sábado, 23 de julho de 2011

Agora, e por fim a Amizade...

Soneto do amigo

“Enfim, depois de tanto erro passado

Tantas retaliações, tanto perigo

Eis que ressurge noutro o velho amigo

Nunca perdido, sempre reencontrado.

É bom sentá-lo novamente ao lado

Com olhos que contêm o olhar antigo

Sempre comigo um pouco atribulado

E como sempre singular comigo.

Um bicho igual a mim, simples e humano

Sabendo se mover e comover

E a disfarçar com o meu próprio engano.

O amigo: um ser que a vida não explica
Que só se vai ao ver outro nascer
E o espelho de minha alma multiplica.”

Vinicius de Moraes

"Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova quando
chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de
grandes chuvas e das recordações da infância.
Preciso de um amigo para não enlouquecer, para contar o que vi de belo e triste
durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças d´água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim. Preciso de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já tenho um amigo.

Preciso de um amigo para parar de chorar. Para não viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas.
Que bata nos ombros sorrindo e chorando, mas que me chame de amigo, para que eu tenha a consciência de que ainda vivo."

Vinícius de Moraes

Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila.

Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante.

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos.

Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo.

Deles não quero resposta, quero meu avesso.

Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim.

Para isso, só sendo louco.

Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças.

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta.

Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.

Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto.

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade.

Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos.

Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça.

Não quero amigos adultos nem chatos.

Quero-os metade infância e outra metade velhice!

Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa.

Tenho amigos para saber quem eu sou.

Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.

Oscar Wilde

sexta-feira, 22 de julho de 2011

56, 57, 58, 59, 60 e me escuta

Inaugurando o espaço E POR FALAR EM SAUDADE, publico este poema encomendado por José Freire, que visava sensibilizar alguém que não acreditava que pudesse ser amado, visto já estar com a idade "avançadinha". ONDE ANDA VOCÊ, José Freire?

Sim, eu sei que já respirava antes do que se denominou oxigênio:
não estou responsabilizando-o pelo ato de me manter vivo.
Viver é o ato de respirar continuamente.
Tentei contrariar a teoria e só não consegui
por não ter gostado da cor roxa que adquiri.
Tampouco vou responsabilizá-lo pelo fato de que a sua presença me alimenta a alma.
Meu corpo sacia-se de frutas, legumes, carboidratos.
E dispõe de todas as vitaminas de que se tem notícia: A, B e C.
Segundo meu médico de plantão, vai bem meu diabetes e melhor ainda meu colesterol.
É que sem você me sinto: Água, Bagaço e Casca.
Tenho lazer, tenho o que fazer, me ocupo com a arte, mas,
arteiramente gostaria de cultuar-te.
Durmo regularmente as oito ou doze horas recomendadas, não sei ao certo.
Mas vou de hora em hora ao relógio, para certificar-me não sofrer de insônia.
Enfim, não o responsabilizo por qualquer ato de insanidade, ódio ou amor que venha cometer a alma que me habita,
como vê, já sei tudo da vida e aprendi com Gonzaguinha, que ela é bonita, é bonita e é bonita...
Só que acredito que você possa ensinar-me um pouco mais.
Se habilita?

quinta-feira, 21 de julho de 2011

AOS MEUS AMIGOS...

Muito Prazer Adélia Prado

Viver talvez não seja esta simplicidade despojada de teus poemas, mas nada mais justifica tanto, tal sentimento, que esta própria vida.

Eu quero esta simplicidade correndo minhas veias encarnadas pra que o calor do sangue seja mais suave.
Quando, em um poema inspirado pelas almas boas, dissestes: “A coisa mais fina do mundo é o sentimento...” a poesia parecia não ter mais nada a dizer...mas almas boas estão por ai... vagando... e recitando versos sublimes para ninar as dores de quem ama. Sim!!
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.

Esta decretado!
Este verso está tombado!!
E mesmo que se faça uso da liberdade, pedra preciosa, para se dizer que não o é, quero, que esta sede do não e esta vontade de rebeldia, também seja...sentimento
Permita-me, Adélia, com a humildade de quem ousa escrever versos, ainda sob o sopro manso do vento, dizer que no colo dos sentimentos mais finos que uma alma pode sentir, elejo o AFETO como a mais bela e delicada tradução do mesmo. É pelo Afeto que se eterniza as relações, pois no ventre de cada gesto afetuoso gera-se eternidade e ressurreição!!.

Quando Oswaldo Montenegro pede para que façamos uma lista dos grandes amigos, quem mais nós víamos há dez anos atrás, quantos ainda vemos todo dia e quantos ainda não encontramos mais...despedem-se lágrimas que de tão belas sabem-se tristes e agradecidas. 

Não há lágrima que se despeça deste interior que não seja um pau – de - arara de sentimentos, mas também, e muito delicadamente, que não expresse uma avalanche mágica de sonhos!!

