quinta-feira, 19 de julho de 2012

BUCHADA DE BODE!


Quando cheguei no Aeroporto de Recife, logo enviei um torpedo (adoro torpedo!) para os amores da terrinha, dizendo: “Voltei Recife! Foi a saudade que me trouxe pelos braços”. Saudade de muitas pessoas, lugares, situações e do “tempero da gente”. Hoje vou falar deste tempero, mais especificamente, da culinária que, dentre outras coisas, deixou minhas férias inesqueciveis!

Chegamos, eu o Valteir, no inico do dia 06 de junho e, ao chegarmos na casa do Aurelio, meu irmão, deu-se início aos prazeres nordestinos com um bom pedaço de queijo coalho! Acho que comi quase dois kilos deste queijo durante as férias, na sua versao natural e assado! Após o descanso noturno, nada mais delicioso que um cuscuz com ovos, inhame e aquele pão bolachao que comia na minha infancia! Depois se seguiram outras delícias. Pamonha e tapioca de coco na casa da mamãe e, no sarau na casa da Ceça e Vilde, a Sula nos presenteou com uma saborosa galinha caipira com polenta. “Mas tem que botar a polenta primeiro menino, depois a galinha com o caldinho”. Disse ela. 

Na Ilha de Itamaracá, para os nativos, desgastada, para os visitantes, bela! Foi lá que almoçamos uma suculenta galinha à cabidela, pretinha, banhada pelo sangue da própria finada. Na Ilha, ainda comemos um peixe de sabor estranho, frito antes de cozido no leite de côco. Não gostei muto, mas ali tinha que comer peixe. Valeu pelo cenário que combinava perfeitamente com o prato!

Eu estava ansioso para comer carne de sol e na mesa de jantar ela ali estava para meu deleite, ainda acompanhada com inhame, era de lamber os beiços! Numa noite disposta à uma cervejinha, lá vao os botequeiros desbravar os sabores. Pimeiro foi a casquinha de siri, uma iguaria marítima que eu não apreciei. Depois o camarão empanado que eu desfrutei, mas era muito pequena a porção para sete famintos. Mudando de boteco, paramos numa esquina barulhenta e de arriscada higiene. Ali ficamos e nos acabamos de comer a porção de arrumadinho, a versao atual da multiplicação dos pães, pois encheu o bucho de 7 farristas e ainda sobrou pra o santo!

Férias em família não pode faltar uma típica comida que enche a mesa e os olhos, que torna-se objeto de curiosidade, “Vou passar na tua casa pra comer heim!” “Hummmmmm! Vou me acabar visse”!. Esse lugar coube às duas buchadas de bode que eu e Valteir fomos comprar no antigo mercado municipal de Camaragibe. À primeira vista não satisfaz os sentidos. O processo de preparação não é simples, a Sula, minha amiga, junto com a Cida, minha irmã, lavou tudo na água e no vinagre, cortou tudinho em picadinhos, costurou e deixou o tempero assentar até o outro dia. Já era domingo e os familiares e amigos vinheram de todas as partes para saborear a comida típica que nao pode faltar em nehuma festa pernambucana.

Saciados, fomos dormir para apreciarmos a tradicional Feira de Caruaru, na segunda feira, com grandes amigos e amigas, onde nos despediamos de uma das mais gostosas férias que eu vivenciei.

Ah! E ao chegar em São Paulo, depois de três horas de atraso no vôo, fomos agraciados com um abastado almoço compensatório, no Congonhas Grill. Ali já era a culinaria tradicional paulistana. Sentimento de estar em São Paulo, com seu friozinho, os movimentos acelerados, o abraço do afeto que espera, a noite chegando, sono cansado, despertador... e é hora de trabalhar.

“Voltei São Paulo! Foi a saudade que me trouxe pelos braços”

Cheiro de bolo de rolo!

Gilson Reis
19.07.12

segunda-feira, 16 de julho de 2012


A Irmandade do Rosário e sua Relação com a Cidade de São Paulo

A Irmandade do Rosário dos Homens Pretos era formada por negros forros e livres que viviam ao lado da igreja de N. Sra. do Rosário, que se localizava no Largo do Rosário. Os irmãos viviam do comércio informal de frutas, legumes, bem como da produção de batata doce, mandioca e pinhão, que eles mesmos plantavam, além da prestação de pequenos serviços domésticos. No mesmo local em que moravam, havia um cemitério onde enterravam seus mortos com rituais da cultura herdada de seus ancestrais. A presença deste cemitério contíguo ao templo sempre foi motivo de cuidados da parte dos pretos, tanto escravos como libertos. A irmandade do Rosário é uma associação de caráter religioso, cujo objetivo é reunir as pessoas devotas de Nossa Senhora do Rosário, bem como está a serviço para ajudá-la em todas as suas necessidades, materiais e espirituais. Enquanto instituição tem característica organizacional própria. É dirigida por um juiz, uma juíza, um rei, uma rainha e outros membros de menor categoria. Estes dirigentes promovem os eventos religiosos e sociais, tais como as procissões, missas, e danças: Congadas, Batuques e Moçambiques. No dia da Santa, havia festejos em sua homenagem. Estes festejos que aconteciam no Pátio do Rosário ficaram famosos e foram conservados até o início do século XX. Ao final da festa, os africanos e seus descendentes acompanhavam o cortejo, tocando instrumentos, cantando e seguindo o Rei e a Rainha até a casa onde seriam servidos brindes aos convivas. Em seguida, ao som dos mesmos instrumentos, voltavam à igreja para participarem da procissão de Nossa Senhora do Rosário. Outra atividade da irmandade que impressionava, eram as cerimônias de sepultamento dos membros da irmandade. Quando enterravam seus mortos, os pretos costumavam socar a terra com um pilão sobre o morto, enquanto cantavam em coro. Este ritual durava a noite inteira.  Porém à medida que a cidade se expandia, estas cerimônias foram rareando até desaparecer. Segundo Leandro Arroyo, “os pretos mantinham o culto desse cerimonial mesmo nos cemitérios, como é o caso desse campo santo que havia ao lado da igreja de Nossa Senhora do Rosário”. É importante frisar que estas atividades aconteciam onde hoje está a Praça Antônio Prado, que se localiza próxima a Ruas 15 de Novembro e início da Av. São João.