segunda-feira, 6 de maio de 2013

Fora Feliciano

Li dias atrás que a campanha Fora Feliciano esfriou, que as adesões diminuíram o que me preocupou sobremaneira. A eleição do pastor Feliciano representa um retrocesso no processo político do Brasil e uma derrota para os grupos que lutam pela ética e justiça em nosso país. Lembro que as mudanças mais significativas que tivemos foram resultado da ação do povo, através de abaixo assinados, manifestações, campanhas para protestar e esclarecer os mais desatentos. Por isso, para relembrar que não podemos aceitar a permanência deste cidadão à frente desta tão importante Comissão, publico artigo de Frei Beto, publicado na Folha de São Paulo – Tendências/Debates do dia 12/04/2013, cujo título, muito pertinente por sinal é, Infelicianeidade. Ele nos diz que (...) Estamos todos nós, defensores dos direitos humanos, às voltas com um pepino federal. Nossos servidores na Câmara dos Deputados, aqueles cujos altos salários são pagos pelo nosso bolso, (grifo meu) cometeram o equívoco de eleger o deputado e pastor Marco Feliciano para presidir a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. O pastor deputado, filiado ao PSC-SP, escreveu em seu Twitter: "Africanos descendem de ancestral amaldiçoado por Noé”. Isso é fato. Em outra mensagem, postou: "Entre meus inimigos na net (sic) estão satanistas, homoafetivos, macumbeiros...". Em processo aberto no Supremo Tribunal Federal, Feliciano é acusado de induzir ou incitar discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia ou religião --crime sujeito à prisão de um a três anos, além de multa. Em sua defesa, Feliciano afirma: "Citando a Bíblia (...) africanos descendem de Cão (sic) (ou Cam), filho de Noé”. E, como cristãos, cremos em bênçãos e, portanto, não podemos ignorar as maldições". Que deus é esse que amaldiçoa seus próprios filhos? Essa suposta teologia vigorou no Brasil colonial para justificar a escravidão”. O Deus de Jesus ama incondicionalmente a todos. Ainda que O rejeitemos, Ele não deixa de nos amar, conforme atestam a relação do profeta Oseias e sua mulher, Gomer, e a parábola do Filho Pródigo. Todo fundamentalismo cristão é ancorado na interpretação literal da Bíblia, que deriva da ignorância exegética e teológica. Os criacionistas, por exemplo, acreditam que existiram um senhor chamado Adão e uma senhora chamada Eva, dos quais somos descendentes (embora não expliquem como, pois tiveram dois filhos homens, Caim e Abel...). Ora, Adão em hebraico é terra, e Eva, vida. O autor bíblico quis acentuar que a vida, dom maior de Deus, brota da terra. Ter Feliciano como presidente de uma comissão tão importante --por culpa de legendas como PMDB, PSDB e PT-- é uma infelicidade. Não condiz com o nome do deputado que, na roda do samba que está obrigado a dançar, insiste no refrão: "Daqui não saio, daqui ninguém me tira". O deputado é um pastor evangélico. Sua conduta deveria, no mínimo, coincidir com os valores pregados por Jesus, que jamais discriminou alguém. Jesus condenou o preconceito dos discípulos à mulher sírio-fenícia; atendeu solícito o apelo do centurião romano (um pagão!) interessado na cura de seu servo; deixou que uma mulher de má reputação lhe lavasse os pés com os próprios cabelos, e ainda recriminou os que se escandalizaram ao presenciar a cena; e não emitiu uma única frase moralista à samaritana adepta da rotatividade conjugal, pois estava no sexto homem! Ao contrário, a ela Jesus se revelou como o Messias. É direito intrínseco de todo ser humano, e também da democracia, cada um pensar pela própria cabeça. Nada contra o pastor Feliciano, na contramão do Evangelho, abominar negros e odiar homossexuais e adeptos da macumba. Desde que não transforme seu preconceito em atitude discriminatória, e seu mandato em retrocesso às conquistas que a sociedade brasileira alcança na área dos direitos humanos. Estamos todos nós indignados frente ao impasse armado pelo jogo político rasteiro da Câmara dos Deputados. Eis uma verdadeira situação de infelicianeidade, com a qual não podemos nos conformar”. Frei Betto, Carlos Alberto Libânio Christo, 68, é frade dominicano e autor de "Aldeia do Silêncio" (Rocco).

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2 comentários:

  1. Muito boa colocação e bem lembrado pensar em alguma ação concreta de expulsão desse rapaz mal informado à frente de bandeiras tão importantes para a sociedade como Direitos humanos e afins. O que vamos fazer, rolar uma lista de abaixo assinado, irmos à rua e gritarmos fora FELICIANO, etc.? olha o nome do infeliz!

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  2. Muito bom Conceição.... não havia visto este texto do F. Betto, sempre tão sábio em suas colocações...

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