sexta-feira, 4 de maio de 2012

Tempo do vento (Silvania Silveira)

Hoje postarei um poema de Silvania Silveira, poeta das mais sensíveis que já cruzaram o meu caminho. Silvania, como presente de seu aniversário, permita-me brindar nossos leitores com biscoito fino.

Tempo do vento

O que me consola
ao passo que desola
é saber que passa o tempo;
pai do vento
amigo do senso
carrasco do lento.

O que me consola
ao tempo que desola
é saber que o tempo passa;
tempo leal
tempo real
tempo fatal.

Magnânimo tempo!

Silvania Silveira
Dezembro/1999

Gente, não ficou um gosto de quero mais???


quinta-feira, 3 de maio de 2012

O QUE TRAGO NA MALA

proximasferias.com.br


Sou
Esta incompletude histórica
Trago na mala
O que me constituii

Sou
Esta histórica incompletude
Que constitui a mala-vida
Com sabores de travessia

É histórica esta incompletude
Por vezes leve
Outras vezes leviana

É incompleta esta história
No peso de sua mala
Uma certeza de “vazio” inquietante

Folha em branco
Pincelada
A colorir...

Gilson Reis
03.05.12





quarta-feira, 2 de maio de 2012

UM GRITO PELO RESPEITO

Para que as crianças e adolescentes cheguem com saúde na idade adulta,
que haja respeito.
Para que não haja tantos loucos e loucas pelas ruas,
que haja respeito.
Para que não haja caos no trânsito,
que haja respeito..
Para que os jovens não desistam de viver,
que haja respeito.
Para que os namorados se preparem para o amor a dois,
que haja respeito.
Para que nas famílias a convivência seja feliz,
que haja respeito.
Para que o trabalho também seja de prazer,
que haja respeito.
Para que as chuvas cumpram suas funções,
que haja respeito.
Para que no futuro haja mais paz...
que haja respeito.
Que cada um reconheça onde e em que precisa respeitar...

terça-feira, 1 de maio de 2012


“O QUE ME ASSUTA NÃO É O GRITO DOS MAUS. É O SILÊNCIO DOS BONS”

Hoje, 1º de Maio, Dia do Trabalhador, data oportuna para parabenizar todos aqueles que labutam cotidianamente para colocarem o pão de cada dia em suas mesas. Parabéns!!! O texto que se segue bem que poderia continuar falando sobre o trabalho, entretanto, outro acontecimento que se deu na semana passada, a constitucionalidade das cotas para negros nas universidades públicas, aprovada por unanimidade no Supremo Tribunal Federal, é o assunto desta postagem.
Desde que algumas Universidades Brasileiras adotaram a política de cotas raciais como um dos instrumentos de admissão dos seus alunos muitas discussões em torno da questão têm sido afloradas. Seria essa medida Constitucional ou Inconstitucional? É Justa ou não é Justa? Enfim, uma série de interrogações tem sido pauta desse debate que veio à tona com impulso. 
Em uma sociedade, historicamente racista, esperar que uma medida em favor dos negros consiga apoio geral da sociedade é uma ilusão. Há evidentemente posições favoráveis e contrárias. Assim foi em outros países, tais como, Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Índia, Alemanha, Austrália, Nova Zelândia e Malásia, entre outros, e assim tem sido no Brasil. Essa resistência passa não só por uma questão racial, mas também de classe social. “As elites brasileiras não aceitam medidas eficazes de combate à desigualdade educacional, econômica, social, etc. Há, inegavelmente, um agarramento aos privilégios seculares, protegidos por interesses corporativos.” GUIMARÃES (2002, p.70). Daí, em grande medida, a resistência para com qualquer medida que vise uma transformação significativa na ordem estabelecida da pirâmide social. A resistência do acesso se dá na esfera da educação, da terra, da moradia, da saúde, etc.
O discurso mascarado da suposta igualdade, tão intensamente defendido pela elite chega às massas como legítimos, através dos meios de comunicação, de seus aparelhos ideológicos mantenedores das desigualdades sociais, historicamente construídas. É comum deparar com pessoas pertencentes ao nível mais baixo da pirâmide social reproduzindo o discurso legitimador da manutenção dos privilégios da elite. Pessoas que nunca conseguiram entrar em uma universidade, qualquer que seja o curso, mas elas são contra as políticas de acesso à educação, inclusive as cotas; pessoas que nunca tiveram um pedacinho de terra, nem onde caírem mortas (como se diz no interior), acharem que a luta pela Reforma Agrária é um absurdo; pessoas que a vida inteira, gerações após gerações pagam aluguel, se posicionarem contra os movimentos de luta por moradia; pessoas que tiveram antepassados mortos em filas de hospitais públicos por falta de atendimento assumirem uma postura absolutamente passivas frente ao caos da saúde pública.
Vale lembrar que muitas pessoas que hoje levantam as vozes contrárias às cotas, pouco ou nada fizeram/disseram enquanto os negros estavam fora das universidades, décadas a fio em que esse espaço fora quase que exclusivo da “elite branca” do País. Enquanto os negros e outras minorias estavam fora do espaço de ensino superior essa realidade foi encarada com razoável ou absoluta naturalidade. O Ministro Luiz Fux, na última quinta-feira, ao votar favorável às cotas, lembrou: “A abolição da escravidão não seguida de políticas como a das cotas nas universidades acabou por atribuir ao negro a culpa pelos seus próprios problemas. Uma coisa é vedar a discriminação racial; outra coisa é implementar políticas que levem à integração social dos afrodescendentes”, na linha de que a verdadeira igualdade é tratar desigualmente os desiguais.

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Despeço-me de vos sem que estejais


Despeço-me de vos sem que estejais.

Assim te deixo querida minha, alma renegada

Na sua ausência vou a caminhar pelos campos,

Perdido procurando o amanhecer que se tarda a chegar,

Nuvens escuras que cobrem o encantamento de vislumbrar-te

Lembrando o luar que outrora nos uniu em gestos oblíquos.

Despeço-me de vós sem que estejais.

Para não olhar o desencanto do olhar a desviar do meu.

Ocultando-me das lágrimas que insistem a romper o obstáculo que não às contém,

Fugindo dos infortúnios e de palavras que gritam e ecoam no céu da boca,

Transformadas em agressões pela indelicadeza da incompreensão deveras exaltada.

Despeço-me de vós sem que estejais.

Deixando o traço dos restos mortais que em mim sem querer secam,

Como folhas que no outono caem, abandonando para trás o que mais lhe brandia,

Assim como água que debaixo da ponte passa, sem que lhe digam o destino a cumprir,

Feito aves que no atordoamento de uma tempestade, voam de olhos serrados para os proteger.

Despeço-me de vós sem que estejais.

Na casa vazia que o eco anuncia o vácuo do interior meu (e seu),

Numa gota que cai soando como sinos das mais elevadas catedrais,

Anunciando o momento futuro que a de vir e partir sem me esperar,

Não importando-se com as consequências difusas da nova vida de desventura.

Da repetição dos passos que para a saída me levam sem que um esforço sequer eu faça.

Despeço-me de vós sem que estejais.

Na imagem de seu sorriso de alegria quando te entregava ramalhetes de margaridas.

Lembrando-se das palavras cálidas sussurradas no ouvido, ditas só para ti.

Brigando com um mundo que a fazia atracar-se pelos melhores desejos de humanidade.

Silenciando o tempo que parava para ouvir sua respiração, ofegante e linda.

Despeço-me de vós sem que estejais para enfim poder partir

Para buscar a vida que quase não queria viver

Mas para abraça-la da forma inteira com a intensidade do universo e,

Perder-me-ei dentro dela em busca da felicidade a mim prometida.

Seja como for, agora, decidido, despeço-me de vós.

Quando chegares, sabes que não mais estarei.