FILHOS
DO CORAÇÃO
Adoção. Tema complexo, delicado. Na semana passada o programa Hoje em Dia da TV Record apresentou uma série de reportagens sobre o assunto que chamaram a atenção da população brasileira. O mesmo tema está sendo abordado por Fátima Bernardes em seu novo quadro na Rede Globo.
A
reportagem mostrou que duas filas a perder de vista se formam quando a questão
é adoção. De um lado, milhares de crianças aguardam à espera de uma família,
5.125 crianças e adolescentes. Do outro, 28.006 pessoas aguardam a chegada de
um filho. O número de famílias inseridas no Cadastro Único Nacional de Adoção é
quase seis vezes maior que o número de crianças e adolescentes que aguardam na
fila de adoção. A questão matemática parece de simples solução conforme expôs a
professora Silvia Gussarov durante a reportagem. Ou seja, aproximadamente seis
famílias para cada criança. Pronto! Resolvido o problema de ambos os lados.
Engano.
O problema está longe de ser solucionado quando fazemos duas perguntas básicas.
Primeira, quem são essas crianças que aguardam adoção? Segunda, quem são as
famílias que desejam adotar? Somada a essas duas questões há também um problema
antigo no Brasil: a burocracia pública e a escassez de profissionais para dar
andamento aos processos. Como não se lembrar do livro O Processo de Frans
Kafka.
Quanto
às crianças e adolescentes que aguardam adoção: são crianças pobres, pardas
(45,92%), negras (19,0 %) o que é um dado significativo para a reflexão do
ponto de vista étnico, brancas (33,80%); muitas apresentam alguma deficiência física ou
mental; um grande número está acima da idade desejada para adoção; há 1.886 irmãos que não podem ser separados.
Quanto
às pessoas que desejam adotar: em sua grande maioria são de classe média alta,
casais, brancos, (20,48%) desejam crianças recém-nascidas com idade de até 2
anos, apenas (2,94 %) das crianças se enquadram nesse critério, o que significa
que as crianças acima dessa idade terão maior dificuldade em encontrar uma
família que a adote; as crianças acima de 7 anos de idade correspondem ao total
de 4.551 (88,8%); apenas 1,31 % das pessoas cadastras aceitam crianças e
adolescentes entre 10 e 17 anos de idade; 35% querem crianças brancas, o que
significa que as crianças pardas e negras, que são em maior número, aguardarão no
final da fila maior tempo de espera por uma adoção; isso vale também para as
crianças com algum tipo de deficiência, pois estas dificilmente enquadram na preferência
das pessoas cadastradas; a criança que tem irmão também encontra resistência na
adoção, a lei não permite que sejam separados, 81,95% das famílias não desejam
assumir a responsabilidade por mais de uma criança.
Ante
os dados a conclusão é simples, porém, delicada. São muitas as exigências
feitas pelas pessoas que desejam adotar. Os dados “revelam a equação da falta
de esperança de uma adoção para muitas crianças.”.
Triste reflexao!
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