domingo, 14 de setembro de 2014

EDJA, NOSSA BABETTE DE CAMARAGIBE



Uma comida para ter gosto bom, há de ser a realização culinária de um sonho. A culinária é um triunfo da vontade amorosa. Ela obriga a natureza, indiferente, a fazer amor conosco. A Cozinheira também deseja nos dá uma grande felicidade. Para isso ela existe. Essa é a sua arte. Sua bíblia é o Kama Sutra da boca, as infinitas maneiras de se fazer amor com os lábios, com a língua, com o nariz, com as vísceras.

Assim era a Babette... Assim era EDJA: Sabiam os segredos do prazer pela comida. Realizavam, na prática, aquilo que os psicanalistas anunciam na teoria: é o “princípio do prazer” que estabelece o programa para nossa vida. O conhecimento é guardado ao lado daquela panela de barro sobre o fogão, que só tem sentido pela RABADA que dentro dela está fervendo. A panela é um meio. A RABADA é o fim. O saber é um meio. O sabor é o fim.


EDJA, como qualquer NORDESTINA ARRETADA gostava mesmo é de Banquete. E banquete é sinônimo de partilha, sinaliza o desejo de estar junto. Mas um estar que se alimenta do alimento de cada um. Dos temperos que gostamos, das receitas que apreciamos, doces ou salgadas, e até sem doce e sem sal. No entanto, banquete não é só de alimento, mas de vontades! Intenções! Sonhos!  Banquete de corpos e mentes em desejo!

Rubem Alves, em seu livro Variações sobre o Prazer, fala, deliciosamente, acerca do ato de sentir, e defende que as cozinheiras trabalham com efeitos sensíveis: O prazer tem de ser gostoso; o prato tem de ser cheiroso; o prato tem de ser bonito; o prato tem de ser excitante ao tato – por isso a pimenta, o cuidado para que não fique nem mole nem duro demais -. Quando uma cozinheira pensa-cozinha ela leva em consideração a totalidade dos efeitos práticos que o prato que ela está preparando irá ter sobre aquele que vai degustá-lo. E finaliza dizendo que todos os sentidos, sob a primazia da boca, se juntam para produzir o prato imaginado.


Assim diria Babette, cozinheira revolucionária do belo filme “A Festa de Babette” e EDJA, Cozinheira revolucionária da bela vida digna de aplauso!!. O que há em comum e impactante nas duas nobres cozinheiras é exatamente a sua percepção culinária pautada na revolução dos sentimentos, o que, conseqüentemente, gesta no ventre dos degustarores, novos desejos, vontade de mudança, novos sentidos e significados, novos encontros, com novos toques, proximidade, olhares afetuosos e libidinosos, uma verdade que se escondia por trás do “encouraçamento” familiar, social...

Se me disserem que o banquete se inicia na cozinha, com as panelas, fogões, utensílios, ingredientes e temperos, eu direi que estão errados. O banquete se inicia com uma decisão de amor.

Babette, com pena das pessoas mirradas e mesquinhas que a inveja e o ressentimento tornara insensíveis, na aldeia em que vivia, prepara um banquete que lhes daria uma experiência inesquecível de prazer, beleza e generosidade.

EDJA, possuída por um desejo de prazer, preparava os  “sabores que lhe permitissem fazer, na mesa, o amor que desejava fazer na cama”.  Sonhava com os feitos que os sabores produziriam no corpo de quem comesse. Não queria matar a fome. O que ela desejava era fazer amor com quem come, através dos sabores.

Quando a fome está satisfeita, o festival de amor chegou ao fim.



Eterna EDJA...

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