Que me venha Cora Coralina! Venha! Eu também “não sei se a vida é
curta ou longa demais para nós”! Certeza eu tenho que é preciso “Tocar o
coração das pessoas”, e ai vive-se eternamente.
6 anos que o Naldo realizou a travessia para o mistério. Fio da
P nem deu mais notícia! Deve estar ocupado com as travessuras que tanto prendia
as atenções de quem o via travessurar. Permito-me inventar expressões, afinal
falo de Naldo, cuja criatividade não cabia no coração mais largo. Eu
travessurava com ele.
Hoje me peguei pensando o que teria vivido se estivesse cá...
nada disso tenho como certo, afinal a vida, aqui, também é um labirinto de
travessias e mistérios. Mas eu me imaginei sorrindo! Sim, a vida com Naldo só
cabia dentro da magia do sorriso! Mas não só. Por isso me imaginei
despedindo-se de lágrimas engravidadas! Sim! Por que a vida com o Naldo só
cabia dentro do que era intenso e visceral! E tudo engravidava! Acho que parimos
sonhos a dar de vista! Pois cada encontro com ele era uma oportunidade
degustada com requintes de intensidade. Até no silêncio.
E eu também me imaginei mais feliz! Sim, por que apensar de
questionar a felicidade, era dela que se servia no banquete das amizades. Não
precisava de muitos motivos para vivê-la, afinal, como disse Carlos Drummond de
Andrade, ser feliz sem motivo é a forma mais autêntica de felicidade. Sinto que
é o mesmo que Guimarães Rosa expressa ao dizer que Felicidade se acha em
horinhas de descuido.
Não sou mais feliz
hoje, que há dois anos passados. Não se pode. Impossível! No mínimo, sou mais
otimista. O pedaço de felicidade que o Naldo ocupava está ai...num vácuo que
não se preenche nunca. A Alma de quem perde é visitada por uma tristeza profunda. Mas tristeza é
inspiração desmedida! Como assim sentiu o Poeta Vinícius de Moraes que
de-li-ci-o-sa-men-te escreveu e cantou que “Pra fazer uma samba com beleza é
preciso um bocado de tristeza, se não, não se faz um samba não...”. Invadido
por tão expressivo sentimento, pode-se lançar-se a ele como um compositor
apaixonado que se embriaga, perseguindo a beleza e, assim, a intensidade da
perda guarda uma aprendizagem grandiosa.
Amigo é pra ser ter como preciosidade, portanto eterno. Pedaços
deixados por eles não se ocupam! E agora nem importa entender! Clarice
Lispector eternizou o sentido da existência quando registrou que não nos
preocupássemos com o ‘entender’ pois, viver ultrapassa todo entendimento. A
Poetiza do não entendimento fala da Rosa como “flor feminina que se dá toda e
tanto que para ela só resta a alegria de se ter dado”
É isso, querido Naldo...
Obrigado pela alegria de se ter dado!
Gilson Reis
31.05.18