Não
sei dizer se era feliz. A conheço desde a tristeza.
Não
lembro ter curtido alegrias e extravagâncias de felicidade.
Lembro-me
sonhadora.
Mas
também me lembro frágil diante do ato de sonhar.
Como
se sonhar lhe trouxesse dor.
Lembro-me
com olhos de distância.
Também
com olhos na direção dos desvios.
Não
sabia apreciar olhos felizes.
Recordo-me
escondida.
Algo
dentro do corpo lhe era segredo percebido e não dito.
A
alma dentro do corpo não lhe permitia o mistério.
Ela
extravasava gritos silenciosos.
Algo
dentro da alma era ferida irritante.
Não
calava, ainda em silêncio.
Lembro-me
num canto.
Sua
expressão era quase inexpressão.
Ou
talvez sua inexpressão era um grito expressivo.
Era
isso.
Desfila
na memória a imagem dela, mulher menos.
Oposto
de uma mulher mais!
Versão
“mais” de sentimentos pouco nobres, fincado numa mulher cuja nobreza lhe é
fato.
Via
nela o que escondia.
Não.
Eu não sei dizer se era feliz. A conheço desde a tristeza.
Por
vezes, um vento sorrindo passeava nessa paisagem.
Lembro-me
dela com sua janela na boca
Evitando
uma paisagem de beleza agredida.
Uma
vez fechada a janela
O
vento parecia passear durante outras estações.
E
eu continuava vendo corpo e alma pedindo para se encontrarem mais livres.
Lembro-me
presa.
A
conheço desde a tristeza
Algumas
vezes visitada pelas dores dos partos.
Instantes
de felicidade (?) materna.
Ser
mãe, este título nobre, talvez seja o máximo premio.
Sentimento
de uma conquista digna de nota.
Não
basta em si. É preciso o gozo.
Lembro-me
cuidadosa.
Mãe
coragem buscando suprir ausências e superar presenças.
Sim.
A mulher triste amava.
Era
de um amor triste, mas amor.
Homenagem à Sônia, minha
cunhada, falecida neste sábado, 16.02.2013