quinta-feira, 15 de setembro de 2011

SEVERINO... VOLTAR À TERRINHA NEM SEMPRE É MOTIVO DE FELICIDADE

O trabalho com os idosos lhe possibilitou o primeiro emprego na cidade de São Paulo. “Oportunidade de emprego só dá uma vez” – defende Severino José do Nascimento. Tendo conseguido emprego, Severino José do Nascimento fez o primeiro contato com a Família, ocasião em que contou toda história a qual havia experimentada, situando-se dentro de uma perspectiva, agora, promissora. Lhe era difícil falar aos entes queridos antes que alguma novidade saudável lhe tocasse a porta e, assim, a transmitisse com um sorriso expansivo.

A primeira oportunidade lhe foi oferecida, como Segurança, na Creche Irmã Maria Arminda. Nesta Creche, também trabalhou como Zelador até o ano 2000, quando a Coordenação da CROPH decidiu apoiá-lo na capacitação para o cargo de Motorista, ajudando-o a providenciar sua Carteira de Habilitação. A partir desse instante, nasce um excelente Motorista, profissão que se desenvolveria ao longo dos anos junto a Organização Social. Foi em 2001 que, habilitado para o trabalho, Severino José do Nascimento tornou-se o Motorista particular da Coordenação da CROPH.

Tamanha ascensão profissional e pessoal deste Nordestino, humilde e simples, fez nascer e desenvolver-se sentimentos de familiaridade com a Sra. Ana Maria e o Sr. Afonso.

 Meu pai e minha mãe são a dona Ana Maria e o Sr. Afonso. Eles confiaram em mim e até hoje eu estou com eles. Sou um homem de confiança! Isso é o mais importante!

Os laços de amizade se estruturavam com os demais integrantes da Coordenação da CROPH e, pela personalidade expontânea que lhe caracteriza, desenvolvia laços positivos com demais profissionais dos Projetos administrados pela Organização.

A nova composição relacional que se estruturara no decorrer dos anos, bem como, a formação profissional experimentada, a sobrevivência de um migrante em terras que lhe eram estranhas, criaram em Severino José do Nascimento um sentimento de afirmação de sua presença em São Paulo

“No início eu me arrependi, quando comia comida do lixo. Hoje não né camarada, tenho uma família que é a CROPH. Fico triste de não ter meus parentes perto de mim...”

Parentes de sangue nem sempre é uma realidade próxima para este Nordestino que “endoidara o cabeção” há tempos atrás, vindo enfrentar a labuta da cidade grande, no entanto, com o início do poder de compra, ainda que limitado, fruto do salário que recebia pelo trabalho desenvolvido, Severino José do Nascimento começara a fazer viagem à Cidade de Moreno, onde nasceu e de onde migrou. Viajou de ônibus, em 1997, durante três dias, carregando na bolsa, não mais “15 conto” mas, R$ 1.500,00; de São Paulo, não levou nenhuma comida típica, nem rapadura e nem farinha.

“Agora já podia comprar comida onde parasse” – fala, com certo tom de esbanjamento.

Não foi pouca a emoção da primeira viagem, retornando à cidade natal, após sua triste despedida em 1995, no entanto, permaneceu apenas 5 dias na companhia dos parentes, não pela ausência de saudade e desejo de estar juntos a eles, mas por não ter suportado a realidade cortante que ainda se afigurava na vida dos entes queridos. A cana de açúcar ainda amargava suas vidas.

“Passei mais dias na estrada do que na minha casa” – disse, com ar reflexivo.




Fotógrafo: Rhett A. Butler

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