segunda-feira, 1 de outubro de 2012


A Fé e a Luta dos Pretos do Rosário

 A presença de africanos e afrodescendentes na cidade de São Paulo, como em todas as cidades históricas do Brasil foi marcante e ativa. O povo negro também foi sujeito da história de nossa cidade. As tentativas de negar e invisibilizar a presença desta população foram muitas, porém foram superadas pela resistência. A Irmandade é a prova desta resistência, dentro da sociedade discriminadora em que vivemos. Ela também é a prova de que o povo negro, sempre lutou pela sua cidadania. No princípio foi preciso a liberdade. Uma vez conseguida, era hora de lutar pela dignidade perdida nos mais de 300 anos de escravidão. Agora é hora de lutar pela igualdade, uma vez que ainda hoje, negros e brancos são tratados de forma diferenciada em nossa sociedade, seja nas escolas, nos bancos, nas repartições públicas ou nas ruas. Queremos a cidadania. Mas esta só será verdadeira quando fomos tratados igualmente independente da cor da pele. A resistência da Irmandade a todas as discriminações que enfrentavam se dá a partir da fé, que é manifestada quando os Irmãos saem em procissão pelas ruas centrais da cidade desde o século XVIII até os dias de hoje. O negro do Rosário faz questão de mostrar a todos que eles acreditam na vida; e acreditam numa sociedade justa. Por isto repetem um gesto secular de levar os seus santos para rua e festejá-lo conforme a tradição dos antepassados. Eles também fazem questão de demonstrar que, tem consciência que a luta não terminou; que talvez ainda demore um pouco mais para que todos, negros e índios possam participar de todo e qualquer evento na cidade, e que negros e índios sem se sentir como um ser estranho. A Irmandade, apesar de todas as dificuldades encontradas ao longo de sua existência, conquistou e construiu o próprio “lugar no sol”. Sua permanência é resultado de um trabalho diário de resistência. A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos é uma referência de luta e de resistência frente a todo o processo de discriminação que homens e mulheres negros (as) enfrentam diariamente em nossa cidade. É também uma referência de que é possível a formação de uma sociedade de igualdade entre todos, porque hoje, no grupo dos Irmãos existem pessoas brancas também. Oxalá esta Irmandade que já venceu tantas barreiras ao longo de sua história na cidade de São Paulo, jamais desista dos ideais iniciados pelos seus ancestrais e possa ser sempre exemplo para os que acreditam na formação de uma sociedade onde os direitos sejam realmente iguais para todos. Axé!

 

Um comentário:


  1. Vi o vídeo que o Akins trouxe pra nós no sábado, no Sarau. Tem tudo em comum com as reflexões que vc tem trazido a cada semana sobre essa relação histórica dos negros com o centro da cidade..
    To gostando muito disso.

    ResponderExcluir