Através
do diálogo, elemento primordial e criador do vinculo entre Educador, Adolescente
e sua família, começa-se a conhecer o outro na sua historicidade; nessa relação
dialógica desenvolve-se um caráter de confiança recíproca que, sem a mesma,
todas as possibilidades de libertação se estacionam, como sementes atrofiadas
que na sua indisposição frente a terra pedregosa, se recusam a germinar; a confiança, assim como o diálogo,
como afirma Paulo Freire, é uma “exigência existencial”.
A
confiança no potencial dos adolescentes, prejudicados em seu poder de criar e
transformar, é fundamental para o processo de afirmação como ser social. Muitas
vezes o Educador, na sua condição de autoridade Técnica, castiga o adolescente,
frente às ausências apresentadas nos atendimentos agendados e as resistências
do mesmo em participar, eficazmente, da vida estudantil, profissional e
familiar, não sabendo eles que, na historicidade em que fazem partem, os
adolescentes vivem uma experiência profunda de não confiabilidade, inclusive,
introjetando essa ferida em sua forma de compreender e agir no mundo. Portanto,
a confiança é um motor impulsionador de transformação, pois, mesmo naquele a
quem não se pode confiar, deve-se expressar confiança.
É
através da edificação dessa relação de confiabilidade mútua, que, na atividade
cotidiana do acompanhamento socioeducativo, pode-se construir um Plano
Personalizado de Atendimento, onde os sonhos e os limites serão refletidos;
pode-se viver uma dimensão de transcendência através da avaliação da evolução
do ser humano adolescente e das suas perspectivas, buscando metas a serem atingidas.
Que
dizer daquele instante fantástico em que, sensibilizado pela condição oprimida
em que foi jogado, o adolescente elabora suas próprias metas e seus próprios
sonhos? A confiança recíproca se estrutura na medida em que o Educador começa a
fazer parte da vida do adolescente, pois, este necessita do sentimento de ser
humano, que o Educador precisa transmitir. E isso se dar nas visitas
domiciliares, não necessariamente técnicas; na curiosidade pela busca de
recursos que a comunidade oferece; na participação em eventos do bairro;
apresentações artísticas e esportivas dos adolescentes; na solidariedade diante
de problemas de doença e de óbito em sua família; na partilha de um fato
simples, na ocasião em estão à mesa tomando um cafezinho e, em tantas outras
expressões de valorização do adolescente, da família e de si mesmo como humano.
Na
medida em que a relação de confiança se solidifica, torna-se possível o
processo de descodificação de uma “situação existencial” concreta para a
efetivação de uma outra, aquela da qual Educadores e adolescentes e a família
se dispõem, ainda que com energias diferenciadas, a tornar realidade.
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