quinta-feira, 20 de junho de 2013

PAULO FREIRE E AS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS – PARTE IV



Através do diálogo, elemento primordial e criador do vinculo entre Educador, Adolescente e sua família, começa-se a conhecer o outro na sua historicidade; nessa relação dialógica desenvolve-se um caráter de confiança recíproca que, sem a mesma, todas as possibilidades de libertação se estacionam, como sementes atrofiadas que na sua indisposição frente a terra pedregosa, se recusam a  germinar; a confiança, assim como o diálogo, como afirma Paulo Freire, é uma “exigência existencial”.

A confiança no potencial dos adolescentes, prejudicados em seu poder de criar e transformar, é fundamental para o processo de afirmação como ser social. Muitas vezes o Educador, na sua condição de autoridade Técnica, castiga o adolescente, frente às ausências apresentadas nos atendimentos agendados e as resistências do mesmo em participar, eficazmente, da vida estudantil, profissional e familiar, não sabendo eles que, na historicidade em que fazem partem, os adolescentes vivem uma experiência profunda de não confiabilidade, inclusive, introjetando essa ferida em sua forma de compreender e agir no mundo. Portanto, a confiança é um motor impulsionador de transformação, pois, mesmo naquele a quem não se pode confiar, deve-se expressar confiança.

É através da edificação dessa relação de confiabilidade mútua, que, na atividade cotidiana do acompanhamento socioeducativo, pode-se construir um Plano Personalizado de Atendimento, onde os sonhos e os limites serão refletidos; pode-se viver uma dimensão de transcendência através da avaliação da evolução do ser humano adolescente e das suas perspectivas, buscando metas a serem atingidas.

Que dizer daquele instante fantástico em que, sensibilizado pela condição oprimida em que foi jogado, o adolescente elabora suas próprias metas e seus próprios sonhos? A confiança recíproca se estrutura na medida em que o Educador começa a fazer parte da vida do adolescente, pois, este necessita do sentimento de ser humano, que o Educador precisa transmitir. E isso se dar nas visitas domiciliares, não necessariamente técnicas; na curiosidade pela busca de recursos que a comunidade oferece; na participação em eventos do bairro; apresentações artísticas e esportivas dos adolescentes; na solidariedade diante de problemas de doença e de óbito em sua família; na partilha de um fato simples, na ocasião em estão à mesa tomando um cafezinho e, em tantas outras expressões de valorização do adolescente, da família e de si mesmo como humano.


Na medida em que a relação de confiança se solidifica, torna-se possível o processo de descodificação de uma “situação existencial” concreta para a efetivação de uma outra, aquela da qual Educadores e adolescentes e a família se dispõem, ainda que com energias diferenciadas, a tornar realidade.

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