E quando o mesmo poeta nos pede pra fazer uma lista dos sonhos que tinha e quantos nós desistimos de sonhar... constato, com a clareza de uma janela campestre exposta ao sol, que o sentimento é esta distância pertinho e esta proximidade distante composta de pedaços que nunca se foram por que são parte de um mosaico que se fincou como tatuagem nas almas boas dos ventres juvenis...

Sempre tão férteis!!
Tão engravidados de sonhos!!

Minha reverência, simples, fina, delicada, aos amigos!! às lágrimas alforriadas buscando colo na quentura do outro, escaldando a lágrima deste outro que chora!!

Minha reverência aos sorrisos LIVRES lançando-nos à terra empoeirada ou encharcada das gotas de chuva que tão gentilmente banham seus transeuntes que se deleitam por entre as ruas...sempre com uma melodia harmônica ou desarmônica ao toque da gota ao chão!
Minha reverência aos cantos livres! Religiosos! Pastorais! MPBistas! Infantis! Improvisados...sou capaz de ouvi-los nesta madrugada em que escrevo...nesta manhã em que leio...nesta tarde em que me deleito...nesta noite em que, olhando a rua vazia...vejo desfilar almas livres, planejando a textura e a cor da página seguinte de seus sonhos.   

Muito prazer Adélia Prado!
Obrigado!.
Agora vou descamar o peixe que minha vida trouxe de sua pesca noturna, pois a madrugada que chega sinaliza e antecede mais um dia que vem...  



Gilson Reis

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Andanças...

Andando por ai, não nas calçadas de Assunción é claro, porque ainda me detenho a passear pelas calçadas de São Paulo quando muito nas calçadas de Pindamonhangaba, mas... deixa estar, um dia ainda passearei pelas calçadas de Paris.
Nestas andanças andei reparando no que há de mais comum pelas calçadas de minha ilustríssima cidade que acolhe tantos que aparecem por aqui e que parece que não tem mais berço e nem abrigo para todos e me deparo com aqueles que dormem pelas calçadas. Reparei então nestes sinais de violência que me inspiraram estes versos.

Tudo que se opõe ao amor é violência
Às vezes camuflada pela disciplina, pela ordem!

Tudo que se opõe ao amor é violência.
Violência em si mesma no silêncio esmagador das consciências!

Tudo que se opõe ao amor é violência
Violência calada, torturada por ativistas
que agem à revelia para seu próprio prazer!

Tudo que se opõe ao amor é violência
Violência que impõe comportamentos que
justifiquem condicionar ignorantes.

Tudo, tudo que se opõe ao amor é violência!

Peço licença ao Pe. Zezinho para postar aqui uma de suas mais belas canções

Eu Canto Amor

Andando pelas ruas da cidade
Vou pensando nas verdades
Que Jesus nos ensinou.

Eu passo e a cadência dos meus passos,
Vai dizendo em mil compassos
Que o amor me cativou.

Eu grito, e pelo espaço infinito o céu
Responde num arco-íris, essa pauta multicor;
Meu grito se transforma em partitura,
Melodia de ternura,
Que eu solfrejo ao Deus do amor.

Refrão:

E eu canto amor, amor, amor,
Enquanto o mundo gira sem parar.
E meu irmão, irmão, irmão,
Deixa o ódio e vem comigo, vem cantar.

Crianças que eu encontro em meu caminho,
Me traduzem o carinho
Que este mundo ainda tem;
Os jovens são sementes de esperança,
Transbordando a confiança
No amanhã que eu sei que vem.

Um velho me sorri com ar sereno,
E eu respondo num aceno
De quem vai no seu lugar;
E marcho em direção da parusia,
Que eu espero na alegria
De quem vive a semear.


Até quarta que vem.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Símbolos Sagrados

Andando pelas ruas da cidade de Assuncion/Paraguai um aspecto curioso, entre outros é claro, pode ser observado. São os pés de laranjeiras, carregados de seus frutos, nas calçadas das ruas.

Meu amigo, Celso, natural do País, iniciou uma aula de História, em grande estilo, a partir das laranjeiras, que iam sendo fotografadas, conforme caminhávamos.

Contou-me que há muitos anos, no período colonial do País, a região de Assuncion era repleta de laranjeiras, no entanto, à medida que o processo de urbanização foi se ampliando, as laranjeiras cederam lugar para as construções: casas, edifícios, asfaltos, calçadas… sendo conservados apenas alguns pés de laranjas, como testemunhas dos tempos de outrora. Assim sendo, as laranjeiras das calçadas de Assuncion são símbolos sagrados que falam dos antepassados… ancestralidade… Daí que as laranjeiras estão nas calçadas, assim: os moradores passam por elas, olham, mas não as tocam…

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Temos que nos manter firmes!

Eu não tenho dúvida alguma: você pode mudar qualquer contexto com a sua atitude.Se tivermos uma reação violenta a uma violência, teremos duas pessoas se socando... E assim, por diante. Na semana passada, uma amiga fez uma comemoração, porque ela tinha conseguido ingressar no mestrado em uma importante universidade. O ambiente escolhido para o evento foi um bar, na saída da própria universidade... Eu fui até o local e vi que todos estavam contentes, felizes mesmo! Que beleza!
No entanto, uma moça, em um determinado momento, começou a se queixar de umas pessoas suspeitas que se encontravam do outro lado da calçada [estávamos em uma mesa na calçada]. Poderiam ser ladrões etc. e tal... Eu, imediatamente, falei: Nem pense nisso, nada de mal irá nos acontecer. Portanto, isso não procede, não há motivo para temor! Ela, muito simpática, disse que eu tinha razão. Pois bem, se eram uma súcia nunca ficamos sabendo. kkkkk
Eu acredito muito nisso: no pensamento positivo, na positive vibration.
Há algum tempo, conheci esse clip abaixo, da banda Badly Drawn Boy, que, com outras palavras, está também falando disso tudo que eu disse aqui.
Vou reproduzir a letra da canção e uma tradução livre que fiz! [caso alguém quiser fazer alguma correção fique livre para isso!]
O mais bacana contudo é esse fofo da animação.
Enjoy it!

Year Of The Rat
(One, one, one, one, one, one. One, one, one, one, one, one)

June is on the run for so long
Pushed and pulled then shunned
It was so wrong
These fours walls crashing in won't stop me now
Cause I'm alive, I'm out tonight, all night

Everybody needs to know it's the year of the rat
Every day we've got to hold on
'cause if we hold on we could find some new energy

Streets with flags unfurled like treasure
Thank me for my words, it's a pleasure
Just don't ask me to stay 'cause I'll be gone
But it's alright I'm OK - always

Everybody needs to know it's the year of the rat
Every day we've got to hold on
'cause if we hold on we could find some new energy

One plus one is one - together
One plus one is one - forever
One plus one is one - together
One plus one is one - forever

Everybody needs to know it's the year of the rat
Everybody needs to know it's the year of the rat
Everybody needs to know it's the year of the rat
Everybody needs to know it's the year of the rat
Every day we've got to hold on
'cause if we hold on we could find some new energy


"One plus one plus one plus one is four"

"One"
"Plus one"
"Plus one"
"Plus one"
"Four"

Ano do Rato
(Um, um, um, um, um, um. Um, um, um, um, um, um)

Junho está demorando para acabar
Jogado de um lado para o outro, preferi me afastar
Isso estava tão errado...
Mesmo que essas quatro paredes desabem, não é isso que vai me parar agora
Porque eu estou vivo,  e estarei fora a noite toda.

Todo mundo precisa saber que é o ano do rato
Todos os dias temos que nos manter firmes
Porque se nós persistirmos podemos encontrar um pouco de energia nova

Ruas com bandeiras desfraldadas como um tesouro
Agradeça-me por minhas palavras, é um prazer
 não me peça para ficar, porque eu vou embora
Mas tudo bem, eu estou bem - sempre

Todo mundo precisa saber que é o ano do
 rato
Todos os dias temos que nos manter firmes
Porque se nós persistirmos podemos encontrar um pouco de energia nova


Um mais um é um conjunto
Um mais um é um infinito
Um mais um é um conjunto
Um mais um é um infinito

Todo mundo precisa saber que é o ano do rato
Todo mundo precisa saber que é o ano do rato
Todo mundo precisa saber que é o ano do rato
Todo mundo precisa saber que é o ano do rato
Todos os dias temos que nos manter firmes
Porque se nós persistirmos podemos encontrar um pouco de energia nova

"Um mais um mais um mais um são quatro"

"Um"
"mais um "
"mais um "
"mais um "
"Quatro"


domingo, 17 de julho de 2011

PRETÉRITO
















Penso.
E quando penso me disperso.
O que foi já não é.
As realidades já tomaram forma de passado.
O pretenso envelheceu em um desprezível segundo.
O mundo, neste tempo, girou um milionésimo.
Soou a badalada do insólito momento.
Intento de ser novo.
Invento da ilusão futura num espasmo presente.

Um piscar... e já não é.
Se foi aquilo que se pensou ter sido.
Como asa de beija-flor pairado.
Mal se vê.
Pouco se mede.

E cede-se ao intransigente vício de ser, sem ao menos ter havido.
Ido, mas vindo, ao mesmo tempo.
Estar, como num estado suposto.
Tencionar, na esperança de um amanhã que o ontem já devorou outrora.
Ora...
A quimera real.
Tal qual ao sonho que embalou o sono noturno.
Que conduziu a dormência da vida para um clarear,
Permitindo aos olhos a ilusão de luz e de cor.
Que, mesmo na utopia de nosso imaginário, nos fascina e estremece.
Como a continuidade da água que desliza leito abaixo.
Como broto teimoso em terreno infértil.

E é certo que o amanhã está por vir, mesmo que não venha.
Que a existência pressupõe tais mistérios.
Que o sorrateiro fascínio de seguir, impulsiona nossos músculos e utopias.

Chiquinho Silva
14/07/11 – 21:55