Na semana passada publiquei uma parte do poema Cruzes Vazias,
de Ni Brisant. Hoje apresento as demais partes do poema. Portanto, caso alguém
deseje ver o texto na íntegra, deve buscar a primeira parte na última
terça-feira, dia 4.
Encontro animais a caminho da cama
Já sem sonhos
antes do sono
aos beijos
(bandos)
formam
coletivos de animais no cio
berram
palavrões compostos
colecionam
corações
pilham corpos
e roncam
pesadelos
na falta de
natureza para amar
tragam o ópio
da desgraça pelos cantos da escuridão
e pela manhã
malham e
chupam drops de vitamina C:
demônios
latifundiários do tédio sem moral.
Encontro
animais a caminho do trabalho
já sem força
antes de derramar o primeiro suor
montam cadáveres
(nacionais e importados)
dirigem gaiolas
e suportam:
sempre amarrados
salários-esmolas,
insultos ilimitados, “carteiras” assassinadas
e outros
golpes previstos na soberana escravidão oficial
sem crer num
deus-salvador-invisível (maquinam)
na falta de
dignidade para reagir (sabotam)
juram
lealdade a carnês, livros sagrados, cruzes vazias
e outros
vilões aparentemente inofensivos
e chegam à
aposentadoria sem saber quem (ou ao quê)
serviram:
batalhões de
demônios imperadores cabisbaixos.
Ao longo
destas 26 léguas,
Já não conto
quantos animais encontrei
também não
sei mais ao certo a qual espécie pertenço.
Mas das
pessoas: homens e mulheres reais,
de tão raros,
lembro bem
cada traço,
valor e nome
todo
sentimento, ritmo e ideia.
Eu e minha
gente guardamos a vida no peito
sem
desconfiar que a eternidade esteve sempre em nossas mãos.
Antes eu não
sabia, mas agora já suspeito de tudo
e ninguém
poderá nos deter.
Se juntos,
somos mais,
lado a lado,
façamos o
caminho inverso,
sejamos
infinitos.