domingo, 20 de novembro de 2011

BRADO!

"Operários", óleo sobre tela de Tarsila do Amaral


Costa a costa

Sangrou o mar,

Ergueu-se a chibata.

Reis e rainhas,

Príncipes e princesas sucumbem

Ao convés de naus banhadas em fel

Fustigadas por ondas contidas em lágrimas,

Cobre-lhes em açoite

Impede-lhes a liberdade, fere-lhes em saudades.

Como medir tamanha atrocidade?

Como compor tal crueldade?

História marcada,

Fincada nas exuberantes praias brasis,

Num luto perene de varões, mulheres e crias...

Em forçosa desventura.

E, desta mistura, força viril e cor varonil,

Brasil de mil faces, dissonantes acordes e fortes raízes.

Esculpidas pelo gemido do açoite, nas noites pretas de suas marés.

Carne em tons mameluco, caboclo, cafuzo, mulato difuso.

Brancura pálida coberta em vergonha,

Que agora sonha novos Brasis

De largo sorriso, colorindo de sol outras raças,

Que, em graça servil, compõem outras mil.

Massa gentil que vence desgraças e enlaça a morte sutil.

Nesse seu dorso, a marca luziu seus batuques de bamba,

Dessa mucama ianque... de cobiçada verdura

E da densa pretura que vem do fundo azul mar

Estado audaz, liberto em outras cores,

Amargos sabores e que, as lusitanas glórias,

Faz desta história honra e pesar.

Brada retumbante:

Salve! Salve!

Salve a beleza!

A mãe natureza,

De cor e nobreza,

Que, em sua destreza,

Teima em se libertar!


19/11/2011 – 22:34
Chiquinho Silva

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