sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Novembro Preto

Na reflexão sobre a postagem de Laudecir na última terça feira, transcrevo um poema preto do expoente da poesia preta, Akins Kinte, jovem promissor de grandes obras. O poema de sua autoria, que não me canso de ler e cada vez que releio mais apreendo, me faz experimentar do salgado do mar da África, no sal de minhas lágrimas, que vertem de meus olhos colonizados.

13 de Maio

A noite iluminada, a lua prateada
acompanhava os passos firmes da caminhada.
Adentro a mata batuques, o peito ardido em chamas
o ódio que inflama nos chama cidade adentro.
Nos olhos dos homens pretos calor e brio
no peito das crianças um frio
o coração feito rio, derramava lágrimas de Nilo.
A mãe com os olhos carentes de asilos,
secos os doces e quentes mamilos.
O pulso doído, no pescoço a tranca.
As entranhas feridas...o pele branca faz
num ódio sem fugaz...
A mucama que amamentou há tempos atrás
sorria ao pensar nos urubus, bicando os olhos azuis.
A ginga, os dentes serrados, a volta pro lar...
O cântico era toubob fá, toubob fá, toubob fá.
Os tambores findam escravatura
encharcando os feitores de susto.
Os malungos por trás dos arbustos
feito fantasmas da noite
famintos findam açoite.
Pretos retintos, reluzentes como o luar
serenos como o mar
abandonaste
deixaste mofar na corrente
quem colheu todo algodão.
De troco a dor fria no tronco quente.
Viu flores despetaladas o clã
tem na mente o afã
de incendiar a cidade dos cães
antes do por da manhã.
E deixar para os abutres, as carnes dos ilustres
a fazenda tomada, sinhá horrorizada,
embaraço.
Caço
o chicote que nas costas dos pretos fez morada.
Ecoa pelos poros revolta
choros e pele que soa.
Alforria? Quem leiloa?
Em praça pública
tá em súplica
morte dos senhores, liberdade nossa asa
os corpos marcados a ferro em brasa
entoam UNIKA
UHURU
AMANDLA
Lábios carnudos, suada a canção
13 de maio, decretada a abolição.

Com muito respeito, sua bênção, Akins Kinte

2 comentários:

  1. Não consegui saber ao certo o que foi mais belo, o poema ou seu pedido de benção ao poeta.
    Ambos profundos.

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  2. Gilson, cada dia que leio os poemas do Akins e com ele posso falar, fico mais impressionado com seu compromisso, criatividade. Um guerreiro!
    Compactuo com o que disse Luiza, acima.

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