Quando falamos da contribuição cultural africana às manifestações
religiosas brasileiras, imediatamente nos remetemos ao Candomblé. Mas também em
relação à religiosidade negra o Estado Brasileiro também tem uma dívida
impagável. Até meados do século passado, os espaços sagrados das religiões afros
eram violados e destruídos por causa da ignorância e do preconceito em relação
à cultura afro. Heitor Frizotti, sacerdote comboniano, mestre e pesquisador das
religiões afros, principalmente em Salvador, BA nos diz que uma das dívidas maiores
da sociedade e das igrejas cristãs é com as religiões afro-brasileiras.
Continua dizendo que não se trata somente do Candomblé, mas de uma vasta
pluralidade de expressões e instituições religiosas: confrarias, reisados,
irmandades, congadas, santuários, santos padroeiros e festas populares,
rezadeiras e benzedeiras, presença no catolicismo, no protestantismo e em
tantas outras religiões. Até porque o conceito ocidental de religião fica
estreito para descrever e classificar o que os povos afrodescendentes
consideram como religião: muitas vezes ela está unida e se funde com a cultura,
a família e a história de um grupo social. Dentro deste contexto, temos a
palavra Axé, que ainda hoje é mal interpretada em nossa sociedade, que a vê
como uma palavra do “mal”. No entanto, para os Yorubás, a força – denominada axé
– é também um princípio-chave de cosmovisão. O axé, (...) ‘assegura a
existência dinâmica, que permite o acontecer e o devir. Sem axé, a existência
estaria paralisada, desprovida de toda possibilidade de realização. É princípio
que torna possível o processo vital’. (...) ‘Não é o supranormal, mas o eficaz,
o poderoso, o criativo’. (...) A posse do axé implica algo que se pode chamar
de ‘poderoso’ ou ‘potente’, uma vez que se trata de uma força de realização ou
de engendramento. Diante do exposto Frizotti diz ainda que a dívida social
continua, infelizmente. Porém, o primeiro passo de justiça e reconciliação pode
ser o resgate da história de luta, organização fé libertadora de muitas pessoas
e instituições religiosas negras no Brasil. Terreiros, Irmandades e tantas
comunidades de fé estiveram comprometidas com lutas, quilombos, organizações sociais
e de previdências, greves, reivindicação de direitos, movimentos, sindicatos,
etc. Elas mesmas eram espaços de dignidade, organização, educação, memória de
tradições culturais, resistência política e alianças, além de preservar a fé na
presença do Deus da Vida ao lado de tantos excluídos e excluídas.
Quando descobri a palavra AXÉ, no grupo de religiosos Negros - GRENI - ou que sabe antes, na pastoral da Juventude, nao lembro bem, tenho a impressao que foi a expressao mais dita naquele ano. Tudo era motivo para dizer axé! Hoje eu perdi este jeito. O substitui por CHEIRO.
ResponderExcluirCheiro de Axé!