Pretos
do Rosário: os negros que sabiam ser negros
O comentário de algumas Irmãs sobre a
presença dos Pretos do Rosário e o uso dos serviços oferecidos pelo poder
público à sociedade da época, na região onde está sua igreja na segunda metade
do século XX, nos ajuda a entender porque o interesse em tirar e invisibilizá-los
no Centro Velho da cidade. Outro dado interessante
nestes comentários é a descrição desta área, sua importância política e social,
o que podemos perceber através da beleza do equipamento arquitetônico desta
região ainda hoje, como por exemplo, as salas de cinema, os teatros e praças
comprovam os relatos que veremos a seguir. D. Nilza, uma das irmãs mais antigas
na Irmandade, nos diz que “não podíamos frequentar esta área”. Entrávamos na
igreja e da igreja tínhamos que ir para casa. (...) Pois neste lugar tinha
muito teatro, tínhamos ali o pessoal da polícia – a Força Pública na Rua
Brigadeiro Tobias. Tinha o Circo Seico, no Anhangabaú, tinha o teatro da Bibi
Ferreira. Então era uma coisa que nós não tínhamos acesso, nós não
participávamos mesmo, porque inclusive na igreja era chamada atenção se nós
fôssemos. Aos irmãos era proibido participar. Ás vezes agente ia, mas à noite,
escondidinho. (...) E depois tinha que ir embora. Não podiam usufruir de nada
que existia naquela região. Ainda sobre este assunto, Roseli afirma que “os
irmãos não frequentavam este local quando ele era importante e imponente”. Só
viam aqui quando iam à igreja. A relação que eles mantinham com este local era
muito ruim. Era muito difícil; pois era uma relação de preconceito. Por isto é
que os negros do rosário tiveram muita preocupação com a questão da aparência;
com o fato de estarmos muito bem. Porque quando viam para cá não eram bem
vistos. Por isto mesmo queriam tirar a igreja do rosário daqui desta região que
era muito valorizada na ocasião. “Era muito difícil a relação dos negros do
rosário com todo o resto de São Paulo”. No entanto, D. Cacilda nos diz que “os
irmãos do rosário geralmente não freqüentava este local no tempo do seu auge
cultural. Porque naquele tempo os negros eram mais empregados. Nunca deixamos
de ser prestigiados pela elite. Pelo contrário, mesmo agente que trabalhava,
quando diz que pertence à igreja do rosário, era sempre tratado de outra forma.
Porque sabia que era negro social, mas era negro que tinha prestígio consigo
próprio. Eram negros que sabiam ser negros”. “Eram negros que sabiam ser negros”. É frase como esta, ou mais que
a frase, é pessoa como esta, que sabem ser negras/os que fortalecem a caminhada
da Irmandade nestes 300 anos de existência no centro velho de São Paulo.
Querida Conceição!
ResponderExcluirRegistro valioso!
É tao inadmissivel pensar que os negros eram banidos da vida cultural deste centro! A cultura brasileira é construida a partir de raizes negras africanas, como sabemos, no entanto, lamentável saber que as relações de classe se constituem elemento mais poderoso quando tratamos de oportunidades.
Sorriso negro
Abraço negro
tras felicidade!