terça-feira, 3 de dezembro de 2013

CRACK É POSSÍVEL VENCER? Relato de um morador.



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Somos moradores do centro de SP, mais especificamente na Rua Guaianases. Desde quando viemos morar na região enfrentamos dificuldades com a violência devido o tráfico de CRACK e também com o número de usuários da substância, que igualmente produzem a violência na região. Só para lembrar, no início quando chegamos (+/- 2006), havia uma unidade móvel da polícia militar no local, no entanto, logo após a venda dos apartamentos e a ocupação de todo prédio a unidade foi retirada. Até esse momento não havia usuários em nossa rua, mas dias após a saída da unidade da PM eles começaram a ocupar a esquina das ruas Vitória com Guaianases chegando a mais de cem pessoas usando crack, crianças, mulheres grávidas, adolescentes, deficiente físico entre, outros..


A situação estava insustentável, todos os dias ligávamos para a Polícia Militar, mas poucas vezes éramos atendidos. Pois devido o aglomerado de pessoas, foi-nos roubado a direito de sair e entrar em nossas casas.
Há alguns meses foi negociada a permanência de uma nova unidade nessa rua em frente ao prédio, onde foi reservado um local específico para a permanência dessa unidade. A situação nesse momento melhorou, mas fomos informados que a unidade havia quebrado e necessitava de manutenção. Fizeram o orçamento do conserto e a população fez um “rateio” arrecadando dinheiro para arrumar, logo após o conserto da mesma o coronel responsável pela região retirou a unidade sem uma explicação. Já existe uma unidade no quarteirão seguinte que permanentemente fica no local (24hs), todavia eles não interferem no movimento que existe há cerca de 50m de onde os policiais estão. Devido o grande barulho que os usuários produzem durante a noite, momento onde reúne o maior número de pessoas, os moradores desesperados, começaram a atirar objetos no grupo que fica badernando na rua, pois impede que qualquer pessoa possa descansar/dormir com tranquilidade para levantar cedo no outro dia para trabalhar.


Esse grupo se revoltou e começou ameaçar os moradores que entravam e saiam do edifício, produzindo medo e pavor. Com a revolta desses usuários, eles quebraram os vidros da porta de entrada do prédio e também do prédio vizinho. Ontem um morador foi assaltado a mão armado por três indivíduos, próximo a estação São Bento do metro quando ia trabalhar. Foi obrigado retornar para casa quando viu os três indivíduos bem em frente ao prédio com sua mochila que continha seus documentos, objetos pessoais, celular e relógio. Logo que os indivíduos avistaram o morador entrando no prédio, largaram sua mochila remexida jogando tudo no chão e saíram com tranquilidade. O morador teve que recolher todo material jogado no meio dos usuários sofrendo ameaças dos outros que estavam ali ao seu redor. Uma situação indigna e humilhante para quem paga seus impostos e é eleitor desse município mas não tem o direito de no mínimo ter segurança para ir ou voltar do seu trabalho.

A síndica do prédio relatou que um policial havia se irritado com o número de ligações solicitando a presença da PM no local, ao “bater boca” com ele o mesmo pediu desculpas e forneceu seu número de telefone particular caso precisasse de alguma ajuda. Como assim?

Este é apenas um resumo da situação que diariamente enfrentamos. Pois bem, olhando para as questões surgidas desse rápido relato:
- Pensando em Direitos Humanos, porque nos negam o direito a uma vida mais digna e segura no local onde a própria prefeitura estimulou a vinda de tantas pessoas para o centro de SP?.
- Porque esse policial daria o fone particular dele para um pedido de ajuda caso necessário, uma vez que a situação emergente já esta posta e já existe o contato oficial da PM para essas situações? Que interesse há nisso?
- Porque a base militar instalada há um quarteirão não interfere na situação caótica estando tão próximo dela? (Ao contrário, faz vistas grossas).
- Porque os policiais passam pelas ruas vizinhas e não entram na rua Guaianases para tentar instalar um clima de mais segurança? Seja policiais com viatura ou montados.
- Porque temos que ficar tão abandonados frente ao poder público?
- Será que se esses usuários se instalassem em áreas onde residem os mais afortunados da cidade a PM ou poder politico que seja, deixariam que eles ficassem por lá, assim como fazem por aqui? Vamos estimular a ida deles para lá!
- Que exemplos estamos dando as nossas crianças que diariamente convivem com essa situação? O que elas estão aprendendo com isso? Que retornos educacionais terão?


O que percebemos é que nada é feito, o sentimento de insatisfação é grande e o medo é ainda maior. Tiraram-nos o direito de liberdade de transitar onde moramos, de segurança e tantas outras coisas. Qual o resultado que está apresentando o programa ministerial do “CRACK É POSSIVEL VENCER”. Será que a verba está mesmo sendo aplicada aqui na cidade? Seria mesmo possível vencer o crack com tantos traficantes livres para comercializar a substância? Nós que residimos nas “cracolândias” sabemos que não, se não combaterem o tráfico dia e noite aberto na frente do prédio. Existem muitas forças obscuras que não querem que isso aconteça, basta que alguém as tragam à luz para poder vencê-la.

De Reinildo Souza

Por Gilson Reis

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