segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

VIDA INTIMA...

Foto: Macchu Picchu/Peru

Prezados,
Quero apresentar hoje o retrato de um ex-paciente que me entregou essas palavras, sem título, para falar sobre as suas dificuldades existenciais. Existem coisas na vida que ferem e marcam. As marcas deixadas pela vida, coisas do passado presente às vezes quando não elaboradas vão acompanhando a pessoa como um prego perfurando um pouco a cada dia. Uma vivência doída cuja realidade, por mais longe que pareça estar no tempo, sempre volta a burilar as emoções de forma a não se suportar.
Esse paciente viveu coisas que foram profundamente neurotizadas pelo tempo e, portanto, difíceis de serem arrancadas. Marcas de um tempo, de um mundo infantil. Horrorosas, sofredoras, absurdas, incongruentes e incompreensivas. “Ninguém nunca pode imaginar o que é uma dor como essa, o senhor me entende?” As lágrimas escorriam pela sua face marcando a pele antes ressecada pelo vento e caiam no peito. O silêncio estabelecido naquele momento, dizia tudo que as palavras jamais poderiam expressar.


“Porque aquele incidente volta sempre em minha mente e tenta se fazer sempre presente?parece poema, poesia, mas é uma triste sinfonia.gostaria que não fosse assim,por que isso pra mim?
não posso esquecer, posso entender...mas não posso aceitar, não consigo aceitar...Tento disfarçar, mas no fundo é uma triste lembrança...Lembrança não corriqueira que estraga minha pequena vida passageira.mas porque?Por quê?O que isso quer me ensinar?O que isso quer me mostrar?Como posso querer viver, se não tenho motivos para me alegrar?!Gostaria de não - estarFicaria de não - ficarFugir, desaparecer sei que não resolveria...Tentar morrer não adiantaria...Mas por que?Há sempre um por que...e esse porque se parece a essência de meu serMas no fundo é só mais uma pergunta que não terá respostaOu se a resposta vier positiva Me fará olhar a vidacom olhos de esperança,Mas no fundo está sempre na lembrançaAquela cena imerecidaQue no fundo é uma ferida,um pesadelo da minha doce e amarga vida.Espero que olhe para mim e veja o que sinto quase todo o dia...Perdi a minha liberdade e ficou na minha saudade,a ternura daquela idade Que me deixou menos a vontade,com minha fidelidade,de sentir virilmentee saber que sou (não sou) potente.Ter sempre presente, aquela cena indigente,que no fundo só me trás infelicidade(s)”.

2 comentários:

  1. Triste. O mais triste é saber que este é um caso.
    Quantas pessoas vivem no silêncio de suas almas dores que parecem incuráveis. Este paciente me lembra algumas que conheço. As vezes somos tão impotentes diante da dor alheia! É bom partilhar.
    Valeu amigo.

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  2. Reinildo, é a vida... nua e crua. Sem palavras. O melhor é não dizer nada!!!

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