quinta-feira, 4 de julho de 2013

PAULO FREIRE E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS: PARTE FINAL.


O  adolescente precisa reconhecer a situação existencial concreta, aquela que fez parte direta de sua existência e que o levou a cumprir a medida sócia educativa, bem como, aquela em que o levou a cometer o ato infracional, portanto, que o antecede.

O reconhecimento dessa situação existencial explicita e implícita, desenvolve, no adolescente, o sentimento de participação no contexto social na medida em que o ato praticado tornar-se objeto de reflexão, junto às conseqüências decorrentes da mesma e assim, no desenvolvimento da autoconsciência do fato, o adolescente pode experimentar um incipiente processo de transcendência à situação existencial almejada.

No ato infracional há uma responsabilidade do adolescente, pois a realidade objetiva é um desafio ao qual o mesmo tem que responder, mas, vale salientar que ela é parte de uma responsabilidade partilhada. Na medida em que o adolescente sente essa responsabilidade, desenvolve-se também uma concepção critica do real, inclusive, percebendo-se como desumanizado, portanto, prejudicado em sua maneira de realizar o oposto do que praticou e assim, buscar esse contrário que o humaniza.

 
O Educador, na sua capacidade de registrar o real, insurge como mediador desse processo, ajudando o adolescente a visualizar a imagem do já vivido e estimulá-lo a analisá-la criticamente, como espectador de si mesmo, situado numa realidade concreta. Nestas imagens, o adolescente precisa encontrar a sua família, da forma como ela está! A sua Escola e a si mesmo como estudante, da maneira como essa relação se apresenta e das oportunidades educacionais existentes; precisa enxergar o seu grupo de amigos, sedutores como normalmente são, e por vezes, tão “desumanizados” quanto ele.

Como negar a imagem da sociedade e os vilões sociais que afrontam o ser humano na sua grandeza de Ser? Essa pergunta surge na companhia de um sentimento de lamentação, pois, que futuro terão esses adolescentes espectadores e atores de tão fortes imagens sociais? Que anticorpos serão desenvolvidos para que os mesmos resistam ilesos, a essa metralhadora devastadora que é a realidade social vigente?

Pode-se ser vitima de uma realidade social sem a auto critica da mesma, mas pode-se ser vitima consciente dos efeitos que ela provoca. Na condição primeira a situação existencial está fadada a estagnar-se, pois o sentimento do Ser sobre a mesma ainda encontra-se no plano da imersão a - crítica, portanto alienada; no segundo estágio, a situação existencial é questionada, e nesta está o adolescente, questionando a si mesmo e as condições em que se situa.

É nesta visão de si mesmo e de sua história que o processo de cisão se estabelece, vislumbrando uma nova paisagem no caminho que, até então, está trilhando. A cisão é um instante do processo de transcendência do adolescente e que também faz parte do processo de transcendência do Educador; na confluência dessas interações uma nova situação existencial se gesta, alimentada pela criação de vínculos, pela reflexão de temas geradores e inserção no contexto dos quais fazem parte; dessa partilha de experiências, valores, sonhos e de sentimentos vai nascendo um Ser, que é outro e que é si mesmo.

 
No processo de busca e de discernimento, reside a possibilidade da descoberta da “interpenetração dos problemas”, que Paulo Freire entende como compreensão da totalidade. É o momento da problematização dos “temas geradores”, que, no processo de acompanhamento do adolescente em cumprimento de Medida Socioeducativa, pode ser expresso, dentre tantas formas, na avaliação periódica de seu sentimento de Ser social e no planejamento das perspectivas de efetivação desse Ser; nesse processo o adolescente deve ser visto na complexidade de seu permanente “vir – a – ser”, onde ele é sujeito do novo ser que de si desvela-se, progressivamente.

 

                   Gilson Reis

                                                                                                                                             04.07.13

terça-feira, 2 de julho de 2013

GAY HETEROSSEXUAL


Texto extraído do livro "Mulher Perdigueira", de Fabrício Carpinejar.

Ela: - Você é um gay heterossexual.
Ele: - Eu?
Ela: - Sim. Um gay que gosta de mulher e só de mulher. Essa é a diferença.
Ele: - Mas de onde você tá tirando isso? Eu adoro futebol.
Ela: - Meu cabeleireiro também adora.
Ele: - Eu gosto de lavar carro, sofro com qualquer arranhãozinho ali no meu carro.
Ela: - Meu estilista também.
Ele: - Ah, meu Deus. Você não me ama mais.
Ela: - Viu como é dramático? Qualquer coisa é uma ópera gay!
Ele: - Não sou nada. Não uso piteira pra tragar as palavras.
Ela: - Olha aí, humor refinado. Seu humor é gay. Ninguém entenderia essas piadas.
Ele: - Não, para, você ta me provocando à toa.
Ela: - Não, acho extremamente viril um gay ser heterossexual.
Ele: - Tá bom! Me mostra que sou gay!
Ela: - Lembra quando você fez um strip na última semana?
Ele: - Lembro. E daí? Não gostou?
Ela: - Vibrei! Sabemos, mas você arrancou a camisa, a calça, jogava pro lustre, pela janela, mostrava um desinteresse passional, furacão. E... no instante de retirar as meias, você criou um novelo com as duas como se fosse guardar na gaveta!
Ele: - Não me diz que é gay!
Ela: - Sim, foi uma parada gay.
Ele: - Para de polinizar. Não posso ser gentil, educado, afetuoso e já me rotula.
Ela: - Conversa de gay. Não recordo de um marmanjo defendendo a sua ternura.
Ele: - Sou vaidoso no amor, e daí?
Ela: - Pinta as unhas, corta o cabelo uma vez por semana, seu guarda-roupa é duas vezes o meu! Adora loja, disposto a debater duas horas se leva um charpe ou não.
Ele: - Não vejo a vida com maniqueísmo, homo e hétero.
Ela: - Quanto tempo você suporta uma mancha no tapete?
Ele: - Cinco minutos!
Ela: - É! É o tempo pra buscar um desinfetante, né?
Ele: - Bom, tá tudo bem! Quer uma prova de que sou inteiramente masculino?
Ela: - Inteiramente? Estranho... um gay é que emprega muito esse tipo de advérbio.
Ele: - Não, não, deixe eu falar.
Ela: - Tá, tudo bem. Me diz qual é a prova irrefutável.
Ele: - Eu tenho um poncho.
Ela: - Ué, e gay não usa poncho ?!
Ele: - Ah, eu vou mandá-la prum analista de Pagé pra acabar com essa frescura.
Ela: - Tudo bem, é um homem. Você é um homem. Um homem gay.
Ele: - Poderia arrumar seu brinco? Tá caindo.
Ela: - Falei. Repara em tudo, comenta qualquer pessoa que passa. O jeito que ela se veste, o jeito que ela fala, tomado de uma maldade alegre.
Ele: - Ué, falando mal dos outros que eu aprendi a me criticar.
Ela: - Nunca tem fim uma discussão de um relacionamento. Emenda um problema no outro, não termina um assunto...
Ele: - Acho que você está acostumada com desprezo.
Ela: - Tá me ofendendo? Eu puxo os seus cabelos.
Ele: - E se encontrar um nó, desembaraça?
Ela: - Isso é um detalhe! Observe agora a sua quebradinha de quadril pra afirmar que não é gay.
Ele: - Não, não, não. Isso não é suficiente.
Ela: - Combina cueca com camiseta. Homem não escolhe a cueca, pega a primeira que aparecer pela frente.
Ele: - Não me convenceu isso aí. Isso aí é de suas histórias, não é capricho.
Ela: - Limpa a casa com entusiasmo. Vocação Maternal.
Ele: - É uma vingança porque canto ABBA na cozinha.
Ela: - Não me entenda mal. Acho você um homem perfeito. Mas um super homem do Gil.
Ele: - Gilberto Gil? Pretende me desmoronizar?
Ela: - É um elogio, porra!
Ele: - Parece um homem falando agora.
Ela: - Ah, vá se danar!
Ele: - Descobri o que quer com essa conversa. Já transou com um gay, acertei?

Ela: - Tudo bem, sua paranóia é masculina