Por que o Brasil negou à população negra, durante séculos, o direito a uma família. Assim adquiriu uma dívida impagável
nos diz Afonso Ligório Soares. Pós - doc pela Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro, doutor em Ciências da Religião pela Universidade
Metodista, desenvolve pesquisas nas áreas de Ciências da Religião, Teologia, Ética,
Ecumenismo, entre outras e é professor na PUC – SP. Ele nos chama atenção para
o fato de que a história da dívida social brasileira para com as famílias
descendentes de africanos confunde-se com o próprio sangramento imposto à
África pelo tráfico internacional de escravos. Em seu artigo “a dívida para com
as famílias negras”, nos mostra que a escravidão africana começou timidamente em
algumas ilhas de possessão portuguesa no Atlântico, e que depois passaram a ser
o que se chamou de laboratório para o Escravismo nas Américas. O Brasil entrará
neste processo somente 100 anos depois. A experiência satisfatória nas ilhas
animou todos a dar o passo decisivo: as Américas. Logo o Brasil será o grande
campeão do tráfico negreiro: 38,1% dos africanos chegados às Américas vieram
pra cá. Esse imenso contingente de população escrava e não cidadã deu o tom de
toda a história da Colônia e do Império. Em breve: nós somos uma nação que, na
maior parte de sua história, teve como maioria uma população em cativeiro,
subjugada pelo regime de escravidão. Uma população de não brasileiros, que
custará caro às famílias africanas, pois em quatro séculos a África perdeu de
65 a 75 milhões de africanos; e aos seus descendentes. Este mercado vai exigir
cada vez mais mão de obra; e a mão de obra especializada vai ser a africana:
masculina e jovem. Foi privilegiada a aquisição de varões. O africano trazido
para a América na condição de escravo era tratado como peça e vendido
individualmente. Nunca houve preocupação em proporcionar um grupo social
oficial para esta população. O filho de escrava/o, mesmo branco, era escravo e
não acompanhava a mãe quando vendida/o. De modo que o tempo passa e, à população
negra será negada a possibilidade de formar uma família. Até houve casamento
entre escravos, porém diante da necessidade de comercialização de um dos dois,
isto era feito sem maiores preocupações. O afrodescendente buscará formas de se
associar a um grupo. A religião será um destes espaços. O terreiro de Candomblé,
os quilombos e as irmandades são exemplos de que o sentido de pertença a uma
comunidade a um núcleo familiar permaneceu vivo entre os descendentes de
escravos. A herança desta parte da história é observada nos dias de hoje, nos milhares
de crianças aptas para adoção que crescem nos orfanatos apenas pelo fato de
serem negras; o número de menores com pais desconhecidos é maior entre a
população negra; também até pouco tempo atrás, o percentual de homens negros
nas prisões era muito maior que o de homens brancos. E suas famílias? Precisamos
lembrar que o perfil socioeconômico da população negra da atualidade é
resultado da ausência de uma ação efetiva do Estado Brasileiro de promoção e
inserção, com igualdade de direito, em nossa sociedade. Isto também explica a
baixa alta – estima do brasileiro, que em geral, se ver como inferior aos
outros povos, sobretudo quando este outro é europeu ou estadunidense.
Pertinente seu texto principalmente para mim que toda segunda converso com os adolescentes sobre a questão étnico-racial. Quinta feira tivemos a honra de receber um apaixonado pelas questões de discriminação seja ela qual for, no caso ele é negro, foi rica a reflexão que fizemos e agora vc vem nos enriquecer com dados estatísticos de algumas situações. Obrigada.
ResponderExcluirMuito bom!
ResponderExcluirFiquei pensando em toda essa discussão em torno do Trafico de Seres Humanos que, diante do trafico negreiro constato ter sido gerada muito tempo e tempo e tempo depois! É muito recente o Protocolo de palermo que institui e caracteriza o crime de trafico, data do final do século passado...(bem pertinho heim) alem dos planos de enfrentamento ao trafico, ainda mais proximo ainda, data desta decada. TÔ SENTIDO CHEIRO DE MAIS UMA DÍVIDA HEIM CONCEIÇÃO!!
To aqui pensando: será que na verdade esse tráfico nunca deixou de existir. Foi só na teoria?? Hummm
ResponderExcluirConceiçã, já disse mas vale sempre repetir, seria melhor não precisar ler um texto tão cruel sobre uma realidade tão perversa, mas já é fato então escancaremos, que ninguém diga que não sabia, que nunca ouviu dizer.