Existem pretos na história da construção
da sociedade
e da cidade de São Paulo?
Sim. Entre eles, os Irmãos da Irmandade
do Rosário de Nossa Senhora dos Homens Pretos. Mas infelizmente, apesar de suas
famosas festas religiosas, dos imóveis que possuíam e da participação na vida
social da cidade, eles ficaram limitados, nesta história a prestadores de
serviços e ainda hoje, invisibilizado na cidade. A marca deixada pela
escravidão relegou este povo a eterna condição de discriminação e inferioridade
na cidade. Mesmo o Irmão do rosário, “que era negro social” como disse D.
Cacilda, lendária irmã do Rosário. O fato de ser negro aliado à especulação
imobiliária que “norteou o crescimento da cidade”, segundo Frugoli, expulsou os
irmãos do chamado centro velho. Entretanto, com toda esta limitação, eles
permaneceram firmes nos propósitos de seus ancestrais, que era a luta pela
dignidade de ser homem – mulher negro/a e de valor. Apesar de não ter o
respaldo dos poderes públicos para isto para o reconhecimento de sua ação
enquanto cidadão da cidade, a fé em Nossa Senhora do Rosário e a identidade que
estas pessoas têm com a cidade, fez com que, eles continuassem a defender seu
espaço. Porque para eles, a igreja não é apenas um lugar religioso, é também e,
principalmente um espaço de resistências. Ainda segundo Frugoli, “a cidade foi
se expandindo sob a égide do investimento privado, dotando futuras áreas de
moradias apenas de mínimas condições”. É para estes bairros que os irmãos do
rosário irão se deslocar. Assim, São Paulo formará regiões que representam uma
verdadeira segregação sócio-espacial imposta pelos poderes públicos e privados.
À medida que o tempo passa a distribuição territorial dos Irmãos, será definida
pelo poder aquisitivo de cada um. Os Irmãos do Rosário que conseguiram superar
as barreiras de aceitação social foram residir nestes bairros, que ficavam na
periferia do centro velho. Porém, outra grande parcela destes foi para regiões
mais distantes, como a região leste. Muito mais desprovida de infraestrutura
básica, mas que em função de sua distância era possível construir uma moradia e
viver com dignidade apesar de continuar trabalhando na cidade. Através destes
pequenos textos é possível percebermos que a cidade que acolhe milhões de
pessoas de todas as partes do mundo e que as incentiva a preservarem sua
cultura, não tem o mesmo olhar para os descendentes dos Irmãos do Rosário que
aqui estão desde o século XVIII.
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