terça-feira, 2 de julho de 2013

GAY HETEROSSEXUAL


Texto extraído do livro "Mulher Perdigueira", de Fabrício Carpinejar.

Ela: - Você é um gay heterossexual.
Ele: - Eu?
Ela: - Sim. Um gay que gosta de mulher e só de mulher. Essa é a diferença.
Ele: - Mas de onde você tá tirando isso? Eu adoro futebol.
Ela: - Meu cabeleireiro também adora.
Ele: - Eu gosto de lavar carro, sofro com qualquer arranhãozinho ali no meu carro.
Ela: - Meu estilista também.
Ele: - Ah, meu Deus. Você não me ama mais.
Ela: - Viu como é dramático? Qualquer coisa é uma ópera gay!
Ele: - Não sou nada. Não uso piteira pra tragar as palavras.
Ela: - Olha aí, humor refinado. Seu humor é gay. Ninguém entenderia essas piadas.
Ele: - Não, para, você ta me provocando à toa.
Ela: - Não, acho extremamente viril um gay ser heterossexual.
Ele: - Tá bom! Me mostra que sou gay!
Ela: - Lembra quando você fez um strip na última semana?
Ele: - Lembro. E daí? Não gostou?
Ela: - Vibrei! Sabemos, mas você arrancou a camisa, a calça, jogava pro lustre, pela janela, mostrava um desinteresse passional, furacão. E... no instante de retirar as meias, você criou um novelo com as duas como se fosse guardar na gaveta!
Ele: - Não me diz que é gay!
Ela: - Sim, foi uma parada gay.
Ele: - Para de polinizar. Não posso ser gentil, educado, afetuoso e já me rotula.
Ela: - Conversa de gay. Não recordo de um marmanjo defendendo a sua ternura.
Ele: - Sou vaidoso no amor, e daí?
Ela: - Pinta as unhas, corta o cabelo uma vez por semana, seu guarda-roupa é duas vezes o meu! Adora loja, disposto a debater duas horas se leva um charpe ou não.
Ele: - Não vejo a vida com maniqueísmo, homo e hétero.
Ela: - Quanto tempo você suporta uma mancha no tapete?
Ele: - Cinco minutos!
Ela: - É! É o tempo pra buscar um desinfetante, né?
Ele: - Bom, tá tudo bem! Quer uma prova de que sou inteiramente masculino?
Ela: - Inteiramente? Estranho... um gay é que emprega muito esse tipo de advérbio.
Ele: - Não, não, deixe eu falar.
Ela: - Tá, tudo bem. Me diz qual é a prova irrefutável.
Ele: - Eu tenho um poncho.
Ela: - Ué, e gay não usa poncho ?!
Ele: - Ah, eu vou mandá-la prum analista de Pagé pra acabar com essa frescura.
Ela: - Tudo bem, é um homem. Você é um homem. Um homem gay.
Ele: - Poderia arrumar seu brinco? Tá caindo.
Ela: - Falei. Repara em tudo, comenta qualquer pessoa que passa. O jeito que ela se veste, o jeito que ela fala, tomado de uma maldade alegre.
Ele: - Ué, falando mal dos outros que eu aprendi a me criticar.
Ela: - Nunca tem fim uma discussão de um relacionamento. Emenda um problema no outro, não termina um assunto...
Ele: - Acho que você está acostumada com desprezo.
Ela: - Tá me ofendendo? Eu puxo os seus cabelos.
Ele: - E se encontrar um nó, desembaraça?
Ela: - Isso é um detalhe! Observe agora a sua quebradinha de quadril pra afirmar que não é gay.
Ele: - Não, não, não. Isso não é suficiente.
Ela: - Combina cueca com camiseta. Homem não escolhe a cueca, pega a primeira que aparecer pela frente.
Ele: - Não me convenceu isso aí. Isso aí é de suas histórias, não é capricho.
Ela: - Limpa a casa com entusiasmo. Vocação Maternal.
Ele: - É uma vingança porque canto ABBA na cozinha.
Ela: - Não me entenda mal. Acho você um homem perfeito. Mas um super homem do Gil.
Ele: - Gilberto Gil? Pretende me desmoronizar?
Ela: - É um elogio, porra!
Ele: - Parece um homem falando agora.
Ela: - Ah, vá se danar!
Ele: - Descobri o que quer com essa conversa. Já transou com um gay, acertei?

Ela: - Tudo bem, sua paranóia é masculina

Um comentário:

  1. AI QUE CONFUSO... SERÁ QUE ENTENDI?
    TÔ LENTO... ACHO QUE É ESTE TEMPO DE FÉRIAS.

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