O velho rio agoniza
envenenado pelos homens
Ontem a cidade descia
as colinas marginais
para olhar-se como vaidosa menina
em suas águas de cristal
Ontem o sol as estrelas a lua
deixavam as alturas
e se aninhavam ao fundo do rio
de onde contemplavam a cidade.
Ontem as moitas de aguapés
eram floridos jardins itinerantes
enfeitando a paisagem
Ontem os peixes abundantes
eram espadas de ouro e prata
cintilando por entre as ondas
Hoje o velho rio agoniza
está quase morto o velho rio
envenenado pelos homens
de olhos de cifrão
envenenado pelos homens
Que ébrios de lucro
destroem tudo o que se oponha
à corrida louca de sua ambição
Hoje o velho rio é espelho apagado
a cidade não consegue mais ver-se
em suas águas escuras e doentes
Hoje ele não reflete mais
o sol as estrelas a lua
nem abriga em seu seio
peixes cintilantes de ouro e prata
As asas da morte
já projetam sombra soturna
sobre o rosto dorido do rio
Em vão seus amigos
tomados de dor
ante tanta crueza
lamentam seu lento estertor
e em ruas e praças
levantam barricadas de palavras
em sua defesa
Em vão por enquanto
por enquanto em vão
tanta luta tanto pranto
As mãos criminosas continuam
envenenando o velho rio
sem punição
Carlos de Assumpção
Carlos de Assumpção, autor dos livros "Protesto" e "Quilombo", e co-autor do CD "Quilombo de Palavras", gravado juntamente com Cuti (Luis Silva) e de diversas antologias como "Cadernos Negros" (Quilombhoje) e "Negro Escrito" (Org. Oswaldo de Carvalho) é um dos poetas dos mais reverenciados na cena da literatura afro-brasileira. Foi frequentador assíduo da Associação Cultural do Negro, no centro de São Paulo, nos anos 50, onde se encontrava com ativistas da extinta Frente Negra Brasileira e com escritores e intelectuais de grande importância como Solano Trindade, Aristides Barbosa e Oswaldo de Camargo. Formado em Letras e Direito, escolheu a cidade de Franca, SP, para estudar e lecionar nos anos 80. A poesia Elegia ao Velho Rio está no livro Tambores da Noite, publicado em novembro de 2009.
sexta-feira, 29 de junho de 2012
quinta-feira, 28 de junho de 2012
SEDEFOMESAUDADEFOGOESEXO
Sede não se mata.
Alivia-se!
Sensação orgástica de sentir
Fome não se mata
Sacia-se! Tem..po...ra...ri...a...men...te
Sentimento gostoso de digerir
Saudade tambem.
Degusta-se!
Matar saudade é violência extrema
Sentimento torto de consertar!
Fogo não se apaga
Se abranda!
Mulher que o diga!
Sexo tambem
Alivia!
Sacia! Tem..po...ra...ri...a...men...te
Degusta!
Abranda!
Eu que o diga.
Gilson Reis
28.06.12
quarta-feira, 27 de junho de 2012
MULEKOTE MATUTO
Com licença Akins, depois da postagem do Laudecir na terça feira, achei propício esta sua poesia para minha postagem nesta quarta.
