sexta-feira, 13 de julho de 2012

O nosso português

É uma tarefa árdua para quem quer dominar,
tem que ter muito cuidado, estando sempre a repassar,
siga sempre uma ordem para não complicar,
essa é a nossa língua, então vamos começar!

Sujeito complicado, predicado disfarçado,
advérbio, adjetivo, aposto e vocativo,
concordância e regência, cuidado com a aparência,
frase e oração, quanta coordenação!

Aspas, reticências, colchetes, travessão,
vírgula, dois pontos, lá vem a exclamação!
Adjunto, mesóclise, ponto e interrogação?
Crase, preposição, artigo tem relação?

Flexão, numeral, conjugação verbal,
futuro, imperativo, presente, afirmativo!
Pretérito, particípio, dicendi, negativo!
Gerúndio, composto, vicário, infinitivo...

Metáfora, metonímia, ironia, homonímia,
hipérbole, eufemismo, anáfora, barbarismo,
colisão, arcaísmo, elipse, hibridismo,
prosopopéia, gradação e a tal comparação.

Pronome é relativo? Pessoal ou infinitivo?
Possessivo, indefinido, reto, interrogativo?
Oblíquo, tratamento e também demonstrativo,
quanto modo, tempo, formas, haja voz! E normas.

Vogal, consoante, substantivo constante,
concreto, coletivo, próprio, primitivo,
homonímia, paronímia, sinonímia, quanta nímia!
Dígrafo, ditongo, hiato e tritongo.

É o nosso português! Conseguem entender, vocês?
Uns arrancam os cabelos, outros ficam quase loucos,
mas não tem nenhum segredo, isso se aprende aos poucos,
se não fores desleixado, mas, sim, muito delicado,
não levarás muito tempo, e terás um predicado!

Marcos César Simões de Oliveira

Nascido em 4 de agosto de 1972, na cidade de Lajedo, Pernambuco, reside em Guarulhos desde 1986, grande apreciador dos mais diversos tipos de literatura e faz pesquisas sobre religião.
O poema O nosso português, integra a antologia poética A Palavra em Prisma, editado em 2003.



quinta-feira, 12 de julho de 2012

INFÂNCIA... QUEM NAO GOSTA DE LEMBRAR?


Querido Leitor!

De férias em Recife, neste momento na bela Ilha de Itamaracá, conhecida pela ciranda de Lia e... tá bem (também), pela rainha do bumbum, a Gretchem, escrevo minha postagem com a tranquilidade que só as férias proporciona.  Tenho amigos que dizem: “Tô de férias, volto a escrever depois”. Como assim? Não é nas férias que temos mais tempo de fazer o que nos dá prazer? Pois é isso, aqui estou.

Antes de chegar a Recife a Ceça, minha irmã já havia me falado do Sarau em sua linda casa. Eu preparei algumas vivências de acordo com o tema sugerido pela Nêga Rosa e adocicado por mim: Reencontro: “Memórias, crônicas e declarações de amor”. Amei.

Quero aqui escrever apenas sobre uma experiência memorável do sarau.

odonodalua.wordpress.com

Eis que as “crianças” foram ao terreiro de casa numa noite em que ‘faltou energia’. Sentados, começaram a poetizar através de expressões ouvidas e ditas naquela paisagem infantil...

“Vai dormir menino!”  ” Tô com fome mãe”   ”vai dormir que passa”  ”Apaga o candeeeeeeeiro”!  “Ô Giiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiilson!!! Cadê esse menino?”  “Pega o cipó de goiaba ali!” “Ai que doooooorrrr de deeeeente!”   “Bota alho”!  “Faz uma compressa de água com vinagre”!  “Mãe eu não aguento mais essa hemorroida”!  “bota sal”  “Menina, dá pra tu deixar minha filha ir na janela, que ela vomita”? “Mastiga uma cabeça de fósforo que não vomita”! “Come ‘bague’ da laranja que passa”! “Dá dói barata rói”  “A treze de maio na cova da iria, no CEI aparece a virgem Maria” “O que é o que é, lambi lambi no teu cú meti”  “tem criança aqui menino!!” “Mãe, sai dessa janela” “Vai pra escola menino”!  “Tem sandália não”  “bota um prego que funciona”  “Sai do sereeeeeno”  “Já deu a benção hoje?” “Benção mãe”  Deus te abençoe e te dê juízo”  “Olha o pãããão!” “Eu quero pirulito” “Vai comprar um pacote de fubá e dois ovos, e num vem comprado outra coisa heim”! “Por que papai foi embora mãe?” “Aquele raparigueiro”  “Faltou energia”! ”Vamos pra rua”!! “Vamos brincar de anel?” “Prefiro esconde esconde’! huuuuuuummmmmmm... “entra pra dentro dormir”! “Ah mãe, a mãe do Duda ainda não chamou ele”!...  ... ... ... ... ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ...  ... 

E assim seguia a noite das crianças “felizes”.

Eu lembrei de um poema que escrevi em homenagem à Rua da Glória, onde vivi até meus 21 anos. Ele diz assim:

Saudade das noites sem luz
Cheia de anéis nas palmas das mãos
Estórias "malassombradas"
E esconde - escondes...

Ah!! A escuridão
iluminava aquela rua.


É isso...
Cheiro de saudade

Gilson Reis
12.07.12

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Os pretos do Rosário de São Paulo

A igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos de São Paulo está no centro velho da cidade de São Paulo, que é historicamente o centro financeiro do país, hoje uma cidade global. Um aspecto que chama a atenção desta igreja em relação a outras dedicadas a Nossa Senhora do Rosário é que ela foi construída por pretos, pardos, escravizados, forros e livres e que resistiu ao crescimento tecnológico e urbano paulista. Só estes dois aspectos, a diferencia de outras igrejas erigidas por pretos nas cidades históricas do Brasil. Por estar próxima ao centro desde sua fundação, em 1711, sofreu influência das transformações que a acercavam. Em função do crescimento da cidade, muitas igrejas que existiam nas proximidades do triângulo formado pelo rio Tamanduateí e o rio Anhangabaú, foram demolidas, inclusive a igreja de Nossa Senhora do Rosário que existia no Largo do Rosário, conhecida desde 1721, quando São Paulo ainda era a Vila de Piratininga. Era uma pequena capela “assim meio oculta pelos lados do Anhangabaú. Esta região era mais do que subúrbio, onde pretos e escravos se dedicavam a Nossa Senhora do Rosário”. Em 1725, com a vila subindo à categoria de cidade, e com o advento do café, o número de habitantes da jovem cidade aumentou, assim como também o número de fiéis do rosário, por isto foi construída uma capela maior. Em 1728, a Irmandade do Rosário solicitou à Câmara ordem para erigir um templo a Nossa Senhora. Tendo recebido permissão para tal construção, a mesma foi finalizada em 1737.      As transformações da cidade, fez com a igreja de Nossa Senhora dos Rosário batizasse o largo com seu nome e também a rua que vai da antiga igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos até o pátio da Sé. Em torno da igreja residiam negros escravos e ex-escravos. Seus festejos no pátio da igreja ficaram famosos e foram conservados até o início do século XX. Com a chegada destes novos moradores, em 1898 o local onde ficava a igreja foi pedido pelos poderes públicos, sendo transformado em uma praça que recebeu o nome de Praça Antônio Prado, para homenagear um antigo prefeito. Em troca foi dado aos negros, um lugar do outro lado do rio Anhangabaú. O local se chama Largo do Paissandu e só poderia ser usado para o culto religioso, ficando proibida a construção de casas e também do cemitério que existia ao lado da antiga igreja. Assim, em 1906 é inaugurada a nova igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos que se encontra há um século no Largo do Paissandu.