terça-feira, 26 de junho de 2012


FILHOS DO CORAÇÃO



Adoção. Tema complexo, delicado. Na semana passada o programa Hoje em Dia da TV Record apresentou uma série de reportagens sobre o assunto que chamaram a atenção da população brasileira. O mesmo tema está sendo abordado por Fátima Bernardes em seu novo quadro na Rede Globo.
A reportagem mostrou que duas filas a perder de vista se formam quando a questão é adoção. De um lado, milhares de crianças aguardam à espera de uma família, 5.125 crianças e adolescentes. Do outro, 28.006 pessoas aguardam a chegada de um filho. O número de famílias inseridas no Cadastro Único Nacional de Adoção é quase seis vezes maior que o número de crianças e adolescentes que aguardam na fila de adoção. A questão matemática parece de simples solução conforme expôs a professora Silvia Gussarov durante a reportagem. Ou seja, aproximadamente seis famílias para cada criança. Pronto! Resolvido o problema de ambos os lados.
Engano. O problema está longe de ser solucionado quando fazemos duas perguntas básicas. Primeira, quem são essas crianças que aguardam adoção? Segunda, quem são as famílias que desejam adotar? Somada a essas duas questões há também um problema antigo no Brasil: a burocracia pública e a escassez de profissionais para dar andamento aos processos. Como não se lembrar do livro O Processo de Frans Kafka.
Quanto às crianças e adolescentes que aguardam adoção: são crianças pobres, pardas (45,92%), negras (19,0 %) o que é um dado significativo para a reflexão do ponto de vista étnico, brancas (33,80%);  muitas apresentam alguma deficiência física ou mental; um grande número está acima da idade desejada para adoção; há  1.886 irmãos que não podem ser separados.
Quanto às pessoas que desejam adotar: em sua grande maioria são de classe média alta, casais, brancos, (20,48%) desejam crianças recém-nascidas com idade de até 2 anos, apenas (2,94 %) das crianças se enquadram nesse critério, o que significa que as crianças acima dessa idade terão maior dificuldade em encontrar uma família que a adote; as crianças acima de 7 anos de idade correspondem ao total de 4.551 (88,8%); apenas 1,31 % das pessoas cadastras aceitam crianças e adolescentes entre 10 e 17 anos de idade; 35% querem crianças brancas, o que significa que as crianças pardas e negras, que são em maior número, aguardarão no final da fila maior tempo de espera por uma adoção; isso vale também para as crianças com algum tipo de deficiência, pois estas dificilmente enquadram na preferência das pessoas cadastradas; a criança que tem irmão também encontra resistência na adoção, a lei não permite que sejam separados, 81,95% das famílias não desejam assumir a responsabilidade por mais de uma criança.
Ante os dados a conclusão é simples, porém, delicada. São muitas as exigências feitas pelas pessoas que desejam adotar. Os dados “revelam a equação da falta de esperança de uma adoção para muitas crianças.”.

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