num sonho de criança numa vida de adulto
hominho do barraco, líder absoluto
benzido nos terreiros fortificado no peito
com uns olhos de sorriso e um coração de luto
o pai já se fora Deus assino o indulto
herdou honra, tristeza e a manha de furto
um cinco cinco nos livros pra não te tempo curto
rezado nos sambas nos jongos nos pontos
adotou de riqueza amizade em dote
viu se bem sem bens sem luxo sem um conto
protegido e ungido por erês foi afoito
sua oração criança ele uma, fez delas culto
mulekote: porta amor então ta preso e soluto
solto e ileso, nas prisões de beijos muitos
em paus-de-arara já posto importunado imposto
negou até a morte quando ela visitou teu busto
reviraram a mente o orgulho e outros assuntos
feriram a face, mas não arrancaram o sorriso do rosto
defensor da liberdade e os baratos que eu discuto
com esperança de futuro, leva a vida no susto
preza pelos seus sempre a todo custo
entre algemas e mãos meninas ele envolto
nos funks futebol e revolta
molekote ainda, e puto
mais astuto
do tipo que planta e não espera o fruto
pois se não der fruta come pedra e pronto
dono de um coração robusto
dos que renasce dos cantos de amor e canto justo
inquieto com bruto e corrupto
se matou foi sensato e abrupto
sempre na segunda com adulto
esses que não cabe ouvir, e não sabe muito
leva uma vida errada rica e inútil
Exploram os menor pra satisfazer sua vida fútil
mulekote é de sorte, de olhar enxuto
do tipo que labuta e escuta, do meu barraco escuto
palavra que carrega: respeito mútuo
quem quis seu mal nem viu nem o vulto
por esse rezo faço bom voto
as tias da igreja ta cheia de insulto
os policiais querem a morte num tulmuto
pra num moiá depois larga num viaduto
mais mulekote num morre renasce resoluto
num rap num poema num cordel tudo junto
numa ideia de uns loucos, das damas um assunto
mulekote bom, é vida é arte sem lucro
nasce das neuroses fortão e xucro
hábil e astuto tapeando o destino
mulekote matuto
Akins Kintê
terça-feira, 26 de junho de 2012
FILHOS
DO CORAÇÃO
Adoção. Tema complexo, delicado. Na semana passada o programa Hoje em Dia da TV Record apresentou uma série de reportagens sobre o assunto que chamaram a atenção da população brasileira. O mesmo tema está sendo abordado por Fátima Bernardes em seu novo quadro na Rede Globo.
A
reportagem mostrou que duas filas a perder de vista se formam quando a questão
é adoção. De um lado, milhares de crianças aguardam à espera de uma família,
5.125 crianças e adolescentes. Do outro, 28.006 pessoas aguardam a chegada de
um filho. O número de famílias inseridas no Cadastro Único Nacional de Adoção é
quase seis vezes maior que o número de crianças e adolescentes que aguardam na
fila de adoção. A questão matemática parece de simples solução conforme expôs a
professora Silvia Gussarov durante a reportagem. Ou seja, aproximadamente seis
famílias para cada criança. Pronto! Resolvido o problema de ambos os lados.
Engano.
O problema está longe de ser solucionado quando fazemos duas perguntas básicas.
Primeira, quem são essas crianças que aguardam adoção? Segunda, quem são as
famílias que desejam adotar? Somada a essas duas questões há também um problema
antigo no Brasil: a burocracia pública e a escassez de profissionais para dar
andamento aos processos. Como não se lembrar do livro O Processo de Frans
Kafka.
Quanto
às crianças e adolescentes que aguardam adoção: são crianças pobres, pardas
(45,92%), negras (19,0 %) o que é um dado significativo para a reflexão do
ponto de vista étnico, brancas (33,80%); muitas apresentam alguma deficiência física ou
mental; um grande número está acima da idade desejada para adoção; há 1.886 irmãos que não podem ser separados.
Quanto
às pessoas que desejam adotar: em sua grande maioria são de classe média alta,
casais, brancos, (20,48%) desejam crianças recém-nascidas com idade de até 2
anos, apenas (2,94 %) das crianças se enquadram nesse critério, o que significa
que as crianças acima dessa idade terão maior dificuldade em encontrar uma
família que a adote; as crianças acima de 7 anos de idade correspondem ao total
de 4.551 (88,8%); apenas 1,31 % das pessoas cadastras aceitam crianças e
adolescentes entre 10 e 17 anos de idade; 35% querem crianças brancas, o que
significa que as crianças pardas e negras, que são em maior número, aguardarão no
final da fila maior tempo de espera por uma adoção; isso vale também para as
crianças com algum tipo de deficiência, pois estas dificilmente enquadram na preferência
das pessoas cadastradas; a criança que tem irmão também encontra resistência na
adoção, a lei não permite que sejam separados, 81,95% das famílias não desejam
assumir a responsabilidade por mais de uma criança.
Ante
os dados a conclusão é simples, porém, delicada. São muitas as exigências
feitas pelas pessoas que desejam adotar. Os dados “revelam a equação da falta
de esperança de uma adoção para muitas crianças.”.
segunda-feira, 25 de junho de 2012
Apresentação
Antes de me apresentar, quero informar a todas e todos que é um imenso prazer poder participar deste blog com publicações. Me senti muito orgulhosa com o convite. Espero que meus escritos agradem a vocês. Reinildo é uma responsabilidade muito grande continuar um trabalho iniciado por você. Por isso mesmo, quero que saibas que nesta sua nova fase de vida, neste novo caminho, quando quiseres sentar para escrever aos amigos e amigas, esta página estará à sua disposição. Beijo grande para você. Bom, quanto a mim, sou Conceição nascida em Recife, mas que como muitos nordestinos, migrei para São Paulo, onde moro desde 1985. Hoje me identifico como recifense de nascimento, olindense de coração (porque cresci em Olinda, PE) e paulistana por opção, pois aprendi a amar esta cidade como se tivesse nascido nela. Por este motivo ela é tema central em minhas pesquisas. Não importa de onde você vem, ela ti receberá. São Paulo recebe a todos e todas como uma grande mãe amorosa, mas que, na maioria das vezes nem é percebida por aqueles que ela recebeu e abraçou como se tivesse saído de suas entranhas. No mês de janeiro nossa poesia vai para ela – São Paulo, a senhora do destino de quem acreditou que ela é muito mais que concreto e fumaça... pois ela também é poesia, cachaça, vinho, cerveja, música e tudo o que você trouxe em sua bagagem. Frequento os encontros do Sarau desde 2002, quando o grupo começou. O que é sempre um momento mágico. Digo àqueles a quem convido para participar, que nossos encontros são como oásis no meio do deserto. Mensalmente, paramos tudo para vivermos algumas horas com a poesia, pela poesia, cheias, repletos, plenos de poesia; é assim que eu descrevo nossos sarais. Neles nem parece que estamos em São Paulo, a cidade que não para. Mas nós paramos... por causa da poesia. Por hoje é só. Estarei aqui à disposição para compartilhar com vocês assuntos do dia a dia que merecerem um olhar mais atento e também para alguns mais específicos, que fazem parte do meu trabalho como pesquisadora que é a presença do negro na cidade de São Paulo e na Igreja Católica. Para começar, espero que todos tenham lembrado da festa de São João, prestando as devidas homenagens a um dos santos mais populares do nordeste brasileiro. Viva São João! A toda população nordestina espalhada pelo Brasil e por este mundo de meu Deus, nossa saudação pelos festejos deste santo. Grande abraço a vocês e até mais.
domingo, 24 de junho de 2012
DESPEDIDA
Amigos do Blogg.
Muitas vezes estive aqui falando sobre vários assuntos. Iniciei com uma reflexão exegética dada o momento de preparação ao Natal de 2011. Depois, com o passar do tempo, inicie um relato de denuncia e inconformismo com a cracolândia e devido os fatos ocorridos, por algumas vezes me reportei à questão com veemência e revolta, mas tudo continua igual ou até pior, mas ainda não me fiz vencido na minha indignação.
Pois assim caminhei no Blogg. Devido a intensidade emocional e existencial em que a vida vai se moldando, postei alguns poemas inéditos os quais me orgulhei muito, pois sempre obtive de vocês, amigos leitores, comentários que me faziam chorar de alegria, independente de qual fosse. Cada vez que postava algo, logo me batia uma ansiedade importante para ler os comentários, balsamo para meu EGO.
Agora queridos amigos, estou “temporariamente” me despedindo do Blogg, espero que por um curto período de tempo, pois a minha existência solicita que eu me apresente em outros setores da minha vida, não mais importante que o Blogg, porém tenho que me apresentar. Não por uma questão de prioridade, mas de uma escolha que agora tenho que fazer mesmo com dor. É um sentimento de partir para uma viagem sem querer ir, mas a vida já comprou o bilhete de ida, tenho eu que comprar o de volta.
Queridos blogueiros. Agradeço as mensagens de carinhos, os comentários e a possibilidade de me expor nesse importante instrumento de criação daqueles que acreditam que a cultura, a fé, a sensibilidade e a criatividade movem montanhas. Obrigado, sobretudo, por me convidarem a fazer parte dessa história. Minha alegria é que AQUELA que vem por ai fará com que nos orgulhemos ainda mais dessa caminhada, pois encherá nossos corações com a sensibilidade que é dela. Abramos a passarela para ela passar!!!
Grande abraço a todos...
Reinildo
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