segunda-feira, 20 de agosto de 2012


O Centro da Cidade Também é dos Pretos do Rosário

 Semana passada fiz uma homenagem aos Irmãos do Rosário dos Pretos do Largo do Paissandu em São Paulo, com um fragmento de um texto de Jean-Paul Sartre. Hoje, fazendo Memória daqueles que apesar do tempo, continuam invisibilizado no centro da cidade, fazem parte da história de nossa cidade, apresento alguns depoimentos de algumas irmãs, e que mostra como a Irmandade se relaciona com a cidade. Estes depoimentos nos mostram claramente que os irmãos têm consciência de sua fragilidade frente à cidade, mas também têm ciência da força da irmandade. Quando D. Cacilda diz “já tentaram nos tirar daqui”, ela está se referido à coletividade, ao poder do grupo que juntos enfrentam as diversas situações que atinge a irmandade. Sobre esta relação, Conceição Prudência, nos diz que “nesta fase de construção e reconstrução da cidade, “por várias vezes foi tentado tirar a igreja do Largo do Paissandu”. Já quiseram tirar a irmandade de lá. Ela iria para a Barra Funda. Mas por intervenção de um prefeito, cuja mãe ajudava a irmandade que a igreja continuou onde está até hoje. O local aonde eu ouço dizer que seria a igreja da irmandade, é onde está hoje mais ou menos o hospital da Barra Funda. A estátua do Duque de Caxias é que ficaria no lugar da irmandade”.  D. Cacilda também confirma estas afirmações. Ela nos diz que: “Já tentaram nos tirar daqui. Se nós tivéssemos aceitado, tinha ido à primeira vez, para onde hoje está a estação do metrô Paraíso, bem em frente à Ortodoxa. Depois tentaram levar agente para a Rua Vitorino Camilo, também não foi. Depois ofereceram a Praça Princesa Isabel. Então agente ia ficar exatamente onde está o cavalo de Duque de Caxias. Era aí onde agente estaria”. Todavia, as transformações da cidade que não conseguiram remover a igreja do local onde ela ainda se encontra, foi gradativamente afastando para os bairros vizinhos, os irmãos, que ainda insistiam em morar no centro da cidade, para outros bairros. Os depoimentos seguintes nos mostram que a identidade com este local era tanta que valia lutar para permanecer o mais próximo possível do Largo do Paissandu. Para os irmãos, sua permanência ali, é mais que uma vitória, é uma questão de honra. De honra porque, na tradição dos seus ancestrais, os/as filhos/as devem dar continuidade aos ensinamentos de seus pais; e isto não é apenas regra, é lei. Não importa quanto humilhante era viver neste local, o que importa é não abandoná-lo. O importante é dar continuidade ao que um dia foi iniciado.




2 comentários:

  1. É MUITO INTERESSANTE CONHECER A HISTORIA POR TRAS DO CONCRETO.CONTADA PELOS SERES HUMANOS, PROTAGONISTAS ESQUECIDOS! PASSAMOS ALI E NAO NOS REMETEMOS A NADA DO QUE VOCE NOS CONTA CONCEIÇÃO! DAI AIMPORTANCIA DE TÊ-LA NESTE BLOG! DESVELAR!
    VALEU!

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  2. Estou curtindo muito todos esses relatos sobre os Irmãos do Rosário dos Pretos do Paisandu...

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