se, cautelosamente, sem ser observada pela família, cobriu a cabeça com um véu, caminhou até o monumento e sentou-se embaixo da árvore. Enquanto estava ali sentada, sozinha, à luz difusa da noite, avistou uma leoa, que, com a boca ensangüentada por uma presa recente, aproximava-se da fonte, para matar a sede. Ao vê-la, Tisbe fugiu e refugiou-se numa gruta, deixando cair o véu quando fugia. A leoa, depois de saciar a sede na fonte, virou-se para voltar aos bosques, e, ao ver o véu no chão, investiu contra ele e
despedaçou-o, com sua boca ensangüentada.

Píramo, que se atrasara, aproximou-se, então, do local do encontro. Viu, na areia, as pegadas da leoa e o sangue fugiu-lhe das faces. Logo em seguida, encontrou o véu, dilacerado e cheio de sangue.

- Desventurada donzela! - exclamou. - Fui a causa de tua morte! Tu, mais digna de viver que eu, caíste como primeira vítima. Seguir-te-ei. Fui o culpado, atraindo-te a um lugar tão perigoso, e não estando ali eu próprio a guardar-te. Vinde, leões, dos rochedos e despedaçai com vossos dentes este corpo maldito!

Apanhou o véu, levou-o até a árvore onde fora combinado o encontro, e cobriu-o de beijos e lágrimas.

- Meu sangue também manchará teu tecido - exclamou.

E arrancando a espada mergulhou-a no coração. O sangue esguichou da ferida, tingiu de vermelho as amoras brancas da árvore, e, penetrando na terra, atingiu as raízes, de modo que a cor vermelha subiu, através do tronco, até o fruto.

Enquanto isso, Tisbe, ainda trêmula de medo, e não desejando, contudo, desapontar o amante, saiu cautelosamente, procurando o jovem com aflição, ansiosa por contar-lhe o perigo que atravessara. Ao chegar ao local e vendo a nova cor das amoras, duvidou que estivesse no mesmo lugar. Enquanto hesitava, avistou um vulto que se debatia nas vascas da agonia. Recuou, e um tremor percorreu-lhe o corpo todo, como a água tranqüila se encrespa ao ser atingida por uma lufada repentina de
vento. Logo, porém, reconheceu o amante, gritou e bateu no peito, abraçando-se ao corpo sem vida, derramando lágrimas sobre as feridas e beijando os lábios frios.

- Píramo, quem te fez isto? - exclamou. - Responde, Píramo! É tua Tisbe quem fala. Sou eu, a tua Tisbe, quem fala. Ouve-me, meu amor, e ergue esta cabeça pendente!

Ao ouvir o nome de Tisbe, Píramo abriu os olhos e fechou-os de novo. A donzela avsitou o véu ensangüentado e a bainha vazia da espada.

- Tua própria mão te matou e por minha causa - disse. - Também posso ser corajosa uma vez, e meu amor é tão forte quando o teu. Seguir-te-ei na morte, pois dela fui a causa; e a morte, que era a única que nos podia separar, não me impedirá de juntar-me a ti. E vós, infelizes pais de nós ambos, não negueis nossas súplicas conjuntas. Como o amor e a morte nos juntaram, deixai que um único túmulo nos guarde. E tu, árvore, conserva as marcas de nossa morte. Que tuas frutas sirvam como memória de nosso sangue.

Assim dizendo, mergulhou a espada no peito.

Os pais ratificaram seu desejo, e também os deuses. Os dois corpos foram enterrados na mesma sepultura, e a árvore passou a dar frutos vermelhos, como faz até hoje.

Moore, na "Batalha da Sílfide", referindo-se à lâmpada de segurança de Davy, relembra a parede que separava Tisbe de seu amante.

Bendita a gaze de metal tão fina
Seguro protetor;
Com que Davy rodeia, e que domina
O fogo destruidor.
Através da parede, a todo o instante,
Podem a Chama e o Ar,
como podiam Tisbe e seu amante,
Se ver, mas não beijar.

Nos Lusíadas, há a seguinte alusaõ indireta ao episódio de Píramo e Tisbe e à metamorfose das amoras, quando o poeta descreve a Ilha dos Amores:

Os dons que dá Pomona, ali natura
Produz diferentes nos sabores,
Sem ter necessidade de cultura,
Que sem ela se dão muito melhores;
As cerejas purpúreas na pintura;
As amoras, que o nome têm de amores;
O pomo, que da pátria Pérsia veio,
Melhor tornado no terreno alheio.

Se o leitor tem tão pouco coração que se disponha a dar algumas gargalhadas à custa dos desventurados Píramo e Tisbe, terá oportunidade de fazê-lo recorrendo à comédia de Shakespeare Sonho de Uma Noite de Verão, onde o episódio é apresentado de forma divertida."

trecho extraído da obra "O Livro de Ouro da Mitologia" de Thomas Bulfinch, Ediouro, 2000. [adaptado por MOACIR ÍNDIO DA COSTA JÚNIOR, POA,RS, 03 de setembro de 2002][PMXIX]

O espetáculo busca atingir, sobretudo, os adolescentes e jovens. Há uma atenção toda especial para aqueles que trabalham com educação e desejam levar um grupo para ver a peça. Informações: (11) 3146-7405 / 7406 ou (11) 4003-5588 http://www.sesisp.org.br/home/2006/

domingo, 2 de outubro de 2011

FÚRIA

















Vinde a mim àqueles que nada sabem.
Que ignoram como eu o onde, o quando, o fim...
Decifrai deste labirinto as incertezas que vos são comuns
E as que vos revolvem a alma.
Ponderai toda a sorte de impropérios, inquietações e divagações.
Saboreai seus sulcos indigestos, suas sutilezas funestas, suas agruras.
Atentai para que, ao vos iludires,
Não permitais vossa ruina e a de vosso próximo.
Aplacai a fúria de vossos lábios, que ferem como espada letal.
Vede, ao revés, o sucumbir de tolos escárnios diante de tamanha sapiência.
Não vos curveis frente insólita crença de felicidade e de dominação.
Ordenhai, nas pastagens inebriantes do tempo, tuas negras e brancas ovelhas.
Acalantai-as. Conduzi-as. Alimentai-as.
Sois de inegável natureza humana e, de tal sorte, promíscua.
Pertenceis a casta de deuses avalizados por históricos mortais
E, de certo, erigidos por civilizações mortas, dissipadas.
Ostentais, pois, seu poder e vos deleitais.
Deveras sois cria dessa glória.
Vinde mortais!
Reinai na realeza de tua temperança e de teu tédio.
Conjugai vossos verbos e recitai vossos salmos.
Não vos reduzais à escória.
Sedes resolutos e não eternizados em colossos perecíveis
Ao tempo e sua decadente ampulheta.
Mesmo fustigados pelos ventos que vos assolam,
Que vos torneis impávidos e sábios.
Conduzi vossa lírica mortal e cruzai o portal da vida e a sombra do indecifrável,
Onde nunca morrereis em vão.
E onde o que vos resguarde seja a quimera da liberdade
E a compreensão do saber.
Aplacai vossa fúria e aclamai vosso nome.
Que este jamais seja em vão.
Posto que, em vosso peito, recostais a verdade,
E nele, a força vos batize homem mortal.
Criador de deuses, anjos e serpentes.

30/09/2011 – 11:00
Chiquinho Silva