segunda-feira, 4 de março de 2013

A Mulher Brasileira no Dia Internacional da Mulher







Esta semana celebramos no dia 08 o Dia Internacional da Mulher, mas uma oportunidade para refletirmos sobre o papel e a situação da mulher em nossa sociedade. Já avançamos muito. Já podemos listar conquistas, fruto de anos de luta daquelas que não aceitaram o papel que lhes era imposto. Porém, ainda há muito que fazer e conquistar para sermos realmente valorizadas em nosso potencial. Por isso trago hoje um painel que nos ajuda a entender a realidade de discriminação que ainda hoje a mulher enfrenta. No Brasil, historicamente a mulher foi preparada para atividades domésticas e submissão aos homens. Somente na década de 1930 conseguimos o direito ao voto. No mercado de trabalho, sobretudo na iniciativa privada, ainda ganha menos que os homens na mesma função. Na política, o Brasil é um país que tem um dos menores percentuais da presença feminina do mundo. Países historicamente patriarcais, hoje tem uma presença da mulher na vida política muito maior do que no Brasil. A violência contra a mulher, embora tenhamos avançado muito com a Lei Maria da Penha, ainda é grande, seja física ou moral; em casa, no trabalho, na rua ela ainda sofre todo tipo de violência. Em muitas delegacias ainda enfrenta piadas e desprezo. Na família ainda são as mulheres que ficam com os atributos domésticos, mesmo quando trabalham fora e estudam. Ou seja, acumulam duas ou três jornadas. Hoje também, o chefe de família de milhões de lares no Brasil, é a mulher. Seja porque optaram por cuidar sozinhas dos filhos, ou por ter sido abandonadas pelo marido. Estamos presente em praticamente todas as profissões. Nos postos de trabalhos mais inusitados lá está uma de nós, com unhas e lábios pintados, desempenhando uma função até então dita de exclusividade masculina, como a de capitã de navio ou em um canteiro de obra da construção civil. Temos uma presidenta – a primeira Chefa de Estado em toda história do Brasil. Impensável até bem pouco tempo atrás. Mas não nos enganemos, estas conquistas atingem um número muito pequeno de mulheres. Precisamos continuar lutando para garantir que um número cada vez maior possa usufruir de seu direito. Por isso, convido a todos, mulheres e homens, para ao longo desta semana, refletirmos sobre o que ainda falta muito para sermos tratadas verdadeiramente com respeito. Porém o painel da situação da mulher no Brasil só fica completo quando destacamos a pessoa da mulher negra. Aí o painel fica gritante. Também esta parcela da população já contabiliza muitas conquistas, encontramos a mulher negra em praticamente todas as áreas profissionais, mas num percentual muito pequeno.  O processo de coisificação e de discriminação que a mulher negra passou e passa fica se reflete nas muitas vezes em que lhe é negada a oportunidade de trabalho digno ou que lhe impede de avançar em sua formação escolar. Ainda hoje, nesta parcela da população feminina encontramos os mais baixos índices de escolaridade e os maiores índices de violência doméstica. A sociedade brasileira tem uma grande dívida para com a mulher negra. Então, ao pensarmos na mulher e seu papel em nossa sociedade, reflitamos sobre a mulher negra, porém, lembremos que para mudarmos isto, é preciso rever nossa história para escrevermos uma nova trajetória para as mulheres do Brasil. Mas falar da mulher é falar também do canto, da dança, da beleza, da alegria, do sonho, da fé, da garra, da coragem, do sorriso e da também de poesia. Por isso minha homenagem a todas as mulheres, na pessoa da mulher negra, que diariamente segue em frente, tecendo seu destino, mas crente que o amanhã será melhor, porque faz a diferença em nossa sociedade. Ela que alimentou a tantos e que jamais deixou de lutar é minha homenageada na Semana da Mulher. Para isso trago uma poesia do poeta Oubi Inaê Kibuko. In: Canto á Negra Mulher Amada, SP, 1986, porque nesta luta muitos homens são companheiros, e estão celebrando conosco nossas vitórias.

Mulher negra, negra mulher,
Astuta e valente companheira
Mesmo vivendo, em anônimas trincheiras
Manténs ativa tua força guerreira.

                                           Mulher negra, negra mulher
No teu sorriso encontro alegria
No teu corpo compartilho amor
Tua fé me enche de esperança
Tua amizade me enche de calor
Teu carinho cura a minha dor
Transformando-se em chama
Que aquece e ilumina meus caminhos...
Em tempos frios e cinzentos.
Seja nossa união malunga
Milhões de lanças erguidas
Contra os leões mil
E os nossos braços, sementes e frutos
Transformem num imenso Quilombo
As terras deste nosso Brasil
Cavado e edificado com os ossos dos nossos ancestrais.
Mulher negra, negra mulher!

 

 

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