quinta-feira, 14 de março de 2013

El Barco - Pablo Neruda


Luisa, a Mulher que homenageei neste Blog, nos enviou este belo Poema de Pablo Neruda.



Pero si pagamos nuestros pasajes en este mundo 
por qué, por qué no nos dejan sentarnos y comer?
Queremos mirar las nubes,
queremos tomar el sol y oler la sal,
francamente no se trata de molestar a nadie, es tan sencillo: 
Somos pasajeros.


Todos vamos pasando y el tiempo con nosotros: pasa el mar, se despide la rosa,
pasa la tierra por la sombra y por la luz,
y ustedes y nosotros pasamos, pasajeros.


Entonces, qué les pasa?
Por qué andan furiosos?
A quién andan buscando con revólver?


Nosotros no sabíamos
que todo lo tenían ocupado,
las copas, los asientos,
las camas, los espejos,
el mar, el vino, el cielo.


Ahora resulta
que no tenemos mesa.
No puede ser, pensamos.
No pueden convencernos.
Estaba oscuro cuando llegamos al barco.
Estábamos desnudos.


Todos llegábamos del mismo sitio.
Todos veníamos de hombre y de mujer.
Todos tuvimos hambre y pronto dientes.

A todos nos crecieron las manos y los ojos
para trabajar y desear lo que existe.

Y ahora nos salen con que no podemos,
que no hay sitio en el barco,
no quieren saludarnos,
no quieren jugar con nosotros.



Por qué tantas ventajas para ustedes?
Quién les dio la cuchara cuando no habían nacido?

Aquí no están contentos,
así no andan las cosas.

No me gusta en el viaje
hallar, en los rincones, la tristeza,
los ojos sin amor o la boca con hambre.

No hay ropa para este creciente otoño
y menos, menos, menos para el próximo invierno.
Y sin zapatos cómo vamos a dar la vuelta
al mundo, a tanta piedra en los caminos?


Sin mesa dónde vamos a comer,
dónde nos sentaremos si no tenemos silla?
Si es una broma triste, decídanse, señores, a terminarla pronto, a hablar en serio ahora.

Después el mar es duro.
Y llueve sangre.

Obrigado Querida!
Gilson Reis - 14.03.13




quarta-feira, 13 de março de 2013

FALE POSITIVAMENTE

Fale-me das coisas boas
De tudo que te faz grande
Do sol que te ilumina o dia
Da chuva fina no final da tarde
Ou mesmo das trovoadas

Fale-me da noite que lhe deu o descanso
Do colchão próprio para seu corpo
Dos sonhos que te transportaram
Para lugares inimagináveis
Ou mesmo dos pesadelos

Fale-me que hoje está tudo bem
Que não permitirá que nada te atrapalhe
Que só queres fazer o bem
Andar de cabeça erguida
Ou mesmo que precise baixa-la

Fale-me que só a felicidade
Estará com você hoje
No encontro com os amigos
No desempenhar das tarefas
Ou mesmo que não faças nada.

Fale-me...

Luiza André

terça-feira, 12 de março de 2013

PARA BRISA


   Lançamento, 12 de março, no Sarau Suburbano Convicto.

Prefiro você
a ser triste
pensei
nunca disse
mas escrevo.
Escrevo
e sou agora minha própria escrita
figura e linguagem
figura de linguagem
um velho pugilista
que sobe ao ringue com o pé quebrado
e na metade do primeiro assalto
depois da esquiva
um gancho e dois cruzados
preso às cordas desacredita
- o único homem a ser desafiado.

Soul
o que sempre quis
dragão e lança
queda e dança
rei e réu
rio e rã
- Rá
                Retirante de mim

Soul
método e desobediência
método de desobediência
um prisioneiro na solitária
que serra uma grade de aço por ano
e faz dum plano de fuga sua oração diária
Coragem!
impulso que precede o passo
o salto
a rebelião.
Sua paz não é calma
Sua paz não é ordem
É_________.

Soul
vício e devoção
um morto que senta pra comer sua marmita simples
e ao abri-la ao invés do arroz branco e puro de sempre
uma pedra
não sustenta
não dá forças
inspira.

Sem rodeios
rascunho
 palavra e silêncio
palavra e _________.

Na dúvida, sou um tal eu
sem pêsames nem parágrafos
sou para-quedas / parapeitos
paradigmas / para-lamas
parabéns /paranoias
para-chouqes / para-raios.
Para nada e pra o que for preciso
Sou para viagem e para brisa.

Entre o vazio de lábios e olhares perdidos
Sinto que hoje ainda vale a ida.
Mas se nossa história não couber nos livros
Acabo aqui esse poema e vou pra lida.

Ni Brisant

segunda-feira, 11 de março de 2013

Por que é tão difícil construir a genealogia de um afrodescendente?

Por que o Brasil negou à população negra, durante séculos, o direito a uma família. Assim adquiriu uma dívida impagável nos diz Afonso Ligório Soares. Pós - doc pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, doutor em Ciências da Religião pela Universidade Metodista, desenvolve pesquisas nas áreas de Ciências da Religião, Teologia, Ética, Ecumenismo, entre outras e é professor na PUC – SP. Ele nos chama atenção para o fato de que a história da dívida social brasileira para com as famílias descendentes de africanos confunde-se com o próprio sangramento imposto à África pelo tráfico internacional de escravos. Em seu artigo “a dívida para com as famílias negras”, nos mostra que a escravidão africana começou timidamente em algumas ilhas de possessão portuguesa no Atlântico, e que depois passaram a ser o que se chamou de laboratório para o Escravismo nas Américas. O Brasil entrará neste processo somente 100 anos depois. A experiência satisfatória nas ilhas animou todos a dar o passo decisivo: as Américas. Logo o Brasil será o grande campeão do tráfico negreiro: 38,1% dos africanos chegados às Américas vieram pra cá. Esse imenso contingente de população escrava e não cidadã deu o tom de toda a história da Colônia e do Império. Em breve: nós somos uma nação que, na maior parte de sua história, teve como maioria uma população em cativeiro, subjugada pelo regime de escravidão. Uma população de não brasileiros, que custará caro às famílias africanas, pois em quatro séculos a África perdeu de 65 a 75 milhões de africanos; e aos seus descendentes. Este mercado vai exigir cada vez mais mão de obra; e a mão de obra especializada vai ser a africana: masculina e jovem. Foi privilegiada a aquisição de varões. O africano trazido para a América na condição de escravo era tratado como peça e vendido individualmente. Nunca houve preocupação em proporcionar um grupo social oficial para esta população. O filho de escrava/o, mesmo branco, era escravo e não acompanhava a mãe quando vendida/o. De modo que o tempo passa e, à população negra será negada a possibilidade de formar uma família. Até houve casamento entre escravos, porém diante da necessidade de comercialização de um dos dois, isto era feito sem maiores preocupações. O afrodescendente buscará formas de se associar a um grupo. A religião será um destes espaços. O terreiro de Candomblé, os quilombos e as irmandades são exemplos de que o sentido de pertença a uma comunidade a um núcleo familiar permaneceu vivo entre os descendentes de escravos. A herança desta parte da história é observada nos dias de hoje, nos milhares de crianças aptas para adoção que crescem nos orfanatos apenas pelo fato de serem negras; o número de menores com pais desconhecidos é maior entre a população negra; também até pouco tempo atrás, o percentual de homens negros nas prisões era muito maior que o de homens brancos. E suas famílias? Precisamos lembrar que o perfil socioeconômico da população negra da atualidade é resultado da ausência de uma ação efetiva do Estado Brasileiro de promoção e inserção, com igualdade de direito, em nossa sociedade. Isto também explica a baixa alta – estima do brasileiro, que em geral, se ver como inferior aos outros povos, sobretudo quando este outro é europeu ou estadunidense.