sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A outra parte

Caros amigos,
resolvi começar o mês de Setembro com uma parte do livro Brida, de Paulo Coelho.
Sei de antemão que muitos intelectuais torcem o nariz para o PC. Pergunto-me se a culpa não seria dos bibliotecários ou dos organizadores de prateleiras de livrarias, que colocam seus livros em Literatura. O certo, na minha opinião, seria encontrar os livros de Paulo Coelho na categoria Auto Ajuda.
Então, vamos lá:

A Outra Parte

A essência da Criação é uma só. E esta essência se chama amor. O amor é a força que nos reúne de volta, para condensar a experiência espalhada em muitas vidas, em muitos lugares do mundo. Somos responsáveis pela Terra inteira, porque não sabemos onde estão as Outras Partes que fomos desde o início dos tempos; se elas estiverem bem, também seremos felizes. Se estiverem mal, sofreremos, ainda que inconscientemente, uma parcela dessa dor. Mas, sobretudo, somos responsáveis por reunir de volta, pelo menos uma vez em cada encarnação, a Outra Parte que, com certeza, irá cruzar o nosso caminho. Mesmo que seja por instantes, apenas; porque esses instantes trazem um Amor tão intenso que justifica o resto de nossos dias.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

"NAO MURRI NO BRÁS"!!

Caros Leitores, a partir de hoje, os convido a acompanhar a história de SEVERINO! Muitos escreveram sobre Severinos, esta é a minha história. Cada quinta feira postarei um pouco da vida deste nordestino, suas andanças, alegrias, tristezas e sonhos...
Vem comigo!


...Severino José do Nascimento é seu nome de batismo. Severino como tantos Severinos de Pernambuco. José, como tantos Josés da Região. Nascimento. Em 24 de Junho nasceu Severino José do Nascimento, assim mesmo, de nome completo como faz jus todo nordestino interiorano. Nasceu, quem sabe em meio a fumaça das fogueiras de São João? Talvez interrompendo um forrozão da gota serena! Pois apaixonado por forró, como ele, somente filho de forrozeiros.

Era um garoto de cor negra, franzino, a pele era o reflexo do ardor do sol e da cana, possuía uma coloração ardida e brilhosa. Desde a tenra idade conhecerá seu campo de concentração, local onde toda sua energia humana era condensada e sugada. No entanto, seu campo de concentração era sua fonte de sobrevivência e isso tornava a vida daquele garoto uma espécie de suplício necessário. Era neste vasto campo que toda sua família, fulano, cicrano, beltrano, colhia o feijão e a farinha.

Bio, como é chamado os Severinos, trabalhava na Cana de açúcar na Companhia de seus parentes. De família doce, e ao mesmo tempo seca, cresceu em meio à vastidão verde e espinhosa. Porem, nunca se acostumara com o amargo daquela cana de açúcar, era de um doce cortante demais para aquele garoto que queria constituir família e vê-la saudável e feliz.

Família, Severino constituiu, pois, pra o início do cumprimento de seu sonho, conheceu uma jovem chamada Ivonete Camilo do Nascimento, também de Moreno e com ela gerou dois filhos, uma “feme” de nome Alessandra Camilo do Nascimento, e um “macho” de nome Alessandro Camilo do Nascimento, que veio a ser, pra manter a tradição da família, um precoce Cortador de cana de açúcar.

Mas, por força do destino, do qual mantém a crença, e por motivos de ordem superior, o casamento se desfez. Severino não se conformou com aquele episódio que destruía parte de seus sonhos, no entanto, difícil era fazer nascer tudo de novo. O fim era o começo de uma nova vida.

“Bateu na cabeça” daquele nordestino, de pegar a estrada e “danar-se pelo mundo”! e ele assim o fez. Aos 36 anos, de malas, ou melhor, de sacola pronta, aquele jovem casado, pai de dois filhos, uma fême e um macho, e triste pela separação daquela que fez parte de um pedacinho de seu sonho, “endoidou o cabeção” e foi pelo mundo afora, sem quê, apenas pra quê.  Eu estava doido na cana de açúcar” - disse ele - mas tão somente com a separação daquela com quem casara, é que decidiu pela inesperada viagem.

Deixava pra trás o campo de concentração cheio de cana de açúcar e um sonho despedaçado. Na sacola, carregava “15 conto certinho”, algumas roupas, pedaços de rapadura e pequenos sacos de farinha, pra tomar café, almoçar e jantar durante a longa viagem de ônibus, com destino a uma “terra prometida” que “manasse leite e mel”... esta terra chamava-se São Paulo.

Em 15 de agosto de 1995 chega a essas terras mais um Nordestino em busca de uma vida nova, pois a que ele possuía lhe parecia velha e cansada demais. Era o dia em que a Seleção Brasileira estava jogando e a Rodoviária do Tietê transmitia o jogo para aqueles que chegavam e para os que partiam para outros destinos.

“Sem parente nem derente”, chegara ao que para ele era um destino diferente, onde pudesse esquecer a dor da separação e o amargo cortante da cana de açúcar.

      - Meu Deus do Céu, onde eu fui amarrar meu jegue? – se perguntou,
assustado com gente que “só a mulestra dos cachorro” – era gente demais pra aquele Morenense acostumado com o movimento cansado e de fácil acesso, da região que, geograficamente, deixara pra trás. Ao pisar em terras paulistanas, olhou pra o infinito e não viu infinito...  simplesmente tudo aquilo não podia existir.

Talvez tonto, com certeza cansado, juntou suas sacolas velhas e sentou num banco, dividindo espaço com outros cansados e assustados. Foi neste momento que Severino José do Nascimento parou, refletiu e disse para vossa própria pessoa: Pra onde é que eu vou meu Deus do Céu? “

Havia ali, bem pertinho de Severino José do Nascimento, um grupo de cinco homens, cinco mendigos, cinco nordestinos, cinco cansados, cinco sem destinos, cinco negros, cinco seres humanos cheio de sonhos...não eram trinta e cinco, eram cinco. Como que em reunião de articulação, conversavam sobre o que poderiam fazer a partir do momento em que chegaram em terras paulistanas. Severino José do Nascimento, “de olho no padre e um outro olho na missa”, escutou quando um deles falou:

-          Vamo morrer no Brás.

O novo habitante, porem, sem habitação, considerou aquela frase um tanto esquisita, no entanto, não tardou em juntar-se àqueles cinco homens, com o objetivo de também “morrer no Brás”.

         - Vou morrer no Brás junto com eles. – disse, sem ao menos saber o que era o Brás.


Nos vemos na próxima quinta feira...
Cheiro de terrinha
Gilson Reis
Foto 1- Site Cana muita, seu Moço! -Não é não. Não é não.
Foto 2 - Monumento ao Nordetino - Largo da Condordia - monumentos.art.br

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Tragédia Concretista

O poeta concretista acordou inspirado. Sonhara a noite toda com a namorada. E pensou: lábio, lábia. O lábio em que pensou era o da namorada, a lábia era a própria. Em todo o caso, não pior das hipóteses já tinha um bom começo de poema. Todavia, cada vez mais obcecado pela lembrança daqueles lábios, achou que podia aproveitar a sua lábia e, provisoriamente desinteressado da poesia pura, resolveu telefonar à criatura amada, na esperança de maiores intimidades e vantagens. Até os poetas concretistas podem ser homens práticos.
Como, porém, transmitir a mensagem amorosa em termos vulgares, de toda a gente, se era um poeta concretista e nisto justamente residia (segundo julgava) todo o seu prestígio aos olhos das moças? Tinha que fazer um poema. A moça chamava-se Ema, era fácil. Discou. Assim que ouviu, do outro lado da linha, o "alo" sonolento do objeto amado, foi logo disparando:
- Ema. Amo. Amas?
- Como? - Surpreendeu-se a jovem. - Quem fala?
- Falo. Falas. Falemos.
A pequena, julgando-se vítima de um "trote", ficou por conta e, como era muito bem-educada (essas meninas de hoje!), desligou violentamente não antes de perpetrar, sem querer, um precioso "hai-kai" concretista:
- Basta, besta!
O poeta ficou fulminado. Não podia, não podia compreender. Sofreu, que também os concretistas sofrem; estava realmente apaixonado, que também os concretistas se apaixonam, quando são jovens - e todo poeta concretista é jovem. Não tinha lábia. Não teria os lábios. Porque não viajar para a Líbia? Desaparecer. sumir... Sentia-se profundamente desgraçado. Inútil. Um triste. Um traste.
O consolo possível era a poesia. Sentou-se e escreveu:
"Bela. Bola. Bala."
O que, traduzido em vulgar, vem a dar nesta banalidade: "A minha bela, não me dá bola. Isto acaba em bala."
Não acabou, naturalmente. Tomou uma bebedeira e tratou de arranjar outra namorada, a quem dedicou um soneto parnasiano. Foi a conta. Casaram-se e são muito falazes... oh! Perdão: felizes.

Luiz Martins.
Seleção: Joaquim Ferreira dos Santos - AS CEM MELHORES CRÔNICAS BRASILEIRAS

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Cultura e Lazer

Sesc Bom Retiro traz espetáculos e oficinas voltados ao público infantil como parte da programação especial do mês de setembro

Há tempos o abandono do patrimônio público e privado salta aos olhos de quem passa pela região do centro da cidade de São Paulo, ou mora em algum dos bairros dessa região. Tem sido noticiado, com muita freqüência, nos diversos veículos de comunicação o problema das drogas, em que pessoas de todas as idades estão envolvidas, sejam como usuárias ou traficantes, e que dia e noite transformam as ruas desses bairros em verdadeira feira livre das drogas. Nosso amigo Chiquinho publicou nesse blog,no dia 21 de agosto, o poema Nóia abordando essa realidade:

...O mundo mergulhado em fumaça. O nariz esbranquiçado de pó. A cabeça sucumbida ao nada. Nada. Fatalidade da alma. Fato consumado de sina sem consolo. Sou só. Zumbi. Zumbido adormecido. Vago para esquerdas e direitas, tenho sono e fujo dele, tenho dor e não me entrego...

Também é verdade que há tempos se ouve dizer de projetos com objetivos de revitalização do centro da cidade. Mas como essa é uma questão que depende, sobretudo, dos Órgãos Públicos, de vontade política, custa acreditar que alguma coisa vai acontecer tão já. Parece que tudo é para um dia... quem sabe... talvez!
Nem tudo tá perdido! No último sábado, 27/08, foi inaugurada mais uma Unidade do Sesc, no bairro Bom Retiro, na Rua Alameda Nothmann, 185. Meu amigo, Chico, e eu, fomos conferir. O espaço conta piscina, teatro, ginásio poliesportivo, salas de ginástica, espaço infantil, oficinas, cafeteria, biblioteca, área de exposições, consultórios odontológicos, sala de informática e outras atrações. O projeto arquitetônico de Leon Diksztejn, levou três anos para ser construído, possui 14 mil metros quadrados.
Tudo estava uma beleza. Dava gosto de ver. Conversávamos, entre outras coisas, sobre a importância desse espaço no sentido de propiciar cultura, lazer e desenvolvimento humano. Fica aqui o convite para que conheçam o espaço que contará no mês de setembro com Tom Zé, Marina Lima, Zélia Duncan, Wilson Simoninha, Rappin Hood, Jair Oliveira, Quinteto em Preto e Branco, etc. Consulte a programação completa no site do SESC, convide os amigos e boa diversão.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Sempre é temporada de caça às princesas

Como é bom terminar o domingo com um programa solitário, mas que preenche nosso tempo e nossa alma. Foi a isso que conheci, quando me permiti assistir a um clássico da comédia romântica de todos os tempos: A princesa e o plebeu (Roman Holiday), de William Wyler.
Agora que o filme terminou, fiquei pensando em alguns aspectos desse tipo de obra cinematográfica e particularmente desse filme, que muitos dos meus amigos já viram e tanto insistiam para que eu também conhecesse.
Como é bonito ver a simplicidade de uma comédia romântica à moda americana e desse período.
Há uma passagem em que o plebeu da história está dizendo para a princesa, após ser perguntado, no seu modesto quarto, se ele não se cansava de sempre comer fora (ele não tinha cozinha). Ele responde: A vida não é sempre como a gente quer. E ela, princesa, também cansada de ser alteza, é obrigada a concordar.
O filme por aqueles desenvolvimentos previsíveis de roteiro, comprova uma verdade provavelmente absoluta: Sempre que mentimos para os outros é a nós mesmos que estamos enganando.
Muito delicadamente (afinal é uma comédia e não um drama) teremos a cena da despedida, quando a princesa diz: Tenho que deixá-lo agora. E ainda: Deixe-me como eu vou deixá-lo. Ou ainda: Eu não sei dizer adeus. Não consigo encontrar as palavras. E o plebeu solícito: Não precisa tentar...
Afinal, não é isso o que temos todos que aprender, simplesmente? Deixar o outro partir, se necessário? Não dizer o adeus, mas já se despedindo?
Por fim, em uma comédia romântica hollywoodiana o casal idealizado é sempre, sempre belíssimo, of course.
Como não admirar esses espécimes humanos? Gregory Peck e Audrey Hepburn! Fico imaginando se isso não pode, também simplesmente, apenas significar uma sinalização da perfeição do amor. Assim sendo, um amor como esse permite que, na cena final, aprendamos juntamente com a princesa, que a verdade pode ser dita sempre e, em público, mesmo que poucos entendam-na como verdade.
Ainda mais? Sim é possível aprender ainda mais: Que não há traição possível quando o amor é verdadeiro, mesmo que ele pareça um amor impossível! E, vamos combinar: qual é o amor que não tem essa aparência?


domingo, 28 de agosto de 2011

ALQUIMIA


Acalantado estou pelos meus olhos serrados.
Alquimia de um sabor brando e caseiro.
Aqui, daqui e dali, inteiro.
Afim de versos retintos, fatais.
Além de mim, eu prisioneiro.
Alma leve e instintos mortais.

Boca inundada em sobejos temperados.
Branca espuma beira esta ilusão e a refaz.
Boemia sóbria alenta a tediosa e solitária tarde.
Berço audaz das intempéries de manhã cinzenta.
Braços abertos, Cristos algemados.
Becos curvos e ventos entrincheirados.

Caso morra, sem demora, me admito mortal.
Claro que burlo a escuridão de tal destino.
Contando estrelas despedaçadas em céu divino.
Cosmos em atração fatal.
Crédulo do direito ao desatino.
Confio-me ao impulso espontâneo, ao animal.

Direi que disse apenas por dizer.
Darei aquilo que, como dádiva, me foi concebido.
Declinarei de meus tabus.
Dançarei ao ritmo que a mim mesmo impus.
Dentro de minhas vísceras me perderei aos poucos.
D’outro modo não o sou. Sou eco e oco.

25/08/2011 – 01:06
Chiquinho Silva