domingo, 29 de janeiro de 2012

PAULICÉIA



Vendo-te, assim, tão de perto

Percebo-te alheia, caótica e solitária,

Apesar dos fortuitos olhares da turba à tua sombra.

Contemplo-te, na tua imperfeição reluzente.

Tuas cicatrizes gigantescas,

Teus arranha-céus impávidos,

Estendidos pela orla cinzenta de tuas nuvens.

És amor e és ódio.

És poesia e és cólera.

És contradição.

Então, tudo se admite na congruência de tua essência metropolitana.

Tuas impurezas.

Discrepâncias.

Demências.

Belezas roubadas.

Construções perenes daqueles que te habitam e devoram.

És a razão de fortunas e de infortúnios.

És o vintém de quem te mendiga.

Consolida-te em memórias e em grotescas modernidades.

Moras nos palácios, nos becos, nos morros...

Escondem-te em escadarias, viadutos, em barracos e em papelões.

Ditas regras nefastas, no entanto, acolhes o oportuno andarilho

Em romântica paisagem.

Sondam-te os trólebus, os trilhos,

As trilhas que serpenteiam teus casarões inabitáveis.

Mergulham-te os zumbis desesperados por torpor,

E, assim, és causa e efeito.

Esperança, morte e quimera.

Veia urbana e insana.

Vendes-te.

Entendes-te.

Mereceste-te.

Estendeste-te.

Em cada esquina onde te oprimem as vaidades,

Ostentas a fortaleza de tua pujança e a nobreza de tuas notas.

Segues sólida e imperfeita,

Entre alamedas direitas e tortas.

E, mesmo no assombro de tamanha incoerência,

Vejo-me teu servo e sirvo tua força.

Hábito cosmopolita.

Chão que me abriga.



25/01/2012 – 01:15
Chiquinho Silva


Conjunto formado pelo Viaduto do Chá,
Teatro São José (Isso mesmo! Ali havia outro...),
Teatro Municipal e Vale do Anhangabaú (1920).


Enchente: Ponte em Pinheiros...

  Viaduto do Chá...

 Regatas Tietê...

 Largo da Sé: progresso rápido para abrigar lojas,
cafés, bancos e restaurantes.

 
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2 comentários:

  1. Chiquinho, que linda declaração de amor...Confesso que eu também amo essas calçadas...Quando me ausento por muito tempo, acho o verde do mar entediante, o calor insuportável, o atendimento displicente...Ah! que saudade me dá dos dias de todas as estações, de me vestir feito cebola, com várias camadas de roupa, e ir tirando uma a uma com o decorrer do dia que amanheceu gelado, esquentou e tenho certeza que a tarde chove...Ah! cheiro inominável do rio Tietê...Trânsito, stress. Ah! São Paulo, tu és meu strass. Brilhante!!!
    Valeu Chico. Saudade de você também.
    Marli Pereira

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