Os
primeiros passos no cumprimento da medida sócio educativa são marcados pela
indisposição em aceitar uma responsabilidade inesperada. A Medida de Liberdade
Assistida, por exemplo, não é LIBERDADE! Daí a visível dificuldade de aceitação
e do cumprimento do seu processo de execução. O Educador tem a significativa
missão de reverter essa resistência numa disposição em busca da verdadeira
Liberdade.
É
preciso ousar! A Liberdade da Liberdade Assistida começa na relação entre
Educador e Adolescente, pois, se nessa relação esse objeto de desejo não se
apresentar como perspectiva real, o sentimento de desumanização cicatriza-se e,
é essa cicatriz que deve ser evitada na pele dessa adolescência que sonha,
mesmo quando destrói os sonhos de outros. Portanto, o Educador é aquele que
luta pela criação de uma situação nova – o “Ser mais” - gerada da percepção de
uma adolescência oprimida. Na medida em que esse ato se entranha nele e o
adolescente o assimila, possíveis feridas são enxergadas com mais clareza,
desencadeando uma ação transformadora.
Até
então, esse adolescente experimenta uma antítese caracterizada pela
inferioridade/superioridade, que se constitui um foco desencadeador de
conflitos e infrações, pois, na medida em que se sente inferiorizado, responde
com um ato de suposta superioridade: “Eu tenho poder! É preciso que haja entre
os parceiros, uma sintonia de consciência da realidade oprimida e de impulso transformador
para que ocorra uma cisão entre a situação infracional e se vislumbra um novo
horizonte na distância da ponte que se atravessa. O final da ponte nunca é o
limite! Ela é um transcurso que desemboca numa nova paisagem.
No
decorrer do cumprimento da Medida sócioeducativa, o vinculo entre Educador e o
adolescente é de fundamental importância no processo de formação humana. A
humanização do adolescente torna-se a própria humanização do Educador, pois
nenhum ato de valorização do humano esgota-se na satisfação do outro, mas
também daquele que a executou, por isso, nos tornamos mais humanos quando
agimos de acordo com valores dignos e edificantes.
O
profissional qualificado para relacionar-se com o adolescente, portanto, aquele
que compreende o diferencial característico dessa fase, seus desafios,
conflitos e sonhos, precisa ser um agente provocador do inerente potencial
empreendedor que possuem, muitas vezes, deficientemente aproveitados, por que
poucos valorizados e interpretados como rebeldia sem causa. O Educador precisa
escutar a respiração do adolescente, ela é ansiosa e pulsa em acelerado
movimento.
Na
construção do vinculo ambos constroem uma relação de confiança e
interatividade, estabelecendo-se então, um projeto de reestruturação do humano,
antes desumanizado. Juntos, buscam outros sentidos e outros horizontes num
processo em que a perspectiva do protagonismo juvenil vai se efetivando e o
adolescente desenvolve a autoconsciência de suas habilidades e, principalmente,
da melhor utilização das mesmas. É o estágio da percepção dos problemas e da
necessidade de encará-los de forma diferenciada, não como impulsionador de
outros, como a infração, mas como desafio a ser vencido, como afirma Paulo
Freire:
“Quanto mais se problematizam os
educandos, como seres no mundo e com o mundo, tanto mais se sentirão
desafiados. Tanto mais desafiados, quanto mais obrigados a responder ao
desafio. Desafiados, compreendem o desafio na própria ação de captá-lo. Mas,
precisamente porque captam o desafio como um problema em suas conexões com
outros, num plano de totalidade e não como algo petrificado, a compreensão
resultante tende a tornar-se crescentemente crítica, por isso cara vez mais
desalienada”.
Até quinta feira com mais reflexões
Freireanas
Gilson Reis
23.05.13