Gilson Reis
Por entre a janela de meu ninho quente
desfilam pedaços frios de algodão
numa suavidade monástica
em contraste com o movimento das calçadas.
A garoa acena para o artista solitário
que a agradece
em forma de sons, cores e palavras.
Da paisagem branca que se afigura
por entre blocos de caixinhas agigantadas
O Poeta, em sua janela colonial, recita versos
que se perdem na distância de seu olhar.
Da paisagem sóbria que se adentra
por entre os corredores da gigantesca arquitetura
O Pintor, de sua janela emoldurada, esparrama sua tinta
que se mistura na feitura de sua abstração.
Da paisagem melódica e silenciosa
que se apresenta na distância do quarto
O Compositor, em sua alegre janela, entoa cânticos
que se lançam, esvoaçantes, no infinito cinzento.
Por entre a janela de minha alma
a garoa acena para o artista solitário
em forma de sons, cores e palavras.