Severino José do Nascimento, o retirante, não lembrava mais dos nomes, de qualquer forma, para a sorte de Severino José do Nascimento, aqueles cinco mendigos se constituíram os seus cinco primeiros companheiros na cidade grande, muito grande, inacreditavelmente grande.
Os bons companheiros iniciaram a caminhada com destino ao Brás, onde “morreriam”. Ao chegarem, se localizaram num lugar denominado “Pedra”, que depois veio a saber que este nome era denominado a toda estação sem organização. Aquele se tornou o novo campo de concentração... de mendigos. Ali, na Pedra, eles aguardavam homens que vinham de longe, a mando de Empregadores, talvez donos de plantação de alimentos, que escolhiam, dentre eles, o “mais vistoso” para o trabalho e os levavam... não se sabia para onde. “Se fosse pra forca, ninguem tava sabendo!”. O que Severino José do Nascimento sempre soube, é que ele nunca foi escolhido para trabalhar.
Em frente à Estação do Brás havia um Albergue que ele conhecia como CETREN, e onde ele podia deixar o campo de concentração e, às 19 horas matar sua fome e depois dormir, para acordar as 5 horas da manhã e novamente voltar para o campo de espera.
Após dois dias de hospedagem noturna naquele Albergue, uma nova Organização Social começa a Coordenar o fluxo de seres humanos da rua, dentro daquele espaço de iguais. Esta Organização chamava-se CROPH, a Coordenação Regional das Obras de Promoção Humana. Severino José do Nascimento lembra, “como se fosse hoje”, daquela primeira mão que lhe acolheu de forma diferente, “como se eu fosse gente”. As primeiras pessoas as quais conheceu chamavam-se Ana Maria e Afonso. Ali começava uma nova história na vida daquele Nordestino Pernambucano.
Dois meses se passaram... nenhuma informação da família... muita vontade de voltar para Pernambuco...no entanto, voltar pra sua terra, “só se fosse com dinheiro”. A vida continuava naquele campo de concentração de mendigos, esperando homens que lhe oferecessem “um bico” pra poder comer algo durante o dia, pra poder sair da pedra de tropeço na qual estava situado. Severino José do Nascimento, após comer pão, tomar leite ou café no Albergue, pisava o chão da rua para uma nova jornada de mais um dia, e nesta caminhada, catava comida nos lixos ou pedia aos transeuntes para saciar sua fome e, ainda que não dessem, nunca cometeu nenhum ato ilícito.
- Eu via muito roubo na rua, muita gente fumando maconha e crack, mas nunca roubei, graças a Deus! Fumava. Só cigarro. Via muita mulé! Queria uma, mas num tinha dinheiro para pagar.
No dia 15 de outubro daquele mesmo ano, a então Coordenadora do Albergue, Sra. Ana Maria Esteves, junto ao Sr. Afonso, acolheu aquele desempregado, rejeitado pelos homens “do não sei de onde”, como o mais novo trabalhador voluntário do Albergue. Agora se ausentara das ruas e, ali, poderia permanecer durante o dia, realizando atividades necessárias e se alimentando. Severino José do Nascimento se destacara nos serviços que prestava, seu comportamento era observado pela Sra. Ana Maria, principalmente quando ele ficava horas quase ininterruptas dentro da enfermaria, ajudando as enfermeiras a dar banho nos idosos, a cuidar dos medicamentos dos mesmos e a leva-los a banhar-se no sol. Ao final de cada mês, Sra. Ana Maria e o Sr. Afonso lhe entregava a quantia simbólica de R$ 30.00 e ele, imediatamente, comprava cigarros e gastava todo o resto no cabaré.
- Ah meu camarada! Pra quem tava seco que nem o mês de setembro!
A rotina de Severino José do Nascimento começava a ser diferente, quem antes não tinha comida garantida, agora já possuía, seja ela um alimento nutricional ou mesmo um alimento sexual.
Foto: Uanderson Fernandes / Agência O Dia
Engraçado,
ResponderExcluirlembro de você ter escrito a História de Severino, mas não havia me dado conta dela, lembro de você comentar dos aspectos cômicos, dolorosos, etc. São Paulo tem dessas Histórias! Muitas.
Pois é LAU!
ResponderExcluirSinto que este Severino só cresceu... vai acompanhando a tragicomicojetoria dele!
Cheiro de rapadura