sábado, 8 de março de 2014

A mulher que não faz nada

Poema antropofágico que fiz em homenagem a Onilza Braga, autora do livro "Rainha do Lar uma Ova!"

Cedo acordar, café completo preparar, mesa servir.
Camas, gavetas e casa arrumar.
Já seria o suficiente para deixar-nos "putos".
Privadas lavar como se fosse a única a usá-las,
durante anos ininterruptos.

Cozinhar,
fazer as compras,
todas as roupas passar,
depois de lavá-las; que roupa suja se lava em casa.
Depois de comer, virar,
digo, tirar a mesa e colocar tudo em pratos limpos.

-Sua mãe não te deu educação?
Mais do que isso:
levava e buscava nas escolas,
arrumava todas as mochilas e sacolas.
A mala de todos arrumava e desarrumava,
antes e depois de cada viagem.
Que sacanagem!

Todas as datas importantes,
de alegria ou de dor,
estão aqui na memória desse verdadeiro computador.

Ser de tudo um pouco,
e para todos muito:
enfermeira, assistente social, psicóloga, manicure, costureira, cabeleireira.

Achar coisas perdidas?
Nada mais natural.
Entregá-las nas mãos de quem as perdeu?
Normal!

Enxugar banheiro,
lavar lençóis,
supervisionar a higiene pessoal.

Tornar-se bissexual nas reuniões de pais e mestres.
Ser advogada infantil quando constatam: "seu filhinho é uma peste!".

Caso você não tenha uma segunda jornada, receberá tão "mixa" mesada,
que a vida sociável, reduzir-se-á em percorrer mercados,
para comprar o indispensável.
Se ousar pedir um extra,
a resposta à pergunta:
-Tudo que lhe dou não basta? Vá trabalhar, vagabunda!

A noite, sorridente e bem disposta, perfumada e cativante,
simule orgasmos numa "mal dada"
ou serás responsável, por ele ser obrigado a arrumar uma amante.

Santa Francisca de Assis, cuidando dos animais;
Santa Benedita, varrendo, esfregando, tirando o pó;
Mãe Natureza, cuidando do jardim.
Tende piedade de mim!

Enfim, por onde qualquer ser venha a cometer algo que desagrade,
será saudado, como se vê,
com um grandíssimo "filho de uma puta",
que fatalmente pode ser
você!

terça-feira, 4 de março de 2014

COLOMBINA, ARLEQUIM E PIERROT

Não!
Não me compreendeis...
Ouvi, atentos,
Pois meu amor se compõe do amor dos dois.
Hesitante entre vós,
O coração balanço, o teu beijo é tão doce, Arlequim...
O teu sonho é tão manso, Pierrot...
Pudesse eu repartir-me e encontrar minha calma
Dando a Arlequim meu corpo...e a Pierrot, minha alma!
Quando tenho Arlequim,
Quero Pierrot tristonho
Pois um dá-me prazer, outro dá-me o sonho!

Nessa duplicidade o amor todo se encerra!
Um me fala do céu... outro me fala da terra!
Eu amo, porque amar é variar e, em verdade,
Toda a razão do amor está na variedade...
Penso que morreria o desejo da gente
Se Arlequim e Pierrot fossem um ser somente.
Porque a história do amor só pode se escrever assim

Um sonho de Pierrot e um beijo de Arlequim!

Nenotti del Picchia

Por Gilson Reis
Terça feira de carnaval