segunda-feira, 30 de abril de 2012

Despeço-me de vos sem que estejais


Despeço-me de vos sem que estejais.

Assim te deixo querida minha, alma renegada

Na sua ausência vou a caminhar pelos campos,

Perdido procurando o amanhecer que se tarda a chegar,

Nuvens escuras que cobrem o encantamento de vislumbrar-te

Lembrando o luar que outrora nos uniu em gestos oblíquos.

Despeço-me de vós sem que estejais.

Para não olhar o desencanto do olhar a desviar do meu.

Ocultando-me das lágrimas que insistem a romper o obstáculo que não às contém,

Fugindo dos infortúnios e de palavras que gritam e ecoam no céu da boca,

Transformadas em agressões pela indelicadeza da incompreensão deveras exaltada.

Despeço-me de vós sem que estejais.

Deixando o traço dos restos mortais que em mim sem querer secam,

Como folhas que no outono caem, abandonando para trás o que mais lhe brandia,

Assim como água que debaixo da ponte passa, sem que lhe digam o destino a cumprir,

Feito aves que no atordoamento de uma tempestade, voam de olhos serrados para os proteger.

Despeço-me de vós sem que estejais.

Na casa vazia que o eco anuncia o vácuo do interior meu (e seu),

Numa gota que cai soando como sinos das mais elevadas catedrais,

Anunciando o momento futuro que a de vir e partir sem me esperar,

Não importando-se com as consequências difusas da nova vida de desventura.

Da repetição dos passos que para a saída me levam sem que um esforço sequer eu faça.

Despeço-me de vós sem que estejais.

Na imagem de seu sorriso de alegria quando te entregava ramalhetes de margaridas.

Lembrando-se das palavras cálidas sussurradas no ouvido, ditas só para ti.

Brigando com um mundo que a fazia atracar-se pelos melhores desejos de humanidade.

Silenciando o tempo que parava para ouvir sua respiração, ofegante e linda.

Despeço-me de vós sem que estejais para enfim poder partir

Para buscar a vida que quase não queria viver

Mas para abraça-la da forma inteira com a intensidade do universo e,

Perder-me-ei dentro dela em busca da felicidade a mim prometida.

Seja como for, agora, decidido, despeço-me de vós.

Quando chegares, sabes que não mais estarei.




10 comentários:

  1. "Seja como for, agora, decidido, despeço-me de vós.
    Quando chegares, sabes que não mais estarei." Falou e disse! Adorei! Você ultimamente tem sido tão intenso...

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  2. Meu deus ....que lindo...
    É incrível o quanto a alma derrama gotas de sua graça...seja de alegria, seja de tristeza...a alma se espalha pelo mundo com um vento que o toma...leva-a para lugares frios e quentes...mas volta para um mesmo coração, que a aguarda em sua espera...

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. POR ONDE ME LEVAR O VENTO

    se Deus me desse o condão
    de agarrar por minha mão
    o melhor que a vida tem
    mil pedaços guardaria
    desta forma fugidia
    de existir, de ser alguém.

    é tanto tempo perdido
    é quase sangue vertido
    tempo ido em correria
    que às vezes sigo lá fora
    perguntando onde mora
    ou se demora a utopia.

    eu quero abrir a cortina
    que me faz desde menina
    ter por sina o desalento
    e assim ganhar a coragem
    para enfim seguir viagem
    por onde me levar o vento.

    se Deus me der o condão
    de arrancar do coração
    tantos medos, tantas mágoas
    irei de cabeça erguida
    ao sabor da minha vida
    merguhar nas suas águas.

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    1. Oi Alline!
      É de sua utoria este poema!?
      Bem que você oderia escrever uma vez por semana neste Blogg heim!
      Cheiro

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  5. Esse é o vídeo deste fado:
    http://www.youtube.com/watch?v=vFPovJforuo

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  6. Essa cantei por muito tempo para expurgar uma Dor de Cotovelo...

    http://www.youtube.com/watch?v=67a-R8--HTY

    UM AMOR QUASE MORTAL

    Quis soltar o grito que me queima
    Um lamento que em mim teima
    Em não ficar calado.
    Quis soltar a mágoa, a ansiedade
    Dos dias da verdade
    Tão diferentes do passado.

    E agora que soltei o meu grito
    Não menos triste me sinto
    Que o cantar não leva a dor,
    Pois o meu canto não muda o destino
    De viver em desatino
    Eu, a vida e este amor.

    Quis viver um amor quase imortal
    Que não me levasse a mal
    Ter tamanho coração.

    Fui amada na ilusão de quem não o era
    Talvez por quem tanto dera
    Sem saber que era em vão
    E o meu pecado é ainda acreditar
    Ser possível querer e amar
    Dando ouvidos à razão.

    Se o amor é louco como dizem por aí,
    Eu que a mim sempre menti,
    Vou escutar meu coração.

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  7. Gilson, essa é pra vc!!
    http://www.youtube.com/watch?v=5kvIq2WUEPc&feature=related
    NO TEU POEMA

    No teu poema
    Existe um verso em branco e sem medida
    Um corpo que respira, um céu aberto
    Janela debruçada para a vida.
    No teu poema
    Existe a dor calada lá no fundo
    O passo da coragem em casa escura
    E aberta, uma varanda para o Mundo.

    Existe a noite
    O riso e a voz refeita à luz do dia
    A festa da Senhora da Agonia
    E o cansaço do corpo que adormece em cama fria.
    Existe um rio
    A sina de quem nasce fraco ou forte
    O risco, a raiva, a luta de quem cai ou que resiste
    Que vence ou adormece antes da morte.

    No teu poema
    Existe o grito e o eco da metralha
    A dor que sei de cor mas não recito
    E os sonos inquietos de quem falha.
    No teu poema
    Existe um cantochão alentejano
    A rua e o pregão de uma varina
    E um barco assoprado a todo o pano.

    Existe a noite
    O canto em vozes juntas, vozes certas
    Canção de uma só letra e um só destino a embarcar
    O cais da nova nau das descobertas.
    Existe um rio
    A sina de quem nasce fraco, ou forte
    O risco, a raiva e a luta de quem cai ou que resiste
    Que vence ou adormece antes da morte.

    No teu poema
    Existe a esperança acesa atrás do muro
    Existe tudo mais que ainda me escapa
    E um verso em branco à espera... do futuro.

    ( lyrics: José Luís Tinoco )

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    1. Obrigado Alline!
      Parabens pela sensibilidade!
      APAREÇA EM CASA PARA TOMARMOS AQUELE CHÁ!
      Cheiro de Erva doce!

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  8. Que sublime!
    Como gosto de poemas amargurados!Tristes!
    Fico mais feliz diante de um poema triste!

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