sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Sarau Caipira

Depois de receber uma injeção de ânimo de meu amigo Laudecir, saí de meu casulo invernal para respirar o ar primaveril dos acontecimentos poéticos.
Fui dar com meus costados na Avenida Mutinga, 1425, Biblioteca Brito Broca, para prestigiar o Grupo Ô de Casa, que apresentou um sarau de poemas e canções.
Presentes no local, não a rádio, nem a televisão, nem jornais.
Muitos alunos de escolas municipais, ensino fundamental, criançada regada a muita internet, celulares, e similares. Porém, diferentemente do que se pode imaginar, por não ter conhecimento do contexto apresentado, ficaram atentas e participativas ao evento.
Com os cantores Marcos Silva e Tania Clemente e os poetas Eli Clemente, Rosana Damas e Zoraide Liger, tendo no violão e na direção musical o Edson Tobinaga, passamos, as crianças, as professoras, os funcionários da Biblioteca e eu, uma tarde agradabilíssima.
Como homenagem ao Grupo, transcrevo o poema de Cornélio Pires:

Ideal do Caboclo

Ai, seu moço, eu só quiria
prá minha felicidade,
um bão fandango por dia,
e uma paia de qualidade.

Pórva, espingarda e cutia,
um facão fala-verdade,
e u'a viola de harmonia
prá chorá minha sódade.

Um rancho na bêra d'água,
vára-de-anzó, pôca mágua,
pinga bôa e bão café...

Fumo forte de sobejo...
prá compretá meu desejo,
cavalo bão - e muié...


Finalizo minha postagem com uma saudação às tradições culturais, que realça a necessidade de nos encararmos como dotados de identidade e capacidade de expressar nossa maneira de ser.

Ô trem bão, sô!!!

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

SOBRE A INTENSIDADE DE SER...




Eu amo este texto...
mas nem sei o quanto sou capaz de expressá-lo a partir dos pés.

Ainda pior que a convicção do não e a incerteza do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que me incomoda, que me entristece, que me mata trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.
Quem quase ganhou ainda joga, quem quase passou ainda estuda, quem quase morreu está vivo, quem quase amou não amou. Basta pensar nas oportunidades que escaparam pelos dedos, nas chances que se perdem por medo, nas idéias que nunca sairão do papel por essa maldita mania de viver no outono.

Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher uma vida morna; ou melhor, não me pergunto, contesto. A resposta eu sei de cor, está estampada na distância e frieza dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença dos “Bom dia”, quase que sussurrados.

Sobra covardia e falta coragem até pra ser feliz. A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai. Talvez esses fossem bons motivos para decidir entre a alegria e a dor, sentir o nada, mas não são. Se a virtude estivesse mesmo no meio termo, o mar não teria ondas, os dias seriam nublados e o arco-íris em tons de cinza.

O nada não ilumina, não inspira, não aflige nem acalma, apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si. Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas estejam ao alcance, para as coisas que não podem ser mudadas resta-nos somente paciência porém, preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é desperdiçar a oportunidade de merecer.

Pros erros há perdão; pros fracassos, chance; pros amores impossíveis, tempo. De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma. Um romance cujo fim é instantâneo ou indolor não é romance. Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode, que o medo impeça de tentar.

Desconfie do destino e acredite em você. Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando, vivendo que esperando porque, embora quem quase morre esteja vivo, quem quase vive já morreu.
                  
 Sarah Westphal Batista da Silv

Por Gilson Reis
30.08.12

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

CRÔNICAS DE UM AMOR

Pausa no Cântico de Salomão para refletir esta crônica, pena que o autor não assinou.

"Como é engraçado esse sentimento que nos invade
de tal forma que só nos damos conta quando
estamos totalmente apaixonados, quando já é tarde
para qualquer outra decisão que não seja entregar-se.
Ah! Amor!!! Sentimento louco... inexplicável...
inquieto... que me tira o sono e me faz sorrir...
sim sorrir como se o resto não existisse...
sim o resto porque ele, o AMOR, se torna único e principal.
... Que mistura é essa que me faz alegre que me faz triste...
Ah amor! qual será a sua fórmula o seu segredo...
Quantas vezes desejei-te e quantas outras eu quis deixar-te...
Mas nossa vira volta de "amores" que vão e que voltam eu sempre te espero.
E, em cada nova decepção tu AMOR não me largas...
Eu choro, te evito, fujo mas sempre me deparo com você AMOR...
Ah! mas, o que seria da Vida sem tu?
Uma história vazia sem personalidade nenhuma...
Tu me maltratas, mas sem ti não vivo... AMOR!!!"


terça-feira, 28 de agosto de 2012


Há poemas que são pra gente ficar em silêncio.
Ruminando. Sem Palavras. Contemplando.
Em forma de oração.

De Adélia Prado, à minha amiga Mônica.

Amor, essa palavra de luxo.
“Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
“Coitado, até essa hora no serviço pesado”.
Arrumou pão, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.”





segunda-feira, 27 de agosto de 2012


Pretos do Rosário: os negros que sabiam ser negros


O comentário de algumas Irmãs sobre a presença dos Pretos do Rosário e o uso dos serviços oferecidos pelo poder público à sociedade da época, na região onde está sua igreja na segunda metade do século XX, nos ajuda a entender porque o interesse em tirar e invisibilizá-los no Centro Velho da cidade.  Outro dado interessante nestes comentários é a descrição desta área, sua importância política e social, o que podemos perceber através da beleza do equipamento arquitetônico desta região ainda hoje, como por exemplo, as salas de cinema, os teatros e praças comprovam os relatos que veremos a seguir. D. Nilza, uma das irmãs mais antigas na Irmandade, nos diz que “não podíamos frequentar esta área”. Entrávamos na igreja e da igreja tínhamos que ir para casa. (...) Pois neste lugar tinha muito teatro, tínhamos ali o pessoal da polícia – a Força Pública na Rua Brigadeiro Tobias. Tinha o Circo Seico, no Anhangabaú, tinha o teatro da Bibi Ferreira. Então era uma coisa que nós não tínhamos acesso, nós não participávamos mesmo, porque inclusive na igreja era chamada atenção se nós fôssemos. Aos irmãos era proibido participar. Ás vezes agente ia, mas à noite, escondidinho. (...) E depois tinha que ir embora. Não podiam usufruir de nada que existia naquela região. Ainda sobre este assunto, Roseli afirma que “os irmãos não frequentavam este local quando ele era importante e imponente”. Só viam aqui quando iam à igreja. A relação que eles mantinham com este local era muito ruim. Era muito difícil; pois era uma relação de preconceito. Por isto é que os negros do rosário tiveram muita preocupação com a questão da aparência; com o fato de estarmos muito bem. Porque quando viam para cá não eram bem vistos. Por isto mesmo queriam tirar a igreja do rosário daqui desta região que era muito valorizada na ocasião. “Era muito difícil a relação dos negros do rosário com todo o resto de São Paulo”. No entanto, D. Cacilda nos diz que “os irmãos do rosário geralmente não freqüentava este local no tempo do seu auge cultural. Porque naquele tempo os negros eram mais empregados. Nunca deixamos de ser prestigiados pela elite. Pelo contrário, mesmo agente que trabalhava, quando diz que pertence à igreja do rosário, era sempre tratado de outra forma. Porque sabia que era negro social, mas era negro que tinha prestígio consigo próprio. Eram negros que sabiam ser negros”. “Eram negros que sabiam ser negros”. É frase como esta, ou mais que a frase, é pessoa como esta, que sabem ser negras/os que fortalecem a caminhada da Irmandade nestes 300 anos de existência no centro velho de São Paulo.