Gol preso na garganta
O poema “Gol Contra” de Sérgio Vaz, escritor, poeta e morador da Zona Sul de São Paulo, autor do mais novo livro “Literatura, pão e poesia”, propicia uma reflexão interessante sobre a vida, os sonhos, a ilusão. De maneira brilhante o autor faz uma severa crítica ao futebol, ou mais precisamente sobre a ilusão (no sentido mais negativo do termo) que o futebol gera na cabeça de milhares de crianças e adolescentes e adultos.
Faz-se necessário dizer que a ilusão é uma dimensão indispensável da condição humana. Fundamental.
Mas o que o autor critica é essa ideia simplista, abraçada sobretudo pelas crianças e adolescentes, e muitas vezes, legitimada pelos adultos, em ser jogadores de futebol a qualquer preço. Ou melhor, a um preço (R$) bem alto, haja visto os altíssimos salários de alguns atletas que diariamente os meios de comunicação fazem questão de destacar, mais parecendo um insulto, dada as condições precárias de trabalho que a maior parte dos brasileiros tem que se submeter desde o momento em que deixam seus lares e partem em busca do pão de cada dia.
Os jogadores parecem ter a vida que “todas” as pessoas gostariam, ou pelo menos a maior parte, em especial o público juvenil. Muito dinheiro, carros importados, fama, mulheres, trabalho pouco (vamos convir!), estudar quase nada, etc. Talvez seja aí que se esconde a dimensão perversa da ilusão, a armadilha. Há muitos alunos dizendo: “Estudar pra que professor? Eu vou ser jogador de futebol.”
Pois bem. O poeta afirma que também sonhou em ser jogador, ainda que naquela época, em sua adolescência, o futebol não dava tanto dinheiro como hoje em dia. Aliás, não sonhou sozinho, pois recorda que muitos de seus amigos partilhavam do mesmo sonho. O fato é que hoje, décadas passadas, o poeta constata que “não conhece ninguém de seus amigos daquela época que sequer tenha passado na peneira de algum time profissional.” E para completar afirma que muitos deles não lerão o seu poema. “Se é que vocês me entendem?” Pergunta o poeta num tom de ironia e tristeza.
Como se não bastasse, Vaz afirma que o campinho esculpido com suas próprias mãos e as mãos de seus amigos, transformou-se, hoje, num grande cemitério. E muitos dos seus amigos estão ali, enterrados.
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