sábado, 15 de outubro de 2011

CHUVA

Chuva preguiçosa cai la fora
Mas a labuta que a mim implora
Corre pra fora, arregaça as mangas
põe sua bota e limpa seu chão.

De sol a sol, de semana a semana
O curso da vida, não para não
O corpo cansado pedindo descanso
O lamento do dia não para não

Chuva gostosa majestosa e limpa
Me ensine a limpar sem muito cansar
purifica meu dia com a mais pura maestria
que eu quero de novo sem muito cansar
viver este dia, no meu labutar.

Pinga que pinga, despeja sem dó
sua límpida água tirando o pó
O ar está puro, posso respirar
alivia o cansaço, posso continuar

No estalar dos pingos um mesmo refrão
Melodia suave nesta linda canção
Fortalece meu dia me empurra senão
Daqui desta cama não saio não.



sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A praça é do povo como o céu é da maritaca

"Tem certos dias, em que eu vejo minha gente,
e sinto assim todo o meu peito apertar..."

Ontem não. 13 de outubro tudo foi muito diferente. Meu peito se alegrou ao ver toda gente invadindo o Páteo do Colégio para usufruir o espetáculo Ay l'amor!, dos atores do Teatro Due Mondi, que em comemoração ao Momento Itália/Brasil(outubro 2011 - Junho 2012), durante 55 minutos falaram do e cantaram o amor, a paixão e também a dor.
Amor de homem e mulher como o sol e a lua em um eclipse perfeito.
A dor da morte que é o mais atroz de todos os males, mas que é privilégio para os mortos que não necessitam mais fugir dela. Tem algo na morte que se assemelha ao amor.
Acabado o tempo, foram os atores sem tristeza, pois estavam a fazer o que escolheram e toda gente, assim como eu, voltou a fazer o que escolheu.
A última canção falava que:

"Amar é apoiar a cabeça
perto de quem amas,
cada anoitecer, quando o corpo regressa cansado do trabalho,
e as vezes,
é querer ser livre como um bandido,
uma espada que atravessa a injustiça
ou um preso que rompe as correntes."

Ai, ai, ai, o amor...
Teatro na praça, ou melhor, no Páteo. Chuva fina a cair do céu de São Paulo, nada poderia ser mais característico na terra da garoa...
Lavou a alma, alimentou o espírito e deixou o coração batendo como tambor, para acordar pessoas que insistem em nada entender.
Vamo qui vamo botar o bloco na rua, proporcionando reflexão e contribuindo para o enriquecimento cultural do nosso povo.

"Estava a toa na vida, meu amor me chamou
prá ver a banda passar
cantando coisas do amor..."

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

MINHAS FLORES E MEUS BARCOS

Nestes últimos dias morreram dois parentes de grandes amigos meus. A Mãe da nossa bruxa madrinha, Marli, e o pai de meu amigo Alexandre. Como sabem meus amigos, não vejo sentido algum na morte, apenas na vida! Por isso já poetizei assim...

Eu quero a morte da morte
Eu só quero o fim
Do que nao pode recomeçar...

Busquei este poema mas nao o encontrei. O que estou postando hoje tem o mesmo sentido... com a morte, as margaridas secam e os barcos nao sentem o mar.....


Hoje

No jardim das violetas

Floresceram defuntos brancos
Que desaguaram sob as rochas

O jardineiro colheu golfinhos nas enchentes
E o pescador pescou margaridas secas
Para adornar a janela
de sua primavera incolor

O jardim secou
E molhou o jardineiro
No mar floresceram girassóis azuis
E secou o pecador

Com que lágrimas o pescador
Saciará a sede das margaridas secas?
Com que redes o jardineiro
Devolveria cor à primavera?

Que amargas são aquelas boas noites
Que adormeceram
E não mais viram o ouro do sol

Não há mais perfumes nas rosas vermelhas
As abelhas migraram para o outono sem mel
As borboletas cansadas
Perderam suas asas no inverno onde pousaram...

Os beija-flores perderam o lúdico
E voaram em busca de perfumes
Por entre carniças
E urubus famintos

Não há mais peixes no jardim
As flores do mar
são restos de solidão.

 

Devolvam-me meu barco naufragado!
Gritou o jardineiro por entre espinhas afogadas
Devolvam-me minha primavera colorida!
Gritou o pescador por entre espinhos e gravetos
Segurando à mão
Seu bouquet de margaridas secas
...
Amava as margaridas e sua simplicidade...


Cheiro de Vida!
Eternamente... Gilson Reis

terça-feira, 11 de outubro de 2011

Gol preso na garganta

O poema “Gol Contra” de Sérgio Vaz, escritor, poeta e morador da Zona Sul de São Paulo, autor do mais novo livro “Literatura, pão e poesia”, propicia uma reflexão interessante sobre a vida, os sonhos, a ilusão. De maneira brilhante o autor faz uma severa crítica ao futebol, ou mais precisamente sobre a ilusão (no sentido mais negativo do termo) que o futebol gera na cabeça de milhares de crianças e adolescentes e adultos.

Faz-se necessário dizer que a ilusão é uma dimensão indispensável da condição humana. Fundamental.

Mas o que o autor critica é essa ideia simplista, abraçada sobretudo pelas crianças e adolescentes, e muitas vezes, legitimada pelos adultos, em ser jogadores de futebol a qualquer preço. Ou melhor, a um preço (R$) bem alto, haja visto os altíssimos salários de alguns atletas que diariamente os meios de comunicação fazem questão de destacar, mais parecendo um insulto, dada as condições precárias de trabalho que a maior parte dos brasileiros tem que se submeter desde o momento em que deixam seus lares e partem em busca do pão de cada dia.

Os jogadores parecem ter a vida que “todas” as pessoas gostariam, ou pelo menos a maior parte, em especial o público juvenil. Muito dinheiro, carros importados, fama, mulheres, trabalho pouco (vamos convir!), estudar quase nada, etc. Talvez seja aí que se esconde a dimensão perversa da ilusão, a armadilha. Há muitos alunos dizendo: “Estudar pra que professor? Eu vou ser jogador de futebol.”

Pois bem. O poeta afirma que também sonhou em ser jogador, ainda que naquela época, em sua adolescência, o futebol não dava tanto dinheiro como hoje em dia. Aliás, não sonhou sozinho, pois recorda que muitos de seus amigos partilhavam do mesmo sonho. O fato é que hoje, décadas passadas, o poeta constata que “não conhece ninguém de seus amigos daquela época que sequer tenha passado na peneira de algum time profissional.” E para completar afirma que muitos deles não lerão o seu poema. “Se é que vocês me entendem?” Pergunta o poeta num tom de ironia e tristeza.

Como se não bastasse, Vaz afirma que o campinho esculpido com suas próprias mãos e as mãos de seus amigos, transformou-se, hoje, num grande cemitério. E muitos dos seus amigos estão ali, enterrados.

domingo, 9 de outubro de 2011

CILADA

























Vamos dizer um pouco de nada!

Pra que nada adiante seja cilada

De um jeito teimoso, maneira encontrada,

Desconte e desfrute desta empreitada.

Que tal se a revanche da sorte enjeitada,

Conforte o vazio da forma moldada.

Escória esculpida e de vida roubada,

Recoste n´algum peito a cria clonada

Vagueie na noite de lua prateada,

Como se romântica fosse a sina fadada.

De mesma emoção, de breve jornada,

Descubra o temor e de tão maltratada,

A vida reencontre a cor desprezada.

Que traga o alívio, doença sanada,

Em instante sereno, no fim desta estrada,

Um ar, um respiro e a mão espalmada,

Tateie no escuro a esperança furtada.


08/10/2011 – 00:25
Chiquinho Silva