terça-feira, 2 de agosto de 2011

TEATRO

O último domingo estava um tanto cinzento, frio... fui ao apartamento de meu amigo, Francisco, onde se encontravam também Jorge e Rodrigo porque pretendíamos fazer um passeio, o que não ocorreu. Então ficamos ali em seu apartamento, ora conversando ora em silêncio, vendo vídeos no youtube. Assistimos coisas interessantes e lembro que falamos sobre o quanto essa tecnologia tem favorecido o acesso à informações valiosas tão rapidamente, o que em outros tempos, não tão distante, era quase impossível. Ah..., acesso rápido também à muitas bobagens, é bom lembrar.

Depois de muito estar ali decidimos que iríamos ao teatro Galpão do Folias ver a seguinte peça, à qual recomendo a todos.

De 29/07 a 11/09/2011 “AS TRÊS VELHAS” de Quinta a Sábado às 21hs30 e Domingos às 19hs “Dirigido pela veterana Maria Alice Vergueiro, o espetáculo "As Três Velhas", texto do cineasta chileno Alejandro Jodorowsky. A peça, que até agora só teve uma montagem com títeres, na Bélgica, conta a história fabulesca de duas marquesas decadentes e octogenárias. Melissa e Graça vivem em uma mansão em ruínas e são vigiadas pela centenária criada Garga. Parecem ser salvas do desgosto ao receberem um convite para se tornarem garotas-propaganda. Elas ainda são cercadas por uma figura dúbia e misteriosa.”

http://www.youtube.com/watch?v=RXVcmlAAPk8&feature=relmfuhttp://www.youtube.com/watch?v=ANbk84wjLck

Ainda no apartamento, Francisco nos deu algumas informações sobre Maria Alice Vergueiro, que dispensa apresentação, mas tenho que reconhecer minha ignorância. Fomos assistir a peça e saímos do teatro extasiados com o que vimos, um trabalho tão bem feito, com tamanha intesidade de interpretação dos atores. Haja dedicação e talento! Estou pensando em uma entrevista que vi com a atriz Fernanda Montenegro em que ela dizia que às vezes tem a sensação de que as divindades estão ali no teatro protegendo, abençoando, guiando os atores.

Há algum tempo uma amiga disse que o texto mais bonito que ela já havia lido sobre o que é o ator era um texto de Plínio Marcos, entitulado - O Ator – que apresento aos leitores, e que acredito que será melhor entendido quando assistirem a peça.

O Ator

Por mais que as cruentas e inglórias
Batalhas do cotidiano
Tornem um homem duro ou cínico
O suficiente para fazê-lo indiferente
Às desgraças e alegrias coletivas,
Sempre haverá no seu coração,
Por minúsculo que seja,
Um recanto suave
Onde ele guarda ecos dos sons
De algum momento de amor já vivido.

Bendito seja
Quem souber dirigir-se
A esse homem
Que se deixou endurecer,
De forma a atingi-lo
No pequeno porém macio
Núcleo da sua sensibilidade.
E por aí despertá-lo,
Tirá-lo da apatia,
Essa grotesca
Forma de auto-destruição
A que por desencanto
Ou medo se sujeita.
E por aí inquietá-lo
E comovê-lo para
As lutas comuns da libertação.

O ator tem esse dom.

Ele tem o talento de atingir as pessoas

Nos pontos onde não existem defesas.

O ator, não o autor ou o diretor,

Tem esse dom.

Por isso o artista do teatro é o ator.

O público vai ao teatro por causa dele.

O autor e o diretor só são bons na medida

Em que dão margem a grandes interpretações.

Mas o ator deve se conscientizar
De que é um cristo da humanidade:
Seu talento é muito mais
Uma condenação do que uma dádiva.
Ele tem que saber que para ser
Um ator de verdade, vai ter que fazer
Mil e uma renúncias, mil e um sacrifícios.
É preciso coragem,
Muita humildade e, sobretudo,
Um transbordamento de amor fraterno
Para abdicar da própria personalidade
Em favor de seus personagens,
Com a única intenção de fazer
A sociedade entender
Que o ser humano não tem
Instintos e sensibilidades padronizados,
Como pretendem os hipócritas
Com seus códigos de ética.

Amo o ator
Nas suas alucinantes variações de humor,
Nas suas crises de euforia ou depressão.
Amo o ator no desespero de sua insegurança,
Quando ele, como viajor solitário,
Sem a bússola da fé ou da ideologia,
É obrigado a vagar pelos labirintos de sua mente
Procurando, no seu mais secreto íntimo,
Afinidades com as distorções de caráter
De seu personagem.

Amo o ator
Mais ainda quando,
Depois de tantos martírios,
Surge no palco com segurança,
Oferecendo seu corpo, sua voz,
Sua alma, sua sensibilidade
Para expor, sem nenhuma reserva,
Toda a fragilidade do ser humano
Reprimido, violentado.
Amo o ator por se emprestar inteiro
Para expor à platéia
Os aleijões da alma humana,
Com a única finalidade
De que o público
Se compreenda, se fortaleça
E caminhe no rumo
De um mundo melhor,
A ser construído
Pela harmonia e pelo amor.

Amo o ator
Consciente de que
A recompensa possível
Não é o dinheiro, nem o aplauso,
Mas a esperança de poder
Rir todos os risos
E chorar todos os prantos.
Amo o ator consciente de que,
No palco, cada palavra
E cada gesto são efêmeros,
Pois nada registra nem documenta
Sua grandeza.

Amo o ator e por ele amo o teatro.
Sei que é por ele que
O teatro é eterno
E jamais será superado
Por qualquer arte que
Se valha da técnica mecânica.



4 comentários:

  1. Excelente postagem!
    Estava sentindo falta da linguagem teatral no Blog. O primeiro ato foi sublime.

    Cheiro de chuva

    ResponderExcluir
  2. O que dizer?

    Evoé!!!!!

    Merda à todos nós!!!

    Chiquito

    ResponderExcluir
  3. Acredito que por isso o coletivo cultural pegando o gancho tenha tantos adeptos como outros grupos culturais por ai... Estar envolvido com a poesia, com a arte, com a música... é um jeito de atuar neste mundo. Tenho certeza a realidade muitas vezes dói, pesa...
    Lau obrigada pela postagem. Todos somos atores de certa maneira.

    ResponderExcluir
  4. Lau...ja li 20 vezes essa parte da poesia...PERFEITO!!!...

    ..."Com a única intenção de fazer
    A sociedade entender
    Que o ser humano não tem
    Instintos e sensibilidades padronizados,
    Como pretendem os hipócritas
    Com seus códigos de ética."...

    ResponderExcluir