sábado, 22 de outubro de 2011

Os trens de Minas Dagô-sto ler

Acordo as seis horas e depois do primeiro naco do queijo curado e do gole de cafezinho fresco, ponho-me a digitar impressões sobre a noite de ontem, quando comecei a viagem para embarcar num trem, lá na Avenida Paulista.
Deixei no ventre da cidade grande as pegadas de dois sapatos, rumo ao ponto do coletivo. Ônibus Vila Mariana da linha 8002, sento-me na poltrona 17 e por não ter assunto, sem motivo, faço uma coleta seletiva em meus próprios pensamentos. Folheio em minha mente o álbum de família. Um filho, três filhas, um neto.
Nos momentos de maior inquietação sou essa metamorfose ambulante, que propaga aos quatro cantos que viver é uma profissão de fé. Nos momentos de lucidez, trilho os caminhos de poesia, essa flor morena, que resgata a vida e tal qual Fênix, ressurjo das cinzas e em dois tempos alço voo calado sobre um viaduto que treme. Estamos em São Paulo, uai!
Congestionamento brabo, sô! Mas já estamos na Paulista.
Prá te dar um breve perfil brasileiro desse povo, o cobrador do meu ônibus se vale do congestionamento para se lançar pela janela e zapt!, colher pitangas de uma pitangueira que vejo pela primeira vez, ali, plantada em frente ao número 1079 da avenida.
Estou chegando ao meu destino, aperto um botão, parada solicitada e a passageira desconhecida desce e percorre a curta distância que a separa das Fontes do conhecimento. Prenome: Martins.
Quanta gente, mãe do céu!
Pivete, Marquinhos, bancários, escriturárias, mendigo por opção, resto de gente que corre, sem tempo, sem vida, economistas que após o fechamento do pregão, não medem esforços, inconsequências, e na dívida de ser sputnik, correm atrás do pão vosso de cada dia.
Sinceramente, quem sofre de síndrome do pânico não deve se sentar na calçada dessa avenida, para fazer bolinhas de sabão.
Cheguei! Já ouço o primeiro canto de um garoto ruivo, lindo como um anjo. Banquinho e violão.
Caminho pela livraria a procura de um rosto conhecido e o primeiro que encontro é o de Laudecir. Estabeleço contato. Poema feito de um olhar.
Agora, quem adentra no recinto é Bruno, e o pressinto pois quando ele anda, a luz o acompanha. Andaluz.
Ela vem chegando... Odê, gente da melhor qualidade. Possuidora de misteriosa magia.
A livraria começa a lotar e como antítese a esse burburinho, começo a sentir uma liberdade, a vida em sonho, a girar como navestrela.
Descendo as escadas, vejo poeta explicando um passarinho. Gilson, sois Rei!, meu poeta...
O pássaro ao qual me referi é Francimar. Que voz! Que canções inspiradas...
Vejo Isa, amante eterna, que gentilmente dividiu conosco a alegria da fecundação e do nascimento do primeiro livro solo de Dagô.
Maternal, sob o signo da lua, Luiza, tão meiga, tão doce e ao mesmo tempo, tão guerreira...
De olhos vendados, entra o poeta, conduzido que foi pela lua e ela: Elza.
Tirada a venda, olhos arregalados ao ver pai e mãe e irmão e amigos e amada e entre laços e abraços, nesta sexta feira, um revólver? Não. Uma caneta!!!
Emocionado, recebe de A a Z sempre com a mesma atenção, sempre com o mesmo sorriso, sempre com o mesmo abraço. Dagô-sto esse abraço!
Vinho para os poetas, água para os sensatos, música para todos, pérolas aos poucos na voz profunda de Fredy Fevereiro. Devia ser pro ano todo!
Como tudo que é bom também acaba, saímos para acordar a mulher que dormia e numa tentativa poética social, sentamos na mesa de um bar, Gilson, Akins, Beth, Odê, Luiza, Francimar, Laudecir e eu, e realizamos ali mesmo, um sarau envolvendo o livro recém adquirido e poemas dedicado a alguém, de Akins Kinte. Punga!
Semeamos vento na cidade.
Não só um bêbado, mas todos os bêbados ouviram. Ah! ouviram!
Alguns feito de palha, alguns filho da pedra, outros já sonhando com o peru de natal. E nós ali, bebendo a tempestade. E as cervejas.
A banda passou e foi cada um pro seu canto.
Estou só. Só resta recordar. Resta agradecer a Dagô o fato de ter chegado em primeiro lugar na corrida dos espermatozoides.
Mas que foi bom o arremate, ah! isso foi!
Hoje é sábado.
Vou ler a broa de milho com muita erva doce, quentinha, saidinha do forno.
Vou devorar o livro do poeta. Deve Dagô-sto de saborear...
Os trens de Minas.
Tô embarcando!
Ô trem bão, sô!!!

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

ELOGIO

Quem não gosta de elogio que atire a primeira pedra.

Acabei de guardar minhas pedras, por que assumo minha felicidade diante de um elogio. Mas cada elogio dispara um sentimento diferente, alguns até descartamos com certa rapidez, outros são suficientes para um só dia de graça, mas há outros que o colocamos no rol das preciosidades e o guardamos com o cuidado de uma mãe afetuosa

É desse último que eu quero falar nesta postagem.

O elogio simples, puro, sincero e belo de uma adolescente poetisa, de uma das Unidades de trabalho que eu, Orientador Pedagógico, acompanho na ONG Bom Parto. Organizando um evento cultural, sugeri que a pequena grandiosa Poetisa organizasse seus poemas para produzir um pequeno expressivo livro. Ela se desmanchou em felicidade, por que ela tambem adora um elogio. Com a ajuda das Educadoras o livro foi produzido, com uma elaboração ainda básica, mas o brilho acabou sendo o mesmo.

Tamanha foi minha surpresa quando vi o livro e apos desfilar meus dedos por entre as folhas ilustradas e poéticas, eis que na penultima página encontro um poema a mim dedicado... entre arrepios e olhos brilhosos, eu o li...


A você Gilson Reis

Aqui tudo é alegria, diversão e sabedoria
Tudo por um unico amigo
Por causa do nosso parceiro Gilson
Eu sou Luana Monção, sou Pernambucana
Gosto de ciencias e lugares culturais
Você, meu amigo Gilson, tambem Pernambucano
Gosta de filosofia e culturas regionais

É do meu coração
Você é meu amigo de montão
O meu agradecimento pela sua compreensão
E o nosso orgulho pela sua dedicação
E esta carta que com carinho pra você escrevo
Com minhas prórpias mãos.

Você é especial e o amor nao tem fim
E peço a Deus pra abençoar
A você e a mim.
                                    Luana Monção.

No dia do evento cultural ela escolheu um poema para recitar e minha alegria não teve descrição quando da própria boca dela este poema a mim dedicado foi expresso.

Pois é... o elogio de uma criança entra no rol das reliquias que guardo.
É bom “né” quando agente sente que fez alguma diferença na vida de alguem   ?

Cheiro de sinceridade
Gilson Reis

terça-feira, 18 de outubro de 2011

“SERMÃO DA MONTANHA”

São muitas as datas comemorativas. Cada uma com seu significado especial. No último dia 15 foi o dia do Professor, pessoas amadas e odiadas, diga-se de passagem, haja visto as notícias envolvendo a vida desses profissionais nos últimos dias, meses, anos.

O diálogo abaixo é uma forma descontraída, não menos séria, de se pensar no ofício do Professor, que o autor, Professor Eduardo Machado, faz ao estabelecer uma relação entre a atividade do Grande Mestre, Jesus, ao pronunciar o Sermão da Montanha aos seus discípulos, como se eles fossem alunos de uma escola contemporânea.

Naquele tempo, Jesus subiu a um monte seguido pela multidão e, sentado sobre uma grande pedra, deixou que os seus discípulos e seguidores se aproximassem. Ele os preparava para serem os educadores capazes de transmitir a lição da Boa Nova a todos os homens. Tomando a palavra, disse-lhes:

- "Em verdade, em verdade vos digo:
Felizes os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus.
Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.

Felizes os misericordiosos, porque eles..."
Pedro o interrompeu:
- Mestre, vamos ter que saber isso de cor?

André perguntou:
- É pra copiar?

Filipe lamentou-se:
- Esqueci meu papiro!

Bartolomeu quis saber:
- Vai cair na prova?

João levantou a mão:
- Posso ir ao banheiro?

Judas Iscariotes resmungou:
- O que é que a gente vai ganhar com isso?

Judas Tadeu defendeu-se:
- Foi o outro Judas quem perguntou!

Tomé questionou:

- Tem uma fórmula pra provar que isso tá certo?

Tiago Maior indagou:
- Vai valer nota?
Tiago Menor reclamou:
- Não ouvi nada, com esse grandão na minha frente.

Simão Zelote gritou nervoso:
- Mas porque é que não dá logo a resposta e pronto!?

Mateus queixou-se:
- Eu não entendi nada, ninguém entendeu nada!
Um dos fariseus, que nunca tinha estado diante de uma multidão, nem ensinado nada a ninguém, tomou a palavra e dirigiu-se a Jesus, dizendo:
- Isso que o senhor está fazendo é uma aula? Onde está o seu plano de curso e a avaliação diagnóstica? Quais são os objetivos gerais e específicos? Quais são as suas estratégias para o levantamento dos conhecimentos prévios?
Caifás emendou:
- Fez uma programação que inclua os temas transversais e atividades integradoras com outras disciplinas? E os espaços para incluir os parâmetros curriculares gerais?
Elaborou os conteúdos conceituais, procedimentais e atitudinais?
Pilatos, sentado lá no fundão, disse a Jesus:
- Quero ver as avaliações da primeira, segunda e terceira etapas
e reservo-me o direito de, ao final, aumentar as notas dos seus discípulos para que se cumpram as promessas do Imperador de um ensino de qualidade. Nem pensar em números e estatísticas que coloquem em dúvida a eficácia do nosso projeto.
E vê lá se não vai reprovar alguém! Lembre-se que você ainda não é professor titular... Perplexo, Jesus retirou-se para o monte e orou: “Pai, em tuas mãos entrego meus discípulos".

domingo, 16 de outubro de 2011

POÉTICA





















Pra que serve minha poesia?

Qual seria a sua serventia?

Se passa noite e vira dia,

Palavra, língua selada sem leitura ou ousadia?

O verbo se revira na virtualidade de uma tela branca, de vida vazia?

De um espaço sem nome e identidade tardia,

Disse, diz e dirá à quem essa tal poesia?

E, se mesmo ciente dessa realidade fria,

Insisto e persisto no palavrório desta elegia.

Faço-me poeta, crendo e contendo sua suposta magia...


15/10/2011 – 18:08
Chiquinho Silva