O adolescente precisa reconhecer a
situação existencial concreta, aquela que fez parte direta de sua existência e
que o levou a cumprir a medida sócia educativa, bem como, aquela em que o levou
a cometer o ato infracional, portanto, que o antecede.
O
reconhecimento dessa situação existencial explicita e implícita, desenvolve, no
adolescente, o sentimento de participação no contexto social na medida em que o
ato praticado tornar-se objeto de reflexão, junto às conseqüências decorrentes
da mesma e assim, no desenvolvimento da autoconsciência do fato, o adolescente
pode experimentar um incipiente processo de transcendência à situação
existencial almejada.
No
ato infracional há uma responsabilidade do adolescente, pois a realidade
objetiva é um desafio ao qual o mesmo tem que responder, mas, vale salientar
que ela é parte de uma responsabilidade partilhada. Na medida em que o
adolescente sente essa responsabilidade, desenvolve-se também uma concepção
critica do real, inclusive, percebendo-se como desumanizado, portanto,
prejudicado em sua maneira de realizar o oposto do que praticou e assim, buscar
esse contrário que o humaniza.
O
Educador, na sua capacidade de registrar o real, insurge como mediador desse
processo, ajudando o adolescente a visualizar a imagem do já vivido e
estimulá-lo a analisá-la criticamente, como espectador de si mesmo, situado
numa realidade concreta. Nestas imagens, o adolescente precisa encontrar a sua
família, da forma como ela está! A sua Escola e a si mesmo como estudante, da
maneira como essa relação se apresenta e das oportunidades educacionais
existentes; precisa enxergar o seu grupo de amigos, sedutores como normalmente
são, e por vezes, tão “desumanizados” quanto ele.
Como
negar a imagem da sociedade e os vilões sociais que afrontam o ser humano na
sua grandeza de Ser? Essa pergunta surge na companhia de um sentimento de
lamentação, pois, que futuro terão esses adolescentes espectadores e atores de
tão fortes imagens sociais? Que anticorpos serão desenvolvidos para que os
mesmos resistam ilesos, a essa metralhadora devastadora que é a realidade
social vigente?
Pode-se
ser vitima de uma realidade social sem a auto critica da mesma, mas pode-se ser
vitima consciente dos efeitos que ela provoca. Na condição primeira a situação
existencial está fadada a estagnar-se, pois o sentimento do Ser sobre a mesma
ainda encontra-se no plano da imersão a - crítica, portanto alienada; no
segundo estágio, a situação existencial é questionada, e nesta está o
adolescente, questionando a si mesmo e as condições em que se situa.
É
nesta visão de si mesmo e de sua história que o processo de cisão se
estabelece, vislumbrando uma nova paisagem no caminho que, até então, está
trilhando. A cisão é um instante do processo de transcendência do adolescente e
que também faz parte do processo de transcendência do Educador; na confluência
dessas interações uma nova situação existencial se gesta, alimentada pela
criação de vínculos, pela reflexão de temas geradores e inserção no contexto
dos quais fazem parte; dessa partilha de experiências, valores, sonhos e de
sentimentos vai nascendo um Ser, que é outro e que é si mesmo.
No
processo de busca e de discernimento, reside a possibilidade da descoberta da
“interpenetração dos problemas”, que Paulo Freire entende como compreensão da
totalidade. É o momento da problematização dos “temas geradores”, que, no
processo de acompanhamento do adolescente em cumprimento de Medida
Socioeducativa, pode ser expresso, dentre tantas formas, na avaliação periódica
de seu sentimento de Ser social e no planejamento das perspectivas de
efetivação desse Ser; nesse processo o adolescente deve ser visto na
complexidade de seu permanente “vir – a – ser”, onde ele é sujeito do novo ser
que de si desvela-se, progressivamente.
Gilson Reis
04.07.13