Esta semana celebramos no dia 08 o
Dia Internacional da Mulher, mas uma oportunidade para refletirmos sobre o
papel e a situação da mulher em nossa sociedade. Já avançamos muito. Já podemos
listar conquistas, fruto de anos de luta daquelas que não aceitaram o papel que
lhes era imposto. Porém, ainda há muito que fazer e conquistar para sermos
realmente valorizadas em nosso potencial. Por isso trago hoje um painel que nos
ajuda a entender a realidade de discriminação que ainda hoje a mulher enfrenta.
No Brasil, historicamente a mulher foi preparada para atividades domésticas e
submissão aos homens. Somente na década de 1930 conseguimos o direito ao voto.
No mercado de trabalho, sobretudo na iniciativa privada, ainda ganha menos que
os homens na mesma função. Na política, o Brasil é um país que tem um dos
menores percentuais da presença feminina do mundo. Países historicamente
patriarcais, hoje tem uma presença da mulher na vida política muito maior do
que no Brasil. A violência contra a mulher, embora tenhamos avançado muito com
a Lei Maria da Penha, ainda é grande, seja física ou moral; em casa, no
trabalho, na rua ela ainda sofre todo tipo de violência. Em muitas delegacias
ainda enfrenta piadas e desprezo. Na família ainda são as mulheres que ficam
com os atributos domésticos, mesmo quando trabalham fora e estudam. Ou seja,
acumulam duas ou três jornadas. Hoje também, o chefe de família de milhões de
lares no Brasil, é a mulher. Seja porque optaram por cuidar sozinhas dos
filhos, ou por ter sido abandonadas pelo marido. Estamos presente em
praticamente todas as profissões. Nos postos de trabalhos mais inusitados lá
está uma de nós, com unhas e lábios pintados, desempenhando uma função até
então dita de exclusividade masculina, como a de capitã de navio ou em um
canteiro de obra da construção civil. Temos uma presidenta – a primeira Chefa
de Estado em toda história do Brasil. Impensável até bem pouco tempo atrás. Mas
não nos enganemos, estas conquistas atingem um número muito pequeno de
mulheres. Precisamos continuar lutando para garantir que um número cada vez
maior possa usufruir de seu direito. Por isso, convido a todos, mulheres e
homens, para ao longo desta semana, refletirmos sobre o que ainda falta muito
para sermos tratadas verdadeiramente com respeito. Porém o painel da situação
da mulher no Brasil só fica completo quando destacamos a pessoa da mulher negra.
Aí o painel fica gritante. Também esta parcela da população já contabiliza
muitas conquistas, encontramos a mulher negra em praticamente todas as áreas
profissionais, mas num percentual muito pequeno. O processo de coisificação e de discriminação
que a mulher negra passou e passa fica se reflete nas muitas vezes em que lhe é
negada a oportunidade de trabalho digno ou que lhe impede de avançar em sua
formação escolar. Ainda hoje, nesta parcela da população feminina encontramos
os mais baixos índices de escolaridade e os maiores índices de violência
doméstica. A sociedade brasileira tem uma grande dívida para com a mulher negra.
Então, ao pensarmos na mulher e seu papel em nossa sociedade, reflitamos sobre
a mulher negra, porém, lembremos que para mudarmos isto, é preciso rever nossa
história para escrevermos uma nova trajetória para as mulheres do Brasil. Mas
falar da mulher é falar também do canto, da dança, da beleza, da alegria, do
sonho, da fé, da garra, da coragem, do sorriso e da também de poesia. Por isso
minha homenagem a todas as mulheres, na pessoa da mulher negra, que diariamente
segue em frente, tecendo seu destino, mas crente que o amanhã será melhor,
porque faz a diferença em nossa sociedade. Ela que alimentou a tantos e que
jamais deixou de lutar é minha homenageada na Semana da Mulher. Para isso trago
uma poesia do poeta Oubi Inaê Kibuko. In: Canto á Negra Mulher Amada, SP, 1986,
porque nesta luta muitos homens são companheiros, e estão celebrando conosco
nossas vitórias.
Mulher negra, negra mulher,
Astuta e valente companheira
Mesmo vivendo, em anônimas trincheiras
Manténs ativa tua força guerreira.
Mulher negra, negra mulher
No teu sorriso encontro alegria
No teu corpo compartilho amor
Tua fé me enche de esperança
Tua amizade me enche de calor
Teu carinho cura a minha dor
Transformando-se em chama
Que aquece e ilumina meus
caminhos...
Em tempos frios e cinzentos.
Seja nossa união malunga
Milhões de lanças erguidas
Contra os leões mil
E os nossos braços, sementes e frutos
Transformem num imenso Quilombo
As terras deste nosso Brasil
Cavado e edificado com os ossos dos nossos ancestrais.
Mulher negra, negra mulher!
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