A
perspectiva da formação de uma autocrítica, portanto da auto consciência da
condição de oprimidos, se estende a toda família do adolescente, pois ela toda
também participa da medida, tendo em vista que o adolescente é parte de um
corpo, todo prejudicado, uma totalidade fragmentada pela condição subumana a
que foram submetidos e da qual rejeitam, expressando tal rejeição por meio de
diversos comportamentos, inclusive, no ato infracional.
A
metodologia socioeducativa no trabalho com adolescentes em conflito com a Lei
compreende uma intervenção do Educador na realidade em que o adolescente e ele
mesmo situam-se; esse elo de participação num mesmo contexto, problematizado
através da condição dialógica estabelecida, os fazem cúmplices e empreendedores
de uma nova situação existencial. No desenvolvimento dessa nova paisagem, o
adolescente tem que ser sentido como ser humano histórico, um ser inacabado,
dentro de uma realidade inacabada.
Na
construção desse ser inacabado que somos, buscamos a inserção nas esferas de
sociabilidade e é por isso que o Educador, frente à incompletude do
adolescente, vislumbra a participação deste no contexto social, de forma ativa
e empreendedora, através da conscientização do adolescente como protagonista da
dinâmica estudantil e não puramente como um ser matriculado e responsável pela
comprovação da matricula, através de uma simples declaração escolar; também
vislumbra a participação desse adolescente investindo teórica e praticamente,
nas potencialidades profissionais que possuem e na co-responsabilidade entre
Educador – família – adolescente e Poderes Públicos em sua atuação no mercado
de trabalho; vislumbra também, e com considerável preocupação, a melhor
interação entre o adolescente e seus parentes, pois a participação familiar é
imprescindível nesse processo de humanização e, frente à constatação da
condição desumanizada da própria família, o trabalho do Educador transcende a
pura Burocracia e, inclusive, os limites temporais, e é nessa transcendência
que habita a essência da Técnica apaixonada.
Investindo
nessas esferas, o Educador aproxima o adolescente de si mesmo, tendo em vista a
necessária interação das partes, como opositores de uma sociedade excludente.
A
Pedagogia do Oprimido é posta em ação na medida em que o adolescente vive a
experiência paulatina de aquisição da consciência de sua incompletude, processo
este, em que ele vai assimilando sua condição de historicidade e desvelando a
realidade de opressão que o faz oprimido e desumanizado. Ainda que pareça
paradoxal, mas é na consciência da opressão que o adolescente começa a viver a
incipiente trajetória da libertação.
Há
beleza em afirmar que nesse caminho para a libertação, o Educador Social se
apresenta como uma ponte que, na sua condição de ponte, aprende do e no próprio
caminho por onde permite passagem e por onde se permite passar. Vive-se, nesse
momento, a experiência da comunhão e Paulo Freire retrata esse instante
afirmando “que ninguém liberta ninguém; ninguém se liberta sozinho: os homens
se libertam em comunhão”.
Reside,
nessa expressão absolutamente interativa, uma clara consciência de que, no
processo de acompanhamento da execução da medida socioeducativa o Educador
também aprende do ser humano que é o adolescente e a partir dele se liberta, e
nesse vinculo, ambos se humanizam progressivamente.
Gilson
Reis
05.06.13