quinta-feira, 22 de novembro de 2012

HAITI - BRASIL

Quando você for convidado pra subir no adro
Da fundação casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos e outros quase brancos. Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos (E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados



E não importa se os olhos do mundo inteiro
Possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque um batuque
Com a pureza de meninos uniformizados de escola secundária
Em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada: Nem o traço do sobrado; Nem a lente do fantástico,
Nem o disco de Paul Simon; Ninguém, ninguém é cidadão

Se você for a festa do pelô, e se você não for
Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

E na TV se você vir um deputado em pânico mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo, qualquer, qualquer
Plano de educação que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização
Do ensino do primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco
Brilhante de lixo do Leblon



E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo
Diante da chacina
111 presos indefesos, mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres e todos sabem como se tratam os pretos

E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba


Pense no Haiti, reze pelo Haiti
O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui
                                                                   Caetano Veloso
Por Gilson Reis
22.11.12


terça-feira, 20 de novembro de 2012

...E O MUNDO VAI VER UMA FLOR BROTAR DO IMPOSSÍVEL CHÃO...


Parto do texto de minha amiga Conceição, publicado ontem neste blog, para republicar a reflexão que segue, já postada no ano de 2011.  "O mês de novembro foi escolhido pelo Movimento Negro Brasileiro, e assim tem-se popularizado, por razões significativas, como o mês da Consciência Negra, sendo celebrado no dia 20 desse mês o Dia Nacional da Consciência Negra, em memória ao líder Afro-Brasileiro, do Quilombo dos Palmares: Zumbi, nascido no Estado de Alagoas no ano de 1655 e morto no dia 20 de novembro de 1695.
Zumbi, segundo consta a História, fora um grande líder da resistência negra à escravidão. Entre muitos significados do nome Zumbi, destacam-se: “A força do espírito presente, morto-vivo, Deus da guerra”.
Trata-se de ocasião oportuna para mexer em feridas abertas, que quase sempre evita-se tocar pois a celeuma, quando o tema em questão é de ordem racial, é mais do que certa. As razões para isso são várias e ao longo desse mês podem ser um pouco mais aprofundadas.
Todos, negros e não negros, estão convidados a refletirem sobre a problemática em questão. Esse convite se dá pelo fato de que muitas vezes os problemas vividos pelos negros, em função de sua História no Brasil, não são abraçados pelas pessoas em geral. Quase sempre, as discussões sobre os assuntos pertinentes à negritude são encabeçadas pelos Grupos Negros, Politicamente Organizados, enquanto deveriam ser de pertinência de toda sociedade brasileira.
O mês de novembro serve, dessa forma, como referencial para que se possa pensar de maneira mais acentuada sobre os desafios enfrentados pelos negros ao longo da História Brasileira, seja do ponto de vista econômico, social, psicológico, religioso, acadêmico, etc." Aproveito a ocasião para informar sobre os vários eventos culturais no dia de hoje na cidade de São Paulo: Fabiana Cozza, no Parque da Juventude; Emicída e Martinho da Vila, no Ibirapuera; Cuti (escritor, poeta),  na Casa das Rosas; Marcha da Consciência Negra com o lema "Cotas sim, Genocídio Não".  

Foto

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Ode à Luta do Povo Negro


Em 20 de novembro de 1695 morria após uma emboscada o líder do Quilombo de Palmares – Zumbi, como ficou conhecido. Foi assassinado por causa da sua luta contra todo tipo de injustiça e de exploração ou  desrepeito à pessoa. Após sua morte, muito seguiram seu exemplo. Hoje homenageio todos aqueles e aquelas que não se calaram diante da opressão ou perseguição por causa da luta em prol da dignidade humana. Todos que derramaram sangue e suor pelo povo brasileiro negro e pobre saibam que sua luta não foi em vão. Hoje o Brasil é uma nação mais justa. O povo negro a cada dia que passa tem mais voz e vez. Nossas crianças já sonham com um futuro brilhante, sem ninguém para lhe dizer “isto não é para você”. Nossos jovens vão à universidade  e são tratados com dignidade e respeito. As mães hoje choram mas de alegria e felicidade por ver seu filho vitorioso. Já vencemos todas as guerras? Não. Ainda há muito o que fazer, das muitas vitórias. Muito obrigada a todas as pessoas que nos antecederam nesta luta.  Martin Luther King, um dos grandes seguidores da luta liderada por Zumbi, em um dos seus discursos disse “ talvez não tenhamos conseguido fazer o melhor, mas lutamos para que o melhor fosse feito. Não somos o que deveríamos ser, não somos o que iremos ser, mas graças a Deus, não somos o que éramos”. Viva Zumbi! Viva o povo negro brasileiro!

Sonho (Im)possível


Sonhar mais um sonho impossível
Lutar quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender

Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite improvável
Tocar o inacessível chão

É minha lei, é minha questão
Virar este mundo, cravar este chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz

E amanhã se este chão que eu beijei
For meu leito e perdão
Vou saber que valeu
Delirar e morrer de paixão

E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão