Dando continuando ao que escrevi na última terça-feira sobre o livro
“Festa dá trabalho”, de Alvatir Carolino da Silva, vale ressaltar o olhar do
autor para a Gênese dos Grupos Folclóricos de Manaus. “Muitas vezes se tem uma
noção idealizada a respeito do surgimento dos grupos folclóricos como se eles
brotassem repentinamente da terra, como uma simples decorrência do gênio
popular em que aspectos organizacionais parecem não combinar muito bem com a
‘singeleza e espontaneidade’ exibidas. Outras vezes não se consegue imaginar
que o povo, justamente por ser povo, possa apresentar algo que se assente em
qualquer base de organização mais sofisticada.” (Prado, 2007, p.95). Logo após
esta bela e crítica citação, Silva expõe sua interpretação dizendo que o texto
“nos proporciona a possibilidade de compreender que, para além da
‘brincadeira’, um grupo folclórico é uma organização sofisticada. Por se tratar
de uma sociabilidade em que as redes de relações atravessam a sociedade os
mantêm ao longo do tempo, através de relações de parentesco, comunitárias e com
o poder público, implicando no desenvolvimento de estratégias de
sobrevivência.” (SILVA, 2012, p. 66s). Os grupos folclóricos de Manaus surgiram
como uma espécie de rede, em que os vínculos se deram a partir de elementos
fundamentais que constitui um grupo, ou seja, a relação de parentesco que se dá
através do sangue, vizinhança, a afinidade com as ideias e o que se propõe a fazer
enquanto membros da comunidade. Trata-se, portanto, de uma rede construída com
fios resistentes, da concretização de um processo de pertencimento, legitimação
e reconhecimento do Outro. Em tempos de individualismo exacerbado, os grupos
folclóricos dão uma lição de companheirismo, trabalho em equipe, valorização do
comunitário, etc., mostrando que a festa, dança, música, arte, alimentam e dão
sentido à vida daqueles que participam direta e/ou indiretamente das
comemorações dos Grupos Folclóricos de Manaus.